Jovem segura uma réplica da taça da Copa do Mundo em Doha, no Catar (Marwan Naamani/AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de novembro de 2014 às 07h59.
Viena - Uma das pessoas que foi testemunha nas investigações sobre a corrupção na Copa do Catar de 2022 vem a público para denunciar o processo e acusar a Fifa de "premiar o silêncio".
Em uma carta obtida pelo Estado e enviada pelo ex-dirigente Phaedra Almajid, a testemunha acusa a Fifa de tê-lo exposto por ter feito denúncias, colocando a sua vida em risco, enquanto aqueles que optaram por não alertar sobre esquemas de corrupção foram protegidos.
Na semana passada, a Fifa publicou sua decisão sobre as investigações relativas à Copa de 2022.
Apesar de contar com dezenas de indícios de corrupção na compra de votos dos dirigentes, a entidade optou por manter o Catar como sede do Mundial e dizer que não existia motivos para reabrir o caso.
A decisão foi anunciada pelo juiz supostamente independente da Fifa, Hans Eckert.
Mas suas conclusões foram imediatamente alvo de um recurso por parte de Michael Garcia, presidente da Câmara de Investigação do Comitê de Ética da própria entidade, que passou 18 meses investigando as evidências e denúncias de corrupção.
A promessa a todas as testemunhas era de que seriam mantidas em sigilo para garantir a proteção daqueles que estivessem prontos para denunciar os esquemas.
Mas, no informe publicado, a Fifa dá claras indicações de que uma das fontes é Almajid, numa suposta manobra para queimá-lo.
Agora, uma carta enviada para Garcia por uma das testemunhas do processo denuncia o esquema montado. "Assumi um grande risco pessoal ao lutar pela verdade num ambiente altamente politizado", escreveu Almajid.
"Fui traído e denegrido por ser corajoso suficiente para entregar informações cruciais. O que ocorreu comigo revela muito da Fifa e de seu modus operandi. A cultura do silêncio é premiada", atacou.
"Aqueles que ousam falar e questionar o sistema não apenas são colocados de lado, mas ironicamente impedidos de ter uma proteção ou respeito", completou.
Segundo ele, ao identificá-lo no informe e tirar qualquer crédito, a Fifa "manda um recado a qualquer um que quiser falar que seu futuro estará ameaçado, para sempre".
Almajid agora lançou um processo contra Eckert por ter, em seu resumo sobre o caso, identificado a testemunha como uma das fontes do caso.
Para ele, isso foi uma "violação do princípio da confidencialidade" e que ele apenas aceitou fazer as denúncias depois que foi garantido que seu nome seria mantido em sigilo.