Mundo

França e Polônia reafirmam posição contra o acordo UE-Mercosul

Já a Alemanha defende tratado e diz que medida abrirá mercado para produtos do continente

Annie Genevard, ministra da Agricultura da França, discursa na Assembleia Nacional da França (Bertrand Guay/AFP)

Annie Genevard, ministra da Agricultura da França, discursa na Assembleia Nacional da França (Bertrand Guay/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 26 de novembro de 2024 às 16h12.

Os governos da França e Polônia voltaram a se posicionar contra a aprovação do acordo entre União Europeia e Mercosul nesta terça-feira, 26, enquanto a Alemanha defendeu o acerto.

Na França, o governo pediu à Assembleia Nacional que vete a aprovação do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.

"Com o acordo, assinaríamos um contrato de realocação de parte de nossa agricultura. Esta votação é muito importante. A França expressa sérios receios em relaçao à segurança alimentar. Os franceses e os europeus vão nos culpar amanhã", disse Annie Genevard, ministra da Agricultura da França.

Genevard disse ainda que o acordo cria uma concorrência desleal, que os produtos do Mercosul não atendem aos padrões sanitários europeus e que são ligados a falhas ambientais.

A Assembleia Nacional da França (equivalente à Câmara dos Deputados) votará o acordo entre UE e Mercosul nesta terça-feira. A expectativa é que todos os principais partidos fiquem contra. Na quarta, haverá votação também no Senado.

Na Polônia, o primeiro-ministro Donald Tusk disse que o país não aceitará o acordo em sua forma atual. Em uma entrevista coletiva, ele disse que "a principal preocupação do governo polonês está no impacto negativo que o acordo poderá ter no setor agrícola do país."

Por outro lado, o ministro da Economia da Alemanha, Robert Habeck, defendeu o tratado. “Se o acordo não for concluído, em primeiro lugar a Europa terá fracassado e, em segundo lugar, a América do Sul procurará imediatamente outros parceiros comerciais, possivelmente a China e até mesmo a Rússia. Se isso ajudará mais a floresta tropical, vou colocar um grande ponto de interrogação nisso”, disse o ministro, referindo-se ao desmatamento da Amazônia.

“Perderíamos um forte impulso como resposta política a essa situação, na qual tarifas cada vez mais altas e demandas geopolíticas estão novamente elevando as fronteiras”, advertiu Habeck durante um discurso em uma conferência em Berlim sobre os desafios e as oportunidades para a indústria alemã.

Entenda o acordo

O acordo prevê adotar o livre-comércio entre os dois blocos, em mercadorias como produtos agrícolas, alimentos e aeronáutica. O termo foi firmado em 2019, após décadas de negociação, mas depende de aprovação dos Parlamentos de cada país para entrar em vigor, o que ainda está pendente.

No entanto, poderá ser feita uma manobra para que o acordo entre em vigor. A parte comercial do tratado poderá ser votada de forma separada, no Parlamento Europeu. Com isso, a aprovação poderia ser feita por maioria de votos, sem que um ou dois países possam vetar a proposta.

Em 2019, na assinatura do acordo, o governo brasileiro estimou que o acordo traria um incremento do PIB brasileiro de US$ 87,5 bilhões em 15 anos. O aumento de investimentos no Brasil, no mesmo período, seria da ordem de US$ 113 bilhões. Com relação ao comércio bilateral, as exportações brasileiras para a UE teriam quase US$ 100 bilhões de ganhos até 2035.

O acordo cobre temas tanto tarifários quanto de natureza regulatória, como serviços, compras governamentais, facilitação de comércio, barreiras técnicas, medidas sanitárias e fitossanitárias e propriedade intelectual. Conforme nota do governo federal, produtos agrícolas de grande interesse do Brasil terão suas tarifas eliminadas, como suco de laranja, frutas e café solúvel. Os exportadores brasileiros obterão ampliação do acesso, por meio de quotas, para carnes, açúcar e etanol, entre outros produtos. O acordo também reconhecerá como distintivos do Brasil vários produtos, como cachaças, queijos, vinhos e cafés.

As empresas do Brasil seriam beneficiadas com a eliminação de tarifas na exportação de 100% dos produtos industriais. Segundo o governo brasileiro, serão, desta forma, equalizadas as condições de concorrência com outros parceiros que já têm acordos de livre comércio com a União Europeia.

O acordo garantirá ainda acesso efetivo em diversos segmentos de serviços, como comunicação, construção, distribuição, turismo, transportes e serviços profissionais e financeiros. Em compras públicas, empresas brasileiras obterão acesso ao mercado de licitações da União Europeia, estimado em US$ 1,6 trilhão. Os compromissos assumidos também vão agilizar e reduzir os custos dos trâmites de importação, exportação e trânsito de bens.

Com Agência Brasil e EFE

Acompanhe tudo sobre:União EuropeiaMercosulAcordo UE-Mercosul

Mais de Mundo

Em vitória para Trump, Suprema Corte suspende ordem para reintegrar 16 mil funcionários federais

Como surgiram os primeiros impérios na China?

Guterres avisa que não aceitará condições de Israel para ajuda humanitária em Gaza

Porta-voz da Casa Branca confirma tarifas de 104% contra China a partir de quarta