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Fifa: testemunha detalha subornos pagos a governo argentino

No "Livro Caixa" onde era registrado o pagamento de subornos, figuram vários pagamentos de US$ 2,628 mi em 2013 com a palavra "governo" ao lado

Fifa: "Tudo que diz governo era Delhon", afirmou a testemunha (Fabrice Coffrini/AFP)

Fifa: "Tudo que diz governo era Delhon", afirmou a testemunha (Fabrice Coffrini/AFP)

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AFP

Publicado em 30 de novembro de 2017 às 21h49.

Uma testemunha do julgamento da corrupção na Fifa contou nesta quinta-feira que pagou milhões em subornos ao antigo governo argentino em troca dos direitos de retransmissão do futebol do país e que os pagamentos eram recebidos por Jorge Delhon, que se suicidou no início do processo.

O argentino Eladio Rodríguez era o braço direito do empresário Alejandro Burzaco e a pessoa encarregada das contas da empresa Torneos y Competencias (T&C). Agora, coopera com o governo norte-americano após assinar em maio um acordo de delação que lhe garante que não será processado por envolvimento no imenso escândalo de corrupção na Fifa.

No "Livro Caixa" onde Rodríguez registrava o pagamento de subornos, figuram vários pagamentos no valor de 2,628 milhões de dólares em 2013 com a palavra "governo" ao lado. "Tudo que diz governo era Delhon", afirmou a testemunha. "Delhon era a única pessoa que conheço no governo (argentino) que recebeu dinheiro", completou.

Em seu depoimento há duas semanas, Burzaco afirmou nunca ter pago suborno à ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner (2007-2015), atual senadora eleita.

Delhon, dirigente do "Futebol para Todos", programa do governo de Kirchner que transmitia gratuitamente até meados deste ano os jogos de futebol no país, se suicidou em 14 de novembro ao se jogar debaixo de um trem no subúrbio de Buenos Aires, logo após o primeiro depoimento de Burzaco perante a corte no Brooklyn.

Em 2009, a Federação Argentina de Futebol (AFA) e o governo Kirchner encerraram unilateralmente os contratos mais importantes da T&C para que o Futebol para Todos transmitisse os jogos mais importantes dos clubes do país na emissora estatal de maneira gratuita, sem publicidade privada, mas com propaganda do governo.

Os subornos pagos ao Futebol para Todos, segundo Burzaco e Rodríguez, tinham como intuito manter sob domínio da T&C os direitos de transmissão dos jogos da segunda divisão, que a partir de 2011 também foram estatizados.

Em seu testemunho, Burzaco afirmou que Delhon e o coordenador-geral do Futebol para Todos, Pablo Paladino, receberam milhões de dólares em subornos.

Pagamentos a Boca e River

Rodríguez afirmou que a T&C fazia "pagamentos adicionais" aos clubes Boca Juniors e River Plate, os dois clubes mais populares da Argentina, para que colocassem em campo suas "maiores estrelas" para jogar a Copa Sul-Americana. A meta era "melhorar as premiações" dos jogadores e dar uma maior relevância ao torneio, que costuma ficar no segundo plano continental, atrás da Copa Libertadores.

No livro de contas de Rodríguez, é possível identificar um pagamento de 200.000 dólares ao presidente do Boca, Daniel Angelici.

Rodríguez desmentiu as acusações de Burzaco contra o craque Lionel Messi e outros jogadores, que supostamente teriam recebido 200.000 dólares "adicionais" para participar de amistosos da seleção argentina.

Um total de 42 ex-dirigentes do futebol das Américas, empresários esportivos e um banqueiro, além de três empresas, são acusados pelos Estados Unidos de cometer 92 crimes em 15 esquemas de corrupção, embolsando mais de 200 milhões de dólares em subornos.

Três ex-dirigentes do futebol sul-americano estão sendo julgados em Nova York: o ex-presidente da Confederação Brasileira José Maria Marin, o ex-presidente da Conmebol, o paraguaio Juan Angel Napout e o ex-chefe do futebol peruano Manuel Braga.

Caso sejam declarados culpados, os ex-dirigentes poderão cumprir até 20 anos de prisão por cada crime.

Dos 42 acusados de corrupção, 24 foram extraditados para os Estados Unidos e se declararam culpados, como Burzaco. Dois já foram sentenciados. Outros 15 que não se encontram em território americano estão sendo julgados em seus países ou combatem pedidos de extradição.

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