Mundo

Forças curdas resistem ao avanço jihadista em Kobane

Cidade no norte da Síria está sob ataques de jihadistas do Estado Islâmico


	Combatente curdo peshmerga na linha de frente em Gwar, no norte do Iraque
 (Ahmed Jadallah/Reuters)

Combatente curdo peshmerga na linha de frente em Gwar, no norte do Iraque (Ahmed Jadallah/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de outubro de 2014 às 22h42.

Os combatentes curdos mantêm o controle sobre a cidade de Kobane, no norte da Síria, atacada pelos jihadistas do Estado Islâmico (EI), em torno da qual os Estados Unidos e seus aliados reforçaram o bombardeio aéreo, informou nesta quarta-feira o Comando Central dos EUA (Centcom).

"As milícias curdas continuam controlando a maior parte da cidade e resistem ao EI", revelou o Centcom, encarregado do Oriente Médio e da Ásia Central, destacando que aparelhos dos Estados Unidos e da Turquia lançaram oito ataques contra os jihadistas nos arredores de Kobane, situada na fronteira com a Turquia, destruindo cinco veículos armados, um depósito de material, um centro de comando, um campo logístico e oito barracas.

O destino desta cidade de maioria curda permanece uma incógnita, enquanto Washington admite que os ataques aéreos, que se intensificaram nas últimas 24 horas, não serão suficientes para defender Kobane.

"Apenas os ataques aéreos não vão resolver isto, não vão salvar a cidade de Kobane", disse o porta-voz do Pentágono John Kirby. Somente tropas "qualificadas" em terra (combatentes rebeldes na Síria e forças do governo no Iraque) poderão derrotar o Estado Islâmico.

Mais cedo, o diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman, revelou que os jihadistas avançam a partir do leste para o centro da cidade".

Segundo Rahman, reforços de homens e veículos blindados chegaram a partir da província de Raqqa (norte da Síria), sob controle do EI, para os extremistas na periferia de Kobane.

De acordo com a ONG, pelo menos 412 pessoas morreram nos combates, mas esse número pode ser muito maior.

A França defende a ideia de uma "zona de amortecimento" entre Síria e Turquia para proteger os civis que fogem do avanço do Estado Islâmico, proposta apoiada pela Grã-Bretanha.

O secretário de Estado americano, John Kerry, disse que Washington "não descarta a ideia", mas a porta-voz do departamento de Estado Jennifer Psaki afirmou que "não estamos projetando levá-la adiante nesse momento".

Os jihadistas do EI entraram na noite de segunda-feira em Kobane, depois de quase três semanas de combates nas proximidades da cidade, que fica muito perto da fronteira com a Turquia. Desde então, os combates ganharam as ruas, com as YPG (Unidades de Proteção do Povo Curdo) em menor número e com menos armas em uma resistência desesperada ao avanço do grupo islamita.

Ruas 'cheias de corpos'

O barulho de morteiros e disparos podia ser ouvido a partir da fronteira turca nesta quarta-feira, de acordo com uma equipe de AFP no local.

Mustafa Ebdi, militante e jornalista de Kobane, afirmou em sua conta no Facebook que "as ruas de Maqtala", no sudeste da cidade, estão "cheias de cadáveres de combatentes do Daesh", sigla em árabe do Estado Islâmico.

Mas centenas de civis permanecem na cidade, segundo ele, que acrescentou que a situação humanitária é "difícil, porque as pessoas precisam de comida e água".

É muito difícil avaliar o número de civis que continuam na cidade. Algumas fontes relatam uma fuga total da população, enquanto outras, como Ebdi, afirmam que ainda há moradores.

Durante a noite, de acordo com Idriss Nahsen, 350 pessoas atravessaram a fronteira turca, mas os serviços de inteligência turcos os detiveram por suspeita de ligações com os rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Esses civis estão em dois edifícios em uma aldeia na fronteira, e serão transferidos para prisões nas cidades de Diyarbakir e Sanliurfa.

"Se eles não forem libertados, vão se imolar", acrescentou Nahsen, dizendo que alguns já haviam incendiado cobertores durante a noite.

Curdos protestam para salvar Kobane

Milhares de curdos iraquianos protestaram nesta quarta-feira nas ruas de Erbil, capital da região autônoma do Curdistão, para reivindicar apoio internacional à cidade de Kobane.

Reunidos na frente da sede das Nações Unidas em Erbil (norte do Iraque), a maioria dos manifestantes agitava bandeiras do PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão proibido na Turquia, além de retratos de seu líder, Abdullah Ocalan. No protesto, a multidão denunciou a passividade de Ancara.

A recusa do governo turco para intervir em defesa de Kobane deflagrou distúrbios no sudeste da Turquia, que deixaram pelo menos 21 mortos. Os confrontos continuavam nesta quarta.

"Pedimos à ONU que forneça ajuda de urgência a Kobane, uma ajuda humanitária e um apoio militar", assim como "a implantação de um corredor aéreo para encaminhar essa ajuda", disse à AFP Ghafur Makhmuri, um dos organizadores da manifestação em Erbil.

"Kobane e o Curdistão são as vítimas de uma empreitada genocida, e estamos aqui para impedir esse crime", afirmou uma das manifestantes, Leila Jlick, pedindo que "todos os curdos permaneçam unidos".

Na Turquia, as autoridades impuseram nesta quarta-feira o toque de recolher no sudeste do país diante dos protestos pró-curdos e contra a decisão do governo de não intervir na Síria.

Até o momento, as manifestações deixaram 21 mortos na Turquia.

Apesar do toque de recolher, imposto pela primeira vez desde 1992, ocorreram confrontos em Diyarbakir, Mardin, Van, Batman e na capital Ancara, onde a polícia de choque utilizou bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água para dispersar os manifestantes.

Incidentes também foram registrados em bairros de Istambul, Esmirna e Adana.

Acompanhe tudo sobre:Estado IslâmicoGuerrasIslamismoSunitasTerrorismo

Mais de Mundo

Justiça da Bolívia retira Evo Morales da chefia do partido governista após quase 3 décadas

Aerolineas Argentinas fecha acordo com sindicatos após meses de conflito

Agricultores franceses jogam esterco em prédio em ação contra acordo com Mercosul

Em fórum com Trump, Milei defende nova aliança política, comercial e militar com EUA