ONU: seu documento revelou que os palestinos estão submetidos a uma "fragmentação estratégica" que permite a Israel impor uma "dominação racial" (Jamal Saidi/Reuters)
AFP
Publicado em 17 de março de 2017 às 16h29.
Uma funcionária da ONU apresentou nesta sexta-feira sua renúncia depois que o secretário-geral da organização pediu que arquivasse um relatório em que ela acusa Israel de impor aos palestinos condições similares às do regime do apartheid sul-africano.
"O secretário-geral da ONU me pediu ontem à noite que retirasse (o relatório), eu solicitei que ele repensasse sua decisão, mas ele insistiu. Por isso, apresentei minha renúncia à ONU", anunciou em uma coletiva de imprensa em Beirute Rima Khalaf, secretária-executiva da Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia Ocidental (CESPA), comissão autora do documento.
Na quarta-feira, os Estados Unidos, principais aliados de Israel, pediram a retirada do relatório, que concluiu que o Estado hebreu é "culpado de políticas e práticas que constituem um crime de apartheid".
"Supúnhamos, é claro, que Israel e seus aliados exerceriam pressões enormes sobre o secretário-geral da ONU para que desaprovasse o relatório e que pediriam que o retirasse", indicou Khalaf em sua coletiva de imprensa.
O documento revelou que os palestinos estão submetidos a uma "fragmentação estratégica" que permite a Israel impor uma "dominação racial" com leis muito diferentes em função das regiões.
"Israel é culpado de impor um regime de apartheid ao povo palestino, o que corresponde a cometer um crime contra a humanidade", prosseguiu.
A CESPAO, com sede em Beirute, é composta por 18 países árabes, entre eles o Estado Palestino como membro com todas as suas funções, segundo o site da comissão, cujo objetivo é promover o desenvolvimento e reforçar a cooperação.
O porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, disse nesta semana que "o relatório, assim como aparece, não reflete as posturas da secretaria-geral" e foi feito sem consultar o secretariado das Nações Unidas.
Richard Falk, um ex-relator especial da ONU para os direitos humanos dos palestinos, é um dos autores do documento.
"O fato desta propaganda anti-Israel vir de um organismo cujos membros quase universalmente não reconhecem Israel não chama a atenção", disse a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley.
Nikki Haley descreveu Falk como "um homem que diversas vezes fez comentários parciais e profundamente ofensivos sobre Israel e que apoiou teorias da conspiração ridículas".
Também acusou a ONU de ser parcial com Israel e se comprometeu como representante do presidente americano, Donald trump, a defender Israel dentro da organização.
O embaixador israelense, Danny Danon, condenou o documento e o descreveu como uma "tentativa de manchar e marcar falsamente a única democracia verdadeira do Oriente Médio criando uma falsa analogia".