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França decidirá sobre vida de doente em estado vegetativo

Uma parte da família quer deixar o doente morrer enquanto a outra se nega a interromper a alimentação e a hidratação artificial que o mantém vivo


	Hospital: segundo uma recente pesquisa, 92% dos franceses são a favor da legalização da eutanásia
 (Getty Images)

Hospital: segundo uma recente pesquisa, 92% dos franceses são a favor da legalização da eutanásia (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 15 de janeiro de 2014 às 14h59.

Paris -  A justiça francesa revisou nesta quarta-feira o caso de um doente tetraplégico e em estado vegetativo, que uma parte da família quer deixar morrer enquanto a outra se nega a interromper a alimentação e a hidratação artificial que o mantém vivo.

Os juízes do tribunal administrativo de Châlons-en-Champagne, no nordeste da França, escutaram hoje as duas partes e disseram que tomarão uma decisão amanhã, quinta-feira.

Os pais de Vincent Lambert entraram na justiça depois de a equipe médica do centro hospitalar de Reims, onde ele está internado anunciar no sábado a intenção de interromper a alimentação e a hidratação artificial.

A notificação foi feita em aplicação da atual lei francesa de cuidados paliativos, por considerar que não se pode determinar que o doente reaja conscientemente aos estímulos.

A decisão foi adotada, como indica a lei, por um grupo colegiado de médicos e após consultar parte da família, principalmente a esposa, que é a pessoa que diariamente vai ao hospital fazer companhia ao marido.

Rachel Lambert é apoiada por vários dos irmãos de seu marido, favoráveis a deixar de manter Vincent, de 38 anos, que sofreu um acidente de trânsito há cinco anos, com vida por meio de suportes artificiais.

Mas os pais do doente rejeitaram a decisão e garantem que ao seu filho não se pode aplicar a lei francesa de fim da vida, já que é um tetraplégico, mas não um doente terminal.


Para a esposa, Vincent tinha abandonado há anos a ideologia profundamente religiosa dos pais e, antes do acidente, tinha mostrado em diversas ocasiões sua recusa em ter uma vida artificial.

Em declarações à imprensa, a mulher ressaltou que deixá-lo morrer é o último ato de amor para com seu marido.

A favor desta decisão se pronunciou também o advogado do hospital, que considerou uma "obstinação irracional" querer mantê-lo com vida.

Por outro lado, os pais consideram existir dúvidas sobre seu estado de consciência e se aferram ao fato de Vincent manter sensibilidade à luz para recusar que sejam retirados seus cuidados.

O Ministério Público também se mostrou contrário à retirada da alimentação artificial por considerar que ele mantém a consciência.

"Ninguém sabe o que pensa o próprio Vincent", disse o advogado dos pais.

O caso reabriu na França o debate sobre a eutanásia, que o presidente, François Hollande, quer debater nos próximos meses, revelou o próprio ontem, terça-feira, durante a entrevista coletiva semestral.

"O objetivo é que toda pessoa maior afetada por uma doença incurável que traz sofrimento físico ou psíquico que não pode ser aliviado, possa pedir, em condições estritas, uma assistência médica para terminar sua vida com dignidade", explicou Hollande.

O presidente socialista se comprometeu durante a campanha eleitoral a mudar a lei sobre a eutanásia.

O Comitê de Ética se pronunciou em julho passado contra sua legalização, mas nas próximas semanas deve entregar um novo relatório sobre o assunto.

Segundo uma recente pesquisa, 92% dos franceses são a favor da legalização da eutanásia. 

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