Fukushima: após a explosão daquela crise atômica que atraiu a atenção de todo o planeta, foi possível "estabilizar a segurança da usina" (Toru Hanai / Reuters)
Da Redação
Publicado em 10 de fevereiro de 2016 às 10h37.
Okuma - Quase cinco anos depois do acidente nuclear da central japonesa de Fukushima, o complexo processo de desmantelamento da usina chegou a "10%", disse nesta quarta-feira o principal responsável, Akira Ono.
Proprietária da central, a Tokyo Electric Power (TEPCO) realizou "progressos visíveis" na gestão das instalações nucleares desde que estas ficaram devastadas pelo terremoto e pelo tsunami de 11 de março de 2011, segundo Ono, que também admitiu que há pela frente "riscos" e "enormes desafios".
Após a explosão daquela crise atômica que atraiu a atenção de todo o planeta, foi possível "estabilizar a segurança da usina", afirmou o diretor durante uma visita de jornalistas a Fukushima Daiichi, localizada no litoral oriental do Japão.
Ono destacou a retirada no final de 2014 de todo o combustível nuclear do reator 4, o que foi menos afetado pela catástrofe natural, assim como o processamento de toda a água altamente radioativa que era acumulada na usina.
Estes passos, unidos a outras medidas para controlar as fugas de líquido radioativo e os preparativos para desmantelar as acidentadas unidades 1, 2 e 3 da usina, fazem com que Ono se mostre "um pouco satisfeito" pelo que foi cumprido até este ponto.
Mas a TEPCO enfrenta agora a etapa mais difícil da luta para deixar para trás o pior acidente nuclear desde o de Chernobyl (Ucrânia) em 1986: a retirada das barras de combustível gasto e fundido dos três citados reatores, algo que até o momento nunca foi realizado nestas condições.
"Não temos um conhecimento preciso do estado dos vasos dos reatores, portanto estamos perante um desafio sem precedentes", admitiu Ono, que acrescentou que a TEPCO "tenta idealizar soluções" que sejam possíveis hoje em dia e outras que talvez resultem viáveis tecnicamente em um futuro.
A TEPCO acredita nos avanços da robótica para as tarefas mais delicadas, perante a impossibilidade de que sejam desempenhadas por trabalhadores humanos devido aos níveis mortais de radiação dentro dos vasos dos reatores.
Marionetes manuseadas por controle remoto e equipadas com câmeras já foram introduzidas no primeiro vaso de contenção do reator 1 para analisar as condições ambientais e de radiação, e para localizar o combustível nuclear fundido.
A TEPCO, várias empresas tecnológicas japonesas e centros estatais trabalham atualmente em outros protótipos de robôs especialmente desenhados para uma missão similar nos reatores 2 e 3, explicou o diretor da usina.
Se o processo avançar dentro do previsto, por volta de 2017 começaria a ser retirado combustível dos três reatores, uma tarefa acompanhada de outras medidas de segurança como a instalação de coberturas de proteção para evitar que se dispersem materiais radioativos.
O desmantelamento da central irá durar "entre 30 e 40 anos", segundo o diretor da usina.
Além disso, a TEPCO enfrenta outro problema de caráter mais urgente: o acúmulo de água radioativa na usina, contaminada com isótopos nucleares após ser usada para refrigerar os reatores ou após ser filtrada desde os aqüíferos subterrâneos até as instalações atômicas.
A companhia acaba de concluir a construção de um muro de gelo subterrâneo destinado a ser parte da solução, enquanto estuda o que fazer com os 750 mil tanques instalados na usina para armazenar milhões de toneladas água contaminada, e cuja quantidade aumenta diariamente.
O custo total do processo de desmantelamento é estimado entre 1 e 2 trilhões de ienes (entre 7,7 bilhões e 15,4 bilhões de euros), que servirão principalmente para pesquisa e desenvolvimento da tecnologia necessária, segundo detalhou o porta-voz da empresa, Yuichi Okamura.
A isso é preciso acrescentar 5,8 trilhões de ienes (44,8 bilhões de euros) até agora em compensações à população que foi evacuada por causa da catástrofe, assim como "dezenas de trilhões de ienes" que custou ao Estado substituir o uso de energia nuclear por combustíveis fósseis, acrescentou o porta-voz.