Várias regiões da Somália são dominadas por islamitas, o que impede a ajuda internacional (Roberto Schmidt/AFP)
Da Redação
Publicado em 5 de setembro de 2011 às 11h38.
Nairobi - Um total de 750.000 pessoas corre o risco de morrer na Somália nos próximos meses vítimas da fome, que atingiu uma sexta região do país em consequência de uma seca excepcional em todo o Chifre da África, advertiu a ONU.
"No total, quatro milhões de pessoas estão em situação crítica na Somália, das quais 750.000 correm o risco de morrer nos próximos quatro meses na ausência de uma resposta adequada em termos de envio de ajuda", alerta um comunicado da Unidade de Análises da ONU para a Segurança Alimentar e a Nutrição (FSNAU, na sigla em inglês).
O balanço anterior da ONU, de julho, mencionava 450.000 pessoas em risco de morte na Somália, que tem uma população estimada de pouco menos de oito milhões.
"Dezenas de milhares de pessoas já morreram, sendo que mais da metade eram crianças", recorda a FSNAU.
"Se o nível atual de resposta (à crise humanitária) continuar, a fome seguirá progredindo nos próximos quatro meses", adverte o organismo das Nações Unidas.
O estado de fome responde a uma definição estrita das Nações Unidas: pelo menos 20% das residências confrontadas com uma grave penúria alimentar, 30% da população com desnutrição aguda e uma taxa de mortalidade diária de dois sobre 10.000 pessoas.
No dia 1º de setembro, apenas 59% da ajuda solicitada para o conjunto dos países do Chifre da África afetados pela seca havia sido repassada, o que representa pouco mais de um bilhão de dólares sobre 2,4 bilhões, de acordo com a ONU.
A região de Bay, a sexta e mais recente declarada em fome pela ONU, é controlada pelos insurgentes islamitas shebab, assim como grande parte do sul e do centro da Somália, e inclui sobretudo a cidade de Baidoa, uma das principais do país.
Baidoa foi o epicentro da anterior crise de fome, no início dos anos 1990, o que rendeu o apelido de "cidade da morte".
Outras cinco regiões foram declaradas em fome pela ONU desde julho: Baixa Shabelle e o sul de Bakool, ambas contíguas a Bay, os 400.000 deslocados dos acampamentos de Afgoye, ao norte de Mogadíscio, os instalados na própria capital e os distritos de Balaad e Adale, na região de Média Shabelle.
No total, 12,4 milhões de pessoas residentes no Chifre da África sofrem com a pior seca em décadas e precisam de ajuda humanitária, segundo a ONU.
A Somália é o país mais afetado em consequência de uma guerra civil iniciada em 1991. O conflito destruiu boa parte das infraestruturas e dificulta muito o acesso ao centro e ao sul do país.
O governo de transição somali, instaurado em 2004, e os dirigentes de alguns territórios autônomos como Puntland (norte) se reunirão nesta segunda-feira em Mogadíscio pelo segundo dia com o objetivo de avançar para um regime de reconciliação nacional capaz de garantir o restabelecimento da paz e da reconstrução do país.
Mas nem Somaliland (norte), autoproclamada independente em 1991, nem os shebab, que ainda controlam o sul e o centro do país, apesar de uma retirada em agosto de Mogadíscio, participam nos debates mediados pela ONU.
Apoiado por uma comunidade internacional cada vez mais irritada com a situação, o governo de transição deveria ter encerrado as atividades em agosto, mas na verdade prorrogou os mandatos do atual presidente, Sharif Sheikh Ahmed, e do presidente do Parlamento, Sharif Hassan Sheikh Aden.
A eleição do próximo chefe de Estado deve acontecer até 20 de agosto de 2012.