Produção de milho na África do Sul: país é um dos mais bem colocados no ranking da Fundação Mo Ibrahim (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h43.
Maputo - A África melhora na economia e no tratamento de saúde, mas ainda derrapa na defesa dos direitos políticos e na estabilidade legal. A conclusão está na versão 2010 do Índice da Fundação Mo Ibrahim, divulgado simultaneamente em Acra (Gana), no Cairo (Egito), em Dakar (Senegal), Joanesburgo (África do Sul) e Nairobi (Quênia).
As Ilhas Maurício, Ilhas Seychelles, Botsuana, Cabo Verde e a África do Sul são os países mais bem posicionados no ranking. O Chade, a República Democrática do Congo e a Somália estão nos últimos lugares. Angola, a Libéria e o Togo foram os que mais subiram com relação à medição do ano passado. A Eritreia e Madagascar, os que mais caíram.
Criado em 2007, o Índice de Governação da Fundação Mo Ibrahim mede a distribuição de bens e serviços públicos aos cidadãos dos 53 países africanos, levando em conta 88 indicadores, como a corrupção, o fornecimento de energia elétrica e água potável, a gestão pública, paridade de gênero, o acesso à educação, a segurança jurídica e pessoal e o respeito aos direitos humanos. Os indicadores recebem notas de 1 a 100. A média determina a posição dos 53 países no ranking do continente.
O índice médio do continente permanece em 49 pontos, como nos anos anteriores. O primeiro colocado, as Ilhas Maurício, tem 82. O último, a Somália, somou apenas 8.
"O quadro é misto", diz o idealizador do índice, o empresário sudanês Mo Ibrahim, em um comunicado. "Enquanto muitos cidadãos estão mais saudáveis e com melhor nível de educação, com maior acesso a oportunidades econômicas do que cinco anos atrás, há muitos que se encontram menos seguros do ponto de vista físico e menos independentes politicamente."
Segundo Ibrahim, a velocidade de mudança na África em termos econômicos é quatro vezes maior que na Europa. Um exemplo, lembra ele, é o crescimento exponencial no acesso à telefonia celular. Mas, acrescenta o empresário, muitos países ainda vivem guerras civis, "um problema que a África precisa deixar para trás".
Os critérios são agrupados em quatro categorias (oportunidades econômicas sustentadas, desenvolvimento humano, segurança e Estado de Direito, participação e direitos humanos). Nas duas primeiras, houve melhora no índice geral, sem que fossem verificadas quedas significativas de nenhuma país: 41 nações registram melhorias econômicas, sendo dez significativamente. Mas nos dois últimos grupos, ligados aos direitos individuais e coletivos, viu-se um declínio de 35 países - cinco, de forma mais visível.
"As discrepâncias entre a governação política e a gestão econômica são insustentáveis a longo prazo", afirma Salim Ahmed Salim, do conselho da fundação e ex-secretário-geral da Organização da Unidade Africana. "Se a África quer continuar a progredir, precisamos prestar atenção urgentemente aos direitos e à segurança do nosso povo", afirmou no comunicado.
A Fundação Mo Ibrahim também costuma entregar anualmente um prêmio de reconhecimento a líderes africanos democraticamente eleitos. Em 2010 não houve vencedor, porque o júri considerou que ninguém fazia jus. O primeiro a receber a condecoração foi o ex-presidente de Moçambique Joaquim Chissano, em 2007.
Moçambique ficou na 20ª posição do índice este ano, com 53 pontos - acima da média continental (49), mas ligeiramente abaixo dos demais da Região Sul (57).
Patrono da instituição, Mo Ibrahim foi estudar engenharia elétrica no Reino Unido em 1974. Dez anos depois, era diretor técnico da empresa de celular BT Cell Net, mas sentia-se desmotivado.
Retornou ao Sudão, onde nasceu, e criou a própria empresa de telefonia na sala de jantar de sua casa. Fez fortuna vendendo serviços móveis na África, onde as grandes empresas relutavam em entrar, alegadamente por causa do mercado pouco atrativo e da corrupção. Ele defende que "conectar" o continente é uma grande arma contra corruptos. Hoje, Mo tem um patrimônio avaliado em US$ 2,5 bilhões.
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