Calais: Béatrice ajudou iraniano que vivia no acampamento conhecido como "A Selva" (Christopher Furlong/Getty Images)
AFP
Publicado em 10 de junho de 2017 às 17h02.
Béatrice Huret, uma ex-simpatizante da extrema-direita e viúva de um policial, confessa não se arrepender de nada. Ajudou "por amor" o imigrante iraniano Mojtar a entrar em território britânico, e será julgada por isso.
Na madrugada do dia 11 de junho de 2016, em uma praia, Béatrice Huret acalentou Mojtar em seus braços. Após passar oito meses no acampamento de Calais, ao norte da França, esse iraniano partia com dois refugiados em uma pequena embarcação em direção à Inglaterra.
Ela os ajudou a comprar o barco na internet, além de organizar a viagem. "Se eu não tivesse feito isso, eles teriam achado outra pessoa para fazê-lo. Era o objetivo deles, e não pude fazer nada para fazê-los mudar de ideia", ressalta ela, em sua casa a 25 km de Calais.
Sua história de amor teve início em fevereiro de 2015. A ex-auxiliar de enfermagem conheceu a 'selva' de Calais por coincidência, quando deu carona a um jovem sudanês até a entrada do campo de refugiados.
"Me incomodou ver todas aquelas pessoas caminhando em meio ao barro", lembra ela.
A 'selva', na qual viviam entre 6 a 8.000 imigrantes em condições insalubres com a esperança de ir para a Inglaterra, foi desmantelada em novembro de 2016 pelas autoridades francesas.
Béatrice Huret tornou-se colaboradora, e um ano mais tarde viu pela primeira vez Mojtar. Ele foi um dos manifestantes iranianos que se revoltou contra o fechamento de parte do acampamento.
"Meu inglês se limitava a 'hello, thank you, goodbye', por isso não falei com ele imediatamente. Ele que levantou-se para me trazer chá, pareceu-me gentil, tranquilo, e seu olhar... foi paixão à primeira vista", conta ela enquanto fuma um cigarro atrás do outro.
Um amor 'Google tradutor'
Passados dois meses, um outro colaborador pediu a Béatrice Huret para alojar Mojtar, que planejava ir até a Inglaterra de caminhão. Ela aceitou, o plano fracassou e Mojtar acabou ficando um mês na casa dessa mulher de 44 anos, que vive com a sua mãe, de 76, e seu filho Florian, de 19. "Nossa história de amor começou nessa época, com a ajuda do Google tradutor", diz.
Não foi fácil. Antes ela apoiava o partido francês de extrema-direita Frente Nacional (FN) e foi casada com um policial durante 20 anos.
Em sua época de casada, trabalhava à noite como auxiliar de enfermagem em uma casa de idosos, cuidava do filho, dormia um pouco, fazia as tarefas domésticas... "Tinha uma vida comum, votava pela Frente Nacional, assim como meu marido", reconhece.
Seu atual namorado, de 37 anos, era professor da língua persa no Irã. Agora vive em Sheffield, na Inglaterra, onde conseguiu um visto de trabalho. A cada dois fins de semana, ela vai visitá-lo. Seu inglês melhorou: "Entendo tudo, mas continuo tendo dificuldade para falar", diz, sorrindo.
Dois meses após a viagem de Mojtar rumo à Inglaterra, Béatrice Huret foi convocada a depor na delegacia aonde o seu ex-marido trabalhava. "Disse-lhes toda a verdade porque não acreditava ter feito nada de ilegal", admite.
Ela irá a julgamento no dia 27 de junho, por "ajudar na entrada, circulação e estadia irregular de um estrangeiro na França". Corre o risco de ser sentenciada a dez anos de prisão.