Membro do exército da Síria Livre em Alepo: Hollande esperará os relatórios dos inspetores da ONU (Muzaffar Salman/Reuters)
Da Redação
Publicado em 1 de setembro de 2013 às 14h06.
Paris - A França dá como certo que o regime de Bashar al Assad utilizou armas químicas no dia 21 de agosto e se prepara política e militarmente para uma possível intervenção para 'punir' junto com os Estados Unidos o governo da Síria, uma guerra que dois de cada três franceses condenam.
O primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, convocou para amanhã uma reunião com os ministros das Relações Exteriores e de Defesa e os representantes políticos da Assembleia Nacional, o Senado e a oposição, um prelúdio do debate sem votação sobre a Síria que será realizado na quarta-feira no Parlamento.
Segundo a Constituição francesa, o chefe de Estado, François Hollande, não precisa da autorização dos parlamentares para envolver o país em uma guerra, mas o governo procura obter o maior consenso possível perante uma intervenção à qual se opõem 64% dos franceses, segundo uma pesquisa divulgada neste fim de semana.
Antes de aderir à ofensiva, Hollande esperará os relatórios dos inspetores da ONU e, sobretudo, a decisão do Congresso dos Estados Unidos, ao qual o presidente americano, Barack Obama, consultará a partir do próximo dia 9.
Apesar de os parlamentares britânicos terem rejeitado na quinta-feira passada a participação do Reino Unido no ataque e de a Alemanha ter descartado colaborar, Paris continua tentando formar uma ampla coalizão que apóie a ofensiva 'dissuasória', que Hollande justifica para 'sancionar uma violação monstruosa dos direitos humanos'.
Além disso, o eventual veto da Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas obrigaria os Estados Unidos e a França a lançar o ataque à margem da ONU, um extremo que 47% dos franceses rejeitam, segundo a pesquisa do instituto BVA que vincula essa postura com a Guerra do Iraque de 2003, à qual a França se opôs.
Para convencer à opinião pública francesa e internacional que é necessário tomar medidas contra Damasco, os serviços secretos franceses publicarão nos próximos dias documentos que provam que a Síria possui até 1.000 toneladas de armas químicas e tóxicas, como gases sarin, mostarda e VX, e que utilizou esses arsenais em 21 de agosto em um subúrbio da capital.
A esses bombardeios, por meio de foguetes Grad, se seguiram nos dias seguintes 'múltiplos ataques de artilharia' para eliminar as provas que os inspetores das Nações Unidas tentavam obter, segundo os relatos antecipados hoje pelo 'Le Journal du Dimache'.
Segundo as informações com as quais a espionagem francês conta, a Síria possui 'uma das maiores reservas operativas do mundo' desse tipo de armamento, proibido pela Convenção sobre Armas Químicas de 1993, assinada por 189 países, mas não pela Síria.
Assad, de acordo com o jornal francês, conta ainda com mísseis Scud com um alcance de 300 a 500 quilômetros, mísseis M600 e SS-21, bombas aéreas e foguetes de artilharia hábeis para lançar armas químicas.
Enquanto prepara sua estratégia de comunicação, a França já iniciou os preparativos bélicos para dar uma resposta 'proporcional e firme' contra Damasco, segundo palavras de Hollande.
De acordo com a revista 'Le Point', o exército francês deslocou ao litoral da Síria a fragata Chevallier-Paul, cuja missão seria proteger aviões e submarinos franceses e americanos que participariam da operação.
'Seus meios de monitoramento darão à França capacidade autônoma para avaliar a situação', declarou um oficial francês ao jornal 'Le Monde'. O porta-aviões Charles de Gaulle, joia da marinha francesa, chegará até a região em três dias, se for necessário.
A França não conta com mísseis Tomahawk capazes de atingir alvos a 1.000 quilômetros de distância, como os Estados Unidos, mas pode equipar sua frota de caças Rafale com mísseis de alta precisão SCALP-EG, com um alcance de 300 quilômetros e utilizados pela primeira vez na guerra da Líbia, em 2011.
Segundo o 'Le Monde', os Rafale franceses atuariam no litoral sírio, enquanto os Tomahawk americanos seriam usados em alvos no interior do país.
Com isso, se buscaria dar apoio aéreo aos rebeldes em uma operação de duração limitada, embora o único precedente bem-sucedido de um ataque similar aconteceu em 1986, quando os EUA bombardearam a Líbia como resposta ao suposto programa nuclear do país e ao envolvimento de seu então líder Muammar Kadafi em um atentado terrorista contra soldados americanos, lembrou o coronel francês Michel Goya em seu blog 'La voie de l'épée'.
'Da mesma forma como em Beirute, em 1983, o Hezbollah pode, por exemplo, atacar facilmente os 670 soldados franceses ainda presentes no Líbano' dentro da missão da ONU (Finul), disse Goya.