Homenagens a policial morto em ataque terrorista na França: país continua em alerta após série de atentados (Regis Duvignau/Reuters)
AFP
Publicado em 24 de março de 2018 às 16h38.
O presidente francês, Emmanuel Macron, homenageou o policial que se ofereceu como refém durante o ataque islamita e que faleceu neste sábado (24), elevando para quatro o número de óbitos.
Na casa do agressor, abatido durante a operação policial, os investigadores encontraram notas que faziam "alusão ao Estado Islâmico", o grupo extremista que reivindicou o ataque ocorrido no sul da França, informou uma fonte judicial.
Na manhã deste sábado o tenente-coronel Arnaud Beltrame, de 45 anos, casado, sem filhos, faleceu.
"Morreu como um herói", saudou o presidente Macron.
Demonstrou "uma coragem e abnegação excepcionais", acrescentou o presidente, em um comunicado.
"Morto pela pátria. A França jamais esquecerá seu heroísmo, sua coragem, seu sacrifício", tuitou pouco antes o ministro do Interior, Gérard Collomb.
Para sua família, o ato de sacrifício do gendarme foi algo evidente, considerando seu caráter. "Havia me dito: 'faço meu trabalho, mamãe, isso é tudo'", explicou sua mãe à rádio RTL.
Em tuíte neste sábado, o presidente americano, Donald Trump, solidarizou-se com as vítimas e condenou o ataque.
"Nossos pensamentos e orações estão com as vítimas desse horrível ataque na França ontem, e manifestamos nosso pesar pelas perdas dessa nação", publicou Trump.
"Também condenamos as ações violentas do agressor e de qualquer um que tenha lhe dado apoio. Estamos com você @EmmanuelMacron!", acrescentou.
- 'Soldado do EI' -
Os investigadores tentam agora compreender as razões do agressor, Radouane Lakdim, de 25 anos, apesar de não ter parecido uma ameaça aos olhos das autoridades.
Antes de ser morto pelas forças de segurança, apresentou-se como "um soldado" do EI.
A operação policial feita horas após o ataque permitiu encontrar "notas que fazem alusão ao Estado Islâmico e que parecem um testamento, assim como material digital", indicou a fonte judicial.
O último ataque na França ocorreu há cinco meses e deixou dois mortos, em 1º de outubro, em uma estação de trem em Marselha (sudeste). Este país já sofreu muitos atentados desde 2015, que deixaram no total 241 mortos e centenas de feridos.
"Havíamos seguido" Radouane Lakdim "e achávamos que não havia radicalização", mas "passou à ação de forma brusca", admitiu Collomb.
O autor deste ataque, cometido em várias etapas entre as cidades de Carcassonne e Trèbes, é um francês nascido no Marrocos (em Taza, norte) em 11 de abril de 1992. Morava em Carcassonne e, desde 2014, era seguido pelos Serviços de Inteligência. Estava fichado como "S" (por Segurança de Estado) "por seus vínculos com os meios salafistas", segundo o procurador de Paris, François Molins.
Radouane Lakdim esteve na prisão em 2016 por crimes do direito comum. Em sua saída, voltou a ser vigiado, mas não mostrou sinais "que pudessem antecipar um passo à ação terrorista", assinalou Molins em coletiva de imprensa.
O procurador também anunciou que uma mulher próxima ao agressor, "com quem compartilhava sua vida", foi detida na sexta-feira.
O agressor disse estar "disposto a morrer pela Síria" e pediu durante os ataques "a libertação de seus irmãos". Uma fonte próxima à investigação indicou que Lakdim citou o nome de Salah Abdeslam, único membro ainda vivo dos comandos que cometeram os ataques de 13 de novembro de 2015 em Paris (130 mortos). Abdeslam está preso na capital francesa.
- Ataque em três etapas -
Radouane Lakdim iniciou seu ataque na sexta-feira às 10h locais (6h de Brasília) com o roubo de um automóvel em Carcassonne, matando o passageiro e ferindo o motorista.
Um pouco mais longe, disparou e feriu levemente um policial que voltava de uma corrida com outros agentes perto de um batalhão.
Alguns minutos mais tarde, às 11h15 locais, entrou no supermercado de Trèbes - próximo a Carcassonne - gritando "Alá é grande", segundo o procurador Molins, e matou um funcionário e um cliente. No estabelecimento, havia cerca de 50 pessoas, segundo Molins.
"Vi um indivíduo muito exaltado que tinha uma pistola, uma faca e gritava Alá é grande", contou à AFP Christian Guibbert, um ex-policial que fazia compras e conseguiu salvar vários clientes "em uma câmara frigorífica de açougueiro".
Quando os gendarmes chegaram, o tenente-coronel Arnaud Beltrame se ofereceu como refém para conseguir libertar os civis.
O gendarme deixou "seu telefone aberto" sobre uma mesa, o que permitiu a seus colegas ouvir o que acontecia dentro do local.
Às 14h20, Radouane Lakdim disparou contra o gendarme, ferindo-o em duas ocasiões. Foi então que as forças especiais intervieram. Durante a operação, mais dois gendarmes ficaram feridos.
- Em alerta -
A França continua em alerta depois de uma série de atentados, desde o ataque contra a sede do semanário satírico Charlie Hebdo em janeiro de 2015 e que deixou 12 mortos.
As autoridades temem novos atentados, apesar do aumento das medidas de segurança instauradas pelo governo, cujo sinal mais visível é a mobilização de 10 mil militares em ruas, estações e locais turísticos.