"Ele está bem melhor hoje do que quando o vi na noite passada. A equipe médica continua fazendo um bom trabalho", disse o presidente sul-africano Jacob Zuma (REUTERS/Siphiwe Sibeko)
Da Redação
Publicado em 27 de junho de 2013 às 16h37.
Pretória - A filha mais velha de Nelson Mandela chamou a mídia estrangeira de "abutres" por violar a privacidade de seu pai enquanto ele está em estado crítico no hospital e disse nesta quinta-feira que o ex-presidente sul-africano ainda luta pela vida.
O desabafo de Makaziwe Mandela ocorreu em meio à ansiedade crescente sobre a frágil saúde do líder anti-apartheid, de 94 anos, admirado em todo o mundo como um símbolo da resistência contra a injustiça, a opressão e, então, da reconciliação racial.
O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, participaria de uma reunião de cúpula da Comunidade para o Desenvolvimento Sul Africano (SADC) em Moçambique para discutir a infraestrutura regional, mas desistiu da viagem após visitar o ex-presidente no hospital na noite de quarta-feira.
Mas um boletim no meio do dia disse que a saúde de Mandela havia melhorado.
"Ele está bem melhor hoje do que quando o vi na noite passada. A equipe médica continua fazendo um bom trabalho", disse Zuma em comunicado. Mandela permanece em estado crítico, mas agora está "estável", acrescentou.
Makaziwe estava otimista com as chances de seu pai depois de quase três semanas de tratamento contra uma infecção pulmonar em um hospital de Pretória.
"Eu não vou mentir, ele não parece bem", disse ela à rádio SABC. "Mas como digo, se falamos com ele, ele responde e tenta abrir os olhos. Ele ainda está lá." Depois de fugir de cinegrafistas e repórteres no hospital, Makaziwe criticou o que ela disse ser o "mau gosto" dos meios de comunicação estrangeiros e da intromissão na privacidade da família.
"Há uma espécie de elemento racista com muitos dos meios de comunicação estrangeiros, onde apenas atravessam as fronteiras", disse ela.
"São realmente como abutres à espera de quando o leão devorar o búfalo, esperando pela carcaça. Essa é a imagem que temos como uma família."
Ela fez as críticas à imprensa após várias repreensões afiadas do gabinete de Zuma a algumas reportagens da mídia estrangeira que deram detalhes alarmantes da condição de Mandela.
O porta-voz Mac Maharaj não quis comentar sobre a mais recente reportagem de uma grande rede de TV dos Estados Unidos de que Madiba, como é carinhosamente conhecido, respira com ajuda de aparelhos. Ele disse que isso era parte da relação confidencial de Mandela com seus médicos.
Makaziwe comparou a enorme atenção da mídia sobre Mandela, que foi internado diversas vezes nos últimos meses para tratar uma infecção pulmonar recorrente, com a cobertura jornalística da morte da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher em abril.
"Nós não nos importamos com o interesse, mas eu sinto que tenha passado do limite. Quando Margaret Thatcher estava doente no hospital, eu não vi esse tipo de frenesi da mídia em torno de Margaret Thatcher", disse ela.
"É só Deus quem sabe quando é a hora de partir." A quarta hospitalização de Mandela em seis meses levou a uma crescente percepção entre os sul-africanos de que o homem considerado o pai de sua "Nação Arco-Íris" pós-apartheid não vai estar fisicamente entre eles para sempre.
"Mandela está muito velho e, nessa idade, a vida não é boa. Eu só rezo para que Deus o leve neste momento. Ele deve ir. Ele deve descansar", disse Ida Mashego, uma faxineira de escritórios de 60 anos, no distrito financeiro Sandton, em Johanesburgo.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que deve visitar a África do Sul no fim de semana, disse que seus pensamentos e orações estavam com a família Mandela e os 53 milhões de sul-africanos.
Falando em Senegal, sua primeira parada de uma viagem à África que inclui três países, Obama disse que Mandela foi um "herói".
"Mesmo que ele morra, o seu legado permanecerá", disse.
O governo sul-africano rejeitou preocupações com relação a eventuais mudanças na agenda de Obama, dizendo que estava "se preparando" para receber o primeiro presidente afrodescendente dos Estados Unidos nos edifícios históricos da União, onde Mandela se tornou o primeiro presidente negro da África do Sul há 19 anos.