Separatista em um posto de controle da cidade de Donetsk (Bulent Kilic/AFP)
Da Redação
Publicado em 2 de outubro de 2014 às 16h08.
Donetsk - Novos confrontos eram travados nesta quinta-feira em Donetsk, reduto dos separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, com um ataque ao aeroporto e o primeiro bombardeio no centro da cidade desde o início da trégua.
Na frente diplomática, a reunião prevista entre a Rússia, Ucrânia e União Europeia para tentar solucionar o conflito sobre o gás foi adiada. Kiev não está disposto a assinar um compromisso com Moscou enquanto não houver um acordo de paz no leste do país.
Em um comunicado, a Prefeitura de Donetsk indicou que vários morteiros atingiram o centro da cidade pouco antes das 18h00 (12h00 de Brasília), incluindo um centro comercial e a garagem de uma empresa de ônibus, onde não houve detonação.
Um funcionário suíço do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) teria sido morto neste bombardeio.
Uma equipe da AFP viu o corpo da vítima do lado de fora de uma instalação da organização, enquanto uma fonte dos serviços de socorro indicou que se tratava de um cidadão de Genebra que fazia parte da missão local da Cruz Vermelha.
Em sua conta no Twitter, o CICV confirmou "um incidente trágico" ocorrido em seu escritório em Donetsk.
Depois de ter realizado vários ataques com tanques na manhã desta quinta-feira contra o aeroporto da cidade, em poder do Exército ucraniano, os separatistas se voltaram nesta tarde para prédios do governo, segundo Kiev. Uma espessa coluna de fumaça podia ser vista saindo do aeroporto.
"Ontem (quarta-feira), as tropas (rebeldes) entraram em um dos terminais do aeroporto, mas não podemos confirmar se eles ainda estão dentro ou se deixaram o local", declarou nesta quinta-feira à AFP um porta-voz separatista.
Em um posto de controle localizado a dois quilômetros das instalações aeroportuárias, os rebeldes declararam à AFP que controlavam "90% do terminal".
Apesar dos dois acordos de cessar-fogo assinados em Minsk em 5 e 20 de setembro, os combates deixaram dez mortos na quarta-feira em um bairro de Donetsk, localizado a cerca de 4 km do aeroporto, onde projéteis atingiram um ponto de ônibus e uma escola no dia do início do ano letivo nas regiões rebeldes.
Os separatistas acusam o Exército ucraniano de ser responsável pelos disparos. A Anistia Internacional também acusa o Exército, mas afirma que os rebeldes "estão colocando alvos militares em bairros residenciais" e que, por isso, "dividem as responsabilidades" pelas tragédias humanas.
Desde o início da trégua, 70 soldados e civis ucranianos morreram, de acordo com uma contagem da AFP.
Para a UE, que expressou sua preocupação com a intensificação dos combates, "um cessar-fogo duradouro é crucial para o êxito dos atuais esforços para alcançar uma solução política baseada no respeito à integridade territorial e soberana da Ucrânia".
Reunião UE-Ucrânia-Rússia adiada
Com a aproximação do inverno, o ministro da Energia ucraniano, Yuri Prodan, era esperado nesta quinta-feira em Bruxelas para discussões com a União Europeia, que teme cortes de gás para seus 28 países-membros caso Moscou não retome o fornecimento à Ucrânia, suspenso em junho.
Contudo, a reunião não acontecerá "antes deste fim de semana", informou à AFP uma fonte europeia.
Por enquanto, a Ucrânia não concorda com a proposta de solução para a crise apresentada na última reunião, em 26 de setembro em Berlim, indicou outra fonte europeia ligada ao caso.
"Não vai adiantar a vinda de Alexandre Novak (ministro russo da Energia] a Bruxelas", já que o objetivo da reunião é "concluir um acordo e não negociar", disse a fonte à AFP.
"Estamos à procura de uma solução provisória" com a Gazprom, ressaltou o primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniyuk, em uma reunião em Kiev com investidores estrangeiros. "Hoje teremos consultas entre a UE, a Rússia e a Ucrânia sobre um acordo temporário", disse ele.
Apresentado na última sexta-feira, o "acordo provisório" ainda deve ser aprovado pelos dois governos. O comissário europeu para a Energia, Günther Oettinger, explicou que, em troca do pagamento de US$ 3,1 bilhões antes do final do ano, a empresa russa Gazprom vai se comprometer a fornecer pelo menos 5 bilhões de m3 de gás para a Ucrânia para que o país possa atravessar o inverno.
A Rússia responde por 30% das importações de gás da Europa, metade das quais passa pela Ucrânia. Moscou acredita que Kiev deve 5,3 bilhões dólares de juros de mora e multas, e ameaça cortar o fornecimento para a UE caso o bloco continue a vender gás para a Ucrânia.