Joseph Blatter concedeu sua primeira entrevista coletiva desde que renunciou ao cargo e deixou claro que a ausência de Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, na reunião do comitê executivo da entidade foi ignorada por ele (Reuters)
Da Redação
Publicado em 20 de julho de 2015 às 13h22.
Zurique - A Fifa quer que entidades nacionais, como a CBF, publiquem os salários de seus cartolas, que implemente uma "ficha limpa" para aqueles que sejam eleitos e ainda que haja um limite de mandatos para quem está no poder.
Nesta segunda-feira, Joseph Blatter, presidente da Fifa, concedeu sua primeira entrevista coletiva desde que renunciou ao cargo e deixou claro que a ausência de Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, na reunião do comitê executivo da entidade foi ignorada por ele. O evento também foi marcado por um protesto, que deixou Blatter visivelmente abalado.
"Os membros do comitê executivo são convidados a participar de encontros", disse Blatter. "Não tivemos todos eles e um, como no caso da CBF, decidiu não vir. Mas esse é seu problema. Não teve qualquer influencia nas decisões da Fifa", garantiu o presidente da Fifa.
Del Nero, depois da prisão de José Maria Marin, ex-presidente da CBF, decidiu não sair mais do Brasil. Na reunião mais importante da Fifa em anos, a confederação brasileira não foi representada, o que causou críticas.
Na reunião, a Fifa aprovou a criação de um grupo de trabalho para avaliar uma reforma na entidade. Mas Blatter deixou claro que a condição é de que todas as entidades, regionais e nacionais, também sigam o mesmo processo. "A Fifa não pode fazer as coisas sozinha", disse.
Entre as propostas ainda está a aplicação de uma exigência de que os dirigentes tenham uma "ficha limpa" antes de assumirem qualquer cargo.
Outra medida proposta é a de colocar limite a mandatos, algo que Blatter nunca aceitou, permanecendo como presidente da Fifa por quatro mandatos.
Segundo ele, foi a Uefa que vetou no passado a adoção de limites. "É importante reduzir o numero de mandatos de todos, nas Fifa, nas confederações e nas entidades nacionais", acrescentou.
Por fim, ele quer a publicação do salário de todos. Questionado se revelaria quanto ganha, Blatter se recusou. "Todos terão de apresentar suas rendas. Podem me perguntar quantas vezes quiserem. Mas o farei quando todos o farão", disse.
Blatter ainda desfez qualquer dúvida se pode continuar no comando da Fifa. Ele convocou eleições para o dia 26 de fevereiro e garantiu que não será candidato.
"Um novo presidente será eleito", disse. O suíço indicou que, depois de 40 anos na Fifa, quer trabalhar numa rádio e falar de geopolítica. "O rádio é o mais popular. Espero que alguém me queira", disse.
Protesto
O evento ainda foi marcado por um protesto contra Blatter, logo no início da coletiva de imprensa na sede da Fifa. Um comediante entrou na sala e entregou dinheiro falso ao suíço, numa ironia à compra de votos no processo de escolha de sedes das Copas do Mundo. "Em nome da Coreia do Norte, agradeço o apoio à Copa de 2026", disse.
Ele interrompeu a primeira aparição do suíço diante da imprensa mundial desde que anunciou que renunciaria de seu cargo de presidente.
O comediante inglês Lee Nelson jogou notas de dinheiro no dirigente que, abalado, pediu para que se retirasse da sala. Nervoso, Blatter anunciou apenas que sairia por alguns momentos para que o chão, repleto de notas falsas de dinheiro, fossem retiradas. "Isso não tem nada a ver com o futebol. Temos de limpar a casa", declarou Blatter.
Visivelmente nervoso, Blatter andava com dificuldade depois do protesto, enquanto a segurança tentava retirar o comediante. "No futebol, nunca se sabe onde está o limite", disse, ao retornar, ainda abalado. "Vejo isso há 40 anos. Liguei para minha mãe morta e ela disse: é só a falta de educação", completou.
O protesto de constrangeu Blatter nesta segunda-feira ocorreu no mesmo dia em que a Fifa confirmou que a sua próxima eleição presidencial será em 26 de fevereiro de 2016, data estabelecida depois de uma reunião na sede da entidade.
Acometido por uma crise de corrupção sem precedentes, o dirigente venceu as eleições passadas da Fifa, em 29 de maio. Porém, quatro dias depois, foi obrigado a anunciar que convocaria uma novo pleito depois das prisões de sete dirigentes esportivos em Zurique, entre eles José Maria Marin, ex-presidente da CBF.