Embora inicialmente tenha negado ser comunista, Fidel é o arquiteto de um sistema socialista à cubana (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2011 às 21h52.
Havana - Fidel Castro, grande líder de Cuba durante meio século, é agora apenas um "soldado das ideias", de 84 anos, depois de deixar nesta terça-feira seu último posto de poder, a chefia do Partido Comunista (PCC).
De agasalho azul escuro e camisa quadriculada, Fidel acompanhou o encerramento do VI Congresso do PCC, no qual seu irmão, de 79 anos, que o substituiu no comando da ilha em 2006, também passou a ocupar o cargo de primeiro-secretário do PCC, o mais importante num sistema comunista, e no qual estava desde que fundou o Partido, em 1965.
Pouco antes da eleição do seleto Birô Político do Partido, composto por 15 membros, Fidel confirmou em um artigo na imprensa o que havia dito em março: que em julho de 2006 renunciou "sem vacilar" a todos os seus cargos, inclusive ao do PCC, embora nestes cinco anos tenha continuado a ser chamado de primeiro-secretário, enquanto Raúl era considerado o segundo.
"Prometi ser um soldado das ideias, e esse dever ainda posso cumprir", escreveu o ex-governante.
Famoso pela oratória, Fidel dedica-se em seu retiro a escrever sobre problemas mundiais. Em quatro anos de tratamento apareceu apenas em vídeos e fotos, mas em julho de 2010 mostrou uma surpreendente recuperação e reapareceu em público.
Único sobrevivente dos protagonistas da Guerra Fria e uma das figuras mais polêmicas do século XX, o histórico líder governou por 48 anos, sempre com sua postura anti-americana.
O guerrilheiro barbudo, de emblemático uniforme verde oliva, chegou ao poder no dia 1º de janeiro de 1959 depois de lutar durante 25 meses em Sierra Maestra e derrubar o ditador Fulgencio Batista.
Inspirador de apaixonados esquerdistas, este homem de personalidade forte é considerado por seus seguidores um revolucionário humanista, paradigma de justiça; e por seus opositores, um ditador inflexível e repressor.
Depois de ter apoiado movimentos armados de esquerda, chega ao final de sua longa carreira política, no momento em que a esquerda governa em vários países da América Latina.
Sobreviveu a 11 presidentes na Casa Branca, a centenas de conspirações, à invasão da Baía dos Porcos, a crises bélicas e econômicas, a bloqueios e à queda do Muro de Berlim.
Filho de um imigrante galego proprietário de terras e de uma camponesa cubana, nasceu em 13 de agosto de 1926 em Birán (sudeste), terceiro de sete filhos.
Estudou em colégios jesuítas, que moldaram sua personalidade e iniciou sua trajetória de líder e sedutor de multidões na Universidade de Havana, onde se formou em Direito.
Assumiu o comando da revolução com o fracassado ataque ao Quartel Moncada, em julho de 1953, e, depois de ter sido preso e de ter se exilado no México, desembarcou em 2 de dezembro de 1956 no sudeste de Cuba para lutar a partir de Sierra Maestra.
Sua substituição no PCC ocorre em uma data historicamente simbólica: há 50 anos declarou a revolução socialista no funeral das vítimas de um bombardeio que antecedeu à invasão da Baía dos Porcos, organizada pela CIA.
Embora inicialmente tenha negado ser comunista, Fidel é o arquiteto de um sistema socialista à cubana, inspirado em Marx, Lenin e no herói nacional José Martí.
Teve oito filhos, Fidelito, com Mirta Díaz-Balart; Alina -exilada em Miami-, com Natalia Revuelta, Jorge Angel, com María Laborde; e Alejandro, Alex, Antonio, Alexis e Angel, com Dalia Soto del Valle, com quem vive há décadas.
Após um frenético ritmo de atividade política, sua ausência devido à doença pôs fim a uma era na história da ilha marcada por sua forte liderança, sob a qual nasceram 70% dos 11 milhões de cubanos.
Apesar disso, o "Comandante-em-Chefe" continuará exercendo uma poderosa influência no destino de Cuba, fundamental no alcance e no ritmo das mudanças promovidas por seu irmão.
Fidel disse em certa ocasião: "Nunca me aposentarei da política, da revolução ou das ideias que tenho". "O poder é uma escravidão e sou seu escravo".