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Francisco: um jesuíta moderado com experiência pastoral

O papa Francisco é um homem tímido e de poucas palavras, que se caracteriza por um estilo de vida sem qualquer tipo de ostentação

Papa Francisco quando era cardeal (AFP)

Papa Francisco quando era cardeal (AFP)

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Da Redação

Publicado em 14 de março de 2013 às 00h09.

O novo Papa, Jorge Bergoglio, é um jesuíta argentino de 76 anos, austero e de tendência moderada, com uma ampla experiência pastoral.

Arcebispo de Buenos Aires e primaz da Argentina, é um homem tímido e de poucas palavras, que goza de grande prestígio entre seus fiéis que apreciam sua total disponibilidade e estilo de vida sem ostentação.

"É um homem muito pastor, próximo ao povo. Escolheu o nome por se remeter a São Francisco de Assis, que renovou a Igreja e que foi o homem da humildade, da pobreza e do diálogo", revelou seu ex-porta-voz Gustavo Boquín.

Mas como religioso proveniente da Companhia de Jesus, uma ordem combativa nascida no século XVI para enfrentar a reforma protestante, Bergoglio não evitou a confrontação política.

"Vivemos situações de pobreza escandalosa, de doenças, e tudo nos leva a uma falta de justiça", disse em uma homilia durante o governo do falecido presidente Néstor Kirchner (2003-2007), marido da atual mandatária, Cristina Kirchner, reeleita em 2011.

Apesar dos atritos que teve com seu governo, Bergoglio homenageou Néstor Kirchner após sua morte por infarto em 2010, quando disse que "seria uma ingratidão se o povo esquecesse este homem".

O mal-estar por suas duras homilias no solene Tedeum nas celebrações do Dia da Independência (9 de julho de 1816) fez com que os Kirchner levassem a cerimônia a templos provinciais para não dividirem o mesmo recinto com ele.

Mas a relação melhorou com Cristina Kirchner, que bloqueou qualquer projeto de implantar o aborto na Argentina, atitude que lhe rendeu um reconhecimento tácito da Cúria.

"É um homem audaz. Acorda muito cedo para rezar. Viaja de ônibus e tem boa comunicação com o povo", disse Boquín.

Mas o conflito voltou ao primeiro plano quando o Governo peronista impulsionou a lei do casamento homossexual.

"Devemos defender o bem inabalável do matrimônio e a família", criticou do púlpito.

Em uma de suas últimas homilias, pediu a construção de "uma Igreja de portas abertas", outro gesto de sua inclinação por reformas que recuperem o catolicismo mundial.


Bergoglio nasceu no dia 17 de dezembro de 1936 no seio de uma família modesta do bairro popular de Flores, na capital argentina, filho de um funcionário ferroviário de origem piemontesa e de uma dona de casa.

"Nos confessionários da igreja de São José de Flores, aos 17 anos, Bergoglio teve uma revelação divina para seguir o sacerdócio", disse à AFP o pároco, padre Gabriel, que tem uma relação pessoal com o novo papa.

Bergoglio frequentou a escola pública, onde se formou como técnico de química, e aos 22 anos se uniu à Companhia de Jesus, onde obteve uma licenciatura em Filosofia.

Depois de entrar para o ensino privado, começou seus estudos de Teologia e foi ordenado sacerdote em 1969.

Aos 36 anos, em 1973, foi designado responsável nacional dos jesuítas argentinos, cargo que desempenhou durante seis anos.

Foi nos anos difíceis da ditadura argentina (1976-83), que Bergoglio precisou manter a qualquer custo a unidade do movimento jesuíta - invadido pela Teologia da Libertação - sob o lema de "manter a não politização da Companhia de Jesus", segundo seu porta-voz Guillermo Marcó.

Setores da Igreja sofreram perseguições e inclusive foram assassinados dois bispos, vários sacerdotes e laicos e seminaristas desapareceram durante a ditadura (1976-83).

Depois, viajou à Alemanha para obter seu doutorado e em seu retorno retomou a atividade pastoral como simples sacerdote em uma paróquia provincial.

Em maio de 1992, João Paulo II o nomeou bispo auxiliar de Buenos Aires e começou a escalar rapidamente a hierarquia católica da capital: foi vigário episcopal em julho deste ano, vigário-geral em 1993 e arcebispo coadjutor com direito de sucessão em 1998.


Converteu-se posteriormente no primeiro jesuíta primaz da Argentina e, em fevereiro de 2001, vestiu finalmente a púrpura cardinalícia.

De acordo com a imprensa argentina, Bergoglio figurou entre os mais votados no conclave de 2005, que elegeu Joseph Ratzinger como sucessor de João Paulo II.

O arcebispo goza de prestígio geral por seus dotes intelectuais e dentro do Episcopado argentino é considerado um moderado, a meio caminho entre os prelados mais conservadores e a minoria progressista.

Em um país de maioria católica, se opôs de forma tenaz em 2010 à aprovação da lei que consagrou o casamento homossexual, a primeira na América Latina.

"Não sejamos ingênuos: não se trata de uma simples luta política; é a pretensão destrutiva ao plano de Deus", disse Bergoglio pouco antes da sanção da lei.

Também se opôs a uma mais recente lei de identidade de gênero que autorizou travestis e transsexuais a registrar seus dados com o sexo escolhido.

Apesar de sua meteórica carreira na hierarquia católica, continua sendo um homem muito humilde, acrescentou o padre Gabriel. Sua rotina começa às 4 e meia da manhã e termina às 21h00.

É um grande leitor dos escritores argentinos Jorge Luis Borges e Leopoldo Marechal e do russo Fiodor Dostoievsky, amante da ópera e fã do clube de futebol San Lorenzo, curiosamente fundado por um sacerdote.

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