O embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado: manobra pode prejudicar o processo de confiança (Divulgação/MRE)
Da Redação
Publicado em 1 de dezembro de 2010 às 09h21.
Cancún - A União Europeia fez ontem uma prestação de contas durante a Conferência do Clima da ONU em Cancún (COP16) e afirmou que neste ano, até novembro, repassou 2,2 bilhões de euros aos países em desenvolvimento dentro do chamado Fast Start Funding - recursos no curto prazo na área das mudanças climáticas. Foram beneficiados países emergentes como Brasil e China, além de nações africanas e da América Latina.
Existe um acordo desde a COP15, em Copenhague, para os países ricos doarem US$ 30 bilhões até 2012 para os países mais pobres. Os europeus dizem que vão contribuir com um total de 7,2 bilhões de euros nesses três anos. Depois, até 2020, entra o financiamento de longo prazo, no valor de US$ 100 bilhões anuais.
O problema é que, como a própria União Europeia admitiu nesta semana, metade do valor colocado na mesa até agora pelo grupo se refere a empréstimos. O Brasil e os demais países em desenvolvimento não concordam que os empréstimos sejam incluídos no financiamento - somente doações.
Isso faz parte da responsabilidade histórica - os países desenvolvidos são os maiores responsáveis pelas emissões de gases causadores do efeito estufa e precisam auxiliar as nações em desenvolvimento a cortarem suas emissões e a se adaptarem para os impactos inevitáveis do aumento da temperatura.
Segundo o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, essa manobra pode prejudicar o processo de confiança entre os países que negociam em Cancún. “Isso pode afetar de alguma forma o restante do resultado”, afirmou. Um dos argumentos usado pelos europeus é que, quando o recurso emprestado é usado para melhorar o isolamento de uma casa, por exemplo, o dinheiro é obtido de volta com a economia de energia elétrica.
O que o governo brasileiro concorda é que neste ano os recursos sejam menores ou que tenha de haver remanejamento de recursos - já que a proposta de financiamento foi aprovada em dezembro de 2009 e os países não tiveram tempo de incluir os valores no Orçamento de 2010.