Soldados franceses no Mali: em Timbuktu, aos gritos de "Mali, Mali, Mali", a multidão agitava pequenas bandeiras francesas e malinenses na passagem dos militares (Joe Penney/Reuters)
Da Redação
Publicado em 28 de janeiro de 2013 às 20h41.
Timbuktu - Soldados franceses e malineses entraram nesta segunda-feira na cidade histórica de Timbuktu, no norte do Mali, em meio a manifestações de alegria de seus habitantes, após meses de ocupação por islamitas armados, que queimaram um prédio contendo preciosos manuscritos antes de fugir.
"Estamos prestes a vencer esta batalha", declarou em Paris o presidente francês, François Hollande, afirmando: "Quando eu digo nós, é o Exército malinense, são os africanos apoiados pelos franceses".
Em Timbuktu, aos gritos de "Mali, Mali, Mali", a multidão agitava pequenas bandeiras francesas e malinenses na passagem dos militares, constatou um jornalista da AFP.
Mahamane, de cerca de 20 anos, se disse aliviado com a chegada das forças de Mali e França após meses de "sofrimento" e de "chicotadas" desferidas pelos islamitas armados.
Timbuktu, cidade histórica do Islã na África Subsaariana, situada 900 km a nordeste de Bamaco, foi retomada graças a uma ação conjunta, terrestre e aérea, e à incursão de paraquedistas na periferia, antes da entrada de uma coluna de soldados franceses e malinenses na cidade nesta segunda.
Mas os testemunhos sobre a destruição de preciosos manuscritos se multiplicam em Timbuktu, que foi capital intelectual e espiritual do Islã na África entre os séculos XV e XVI.
Uma fonte malinense de segurança indicou que uma "construção que abrigava manuscritos foi queimada".
O prefeito de Timbuktu, Halley Ousmane, que estava em Bamaco, confirmou: "O centro Ahmed Baba, onde estão manuscritos valiosos, foi incendiado pelos islamitas. É um verdadeiro crime cultural".
Alguns manuscritos de Timbuktu datam da era pré-islâmica. O Instituto de Altos Estudos e de Pesquisas Islâmicas Ahmed Baba abriga entre 60.000 e 100.000 manuscritos, segundo o Ministério malinense da Cultura.
De acordo com moradores, os islamitas fugiram depois do início dos ataques aéreos franceses há alguns dias.
Cerca de 3.500 soldados franceses e 1.900 soldados africanos, principalmente chadianos e nigerinos, estão mobilizados ao lado dos homens do Exército malinense.
A operação em Timbuktu foi realizada dois dias depois da retomada de Gao, cidade mais importante do norte do Mali e um dos redutos dos combatentes islamitas, 1.200 km a nordeste de Bamaco.
Os combates em Gao deixaram 25 mortos entre os islamitas nesse final de semana, indicou nesta segunda à noite o Estado-Maior das Forças Armadas francesas.
Após Gao e Timbuktu, as atenções se voltam agora para Kidal, no extremo nordeste malinense, perto da fronteira com a Argélia, a 1.500 km de Bamaco.
Em Kidal, os rebeldes tuaregues do Movimento Nacional pela Libertação de Azawad (MNLA) e dos dissidentes de um grupo islamita afirmaram ter tomado o controle da região.
Os autonomistas tuaregues asseguraram que não querem entrar em confronto com o Exército francês nem com a força africana de intervenção, mas que vão "proteger as pessoas dos abusos do Exército do Exército malinense".
A reconquista do norte do Mali suscita temores de ações de vingança contra os islamitas, que cometeram diversos crimes em nome da sharia (lei islâmica): amputações, apedrejamentos, execuções, e em Timbuktu, a destruição de diversos mausoléus de santos muçulmanos.
A ONG Human Rights Watch (HRW) pediu nesta segunda-feira às autoridades malinenses a tomada "de medidas imediatas" para "proteger todos os malinenses de represálias", alertando para "as tensões interétnicas" entre árabes e tuaregues, associados aos "terroristas", e negros, majoritários no Mali.
A França também anunciou nesta segunda-feira ter recebido ameaças diretas "de grupos terroristas nigerianos" em represália por sua intervenção no Mali e aconselhou formalmente seus cidadãos a não viajar para o norte da Nigéria.