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Fica em aberto reabertura de embaixadas em Cuba e EUA

Estados Unidos e Cuba não fixaram uma data para normalização de suas relações e a reabertura de embaixadas


	Bandeiras de Cuba (E) e Estados Unidos em Havana
 (Enrique De La Osa/Reuters)

Bandeiras de Cuba (E) e Estados Unidos em Havana (Enrique De La Osa/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 22 de janeiro de 2015 às 22h46.

Havana - Estados Unidos e Cuba não fixaram, nesta quinta-feira, uma data para a normalização de suas relações e a reabertura de embaixadas, nas primeiras negociações de alto nível em 35 anos, em Havana, pois persistem "diferenças profundas", mas voltarão a dialogar em breve.

"Não posso lhes dizer quando exatamente isto ocorrerá. Estamos trabalhando nos assuntos o mais rápido possível e o faremos assim que pudermos resolver todos os assuntos funcionais que precisamos tratar", disse à imprensa Roberta Jacobson, vice-secretária de Estado americana para o Hemisfério Ocidental, ao final de uma reunião de quatro horas com a delegação cubana, chefiada por Josefina Vidal, cinco semanas depois da histórica reconciliação, anunciada pelos presidentes Barack Obama e Raúl Castro.

"O estabelecimento de relações diplomáticas e a abertura de embaixadas são apenas parte de uma normalização de relações mais ampla", acrescentou a vice-secretária de Estado para o Hemisfério Ocidental, destacando que esta "primeira rodada de conversações foi um diálogo positivo e construtivo".

Jacobson disse, ainda, que também falou sobre direitos humanos no encontro, o que foi negado pela chefe da delegação cubana.

"Temos diferenças neste tema (dos direitos humanos), profundas diferenças com o governo cubano e isto faz parte da nossa discussão", afirmou Jacobson, embora Vidal tenha dito que "este tema ainda não foi abordado durante as discussões".

A funcionária explicou que as duas partes voltarão a conversar sobre a questão da reabertura das embaixadas.

"Acordamos continuar estas discussões em uma data próxima", disse Vidal à imprensa, destacando que "a definição da data ficou em aberto porque as duas partes precisam revisar suas agendas".

"Não posso dizer agora se depois desta reunião vão ser necessárias outras, vamos ter que esperar a ocasião para ter esta definição", acrescentou Vidal, afirmando que "apesar das diferenças profundas que existem entre os nossos governos, devemos aprender a conviver pacífica e civilizadamente com elas".

Primeira funcionária de alto nível a visitar a ilha comunista desde 1980, Jacobson esteve com Vidal frente a frente, ambas cercadas de assessores, em um salão do Palácio de Convenções de Havana, no segundo dia de uma histórica reunião bilateral, dedicada a temas migratórios.

As negociações ainda continuarão nesta quinta-feira para abordar temas de cooperação bilateral no narcotráfico e no combate ao terrorismo.

Pontos a negociar

O chefe da diplomacia americana, John Kerry, tinha antecipado na quarta que os dois países ainda tinham muito a negociar antes de normalizar suas relações, rompidas em 1961.

"Quando for o momento e for apropriado, terei muito interesse em viajar para Cuba para abrir formalmente uma embaixada e avançar nos nossos vínculos", disse Kerry em Washington.

Segundo Kerry, alguns pontos a negociar são a suspensão das restrições a viagens de diplomatas americanos à ilha, permitir envios, sem obstáculos, à equipe americana a fim de poder trabalhar de forma correta e permitir livre acesso à Seção de Interesses dos Estados Unidos em Havana (SINA), o que Washington também garantiria à representação cubana em solo americano.

Situada no emblemático Malecón, em Havana, a SINA conta com 50 diplomatas e foi cenário de provocações por décadas, de um lado e de outro de suas grades.

O líder cubano Fidel Castro, que autorizou a criação das seções de interesses com o então presidente americano Jimmy Carter, em 1977, acusou a SINA de "ser o estado-maior da contra-revolução" na ilha.

Em 2006, a SINA começou a publicar mensagens políticas dirigidas aos cubanos em um painel eletrônico em seu terraço (o prédio tem seis andares), ao que Cuba reagiu, instalando 138 mastros com bandeiras pretas para esconder as mensagens. A prática acabou com a chegada de Obama ao poder, em 2009.

A Cuba interessa a suspensão do embargo econômico americano, em vigor desde 1962, e que a ilha seja retirada da lista americana de países que patrocinam o terrorismo, mas também quer mudanças nas normas migratórias americanas, pois afirma que elas incentivam a migração ilegal de cubanos.

Havana também se preocupa com "a situação enfrentada pela Seção de Interesses de Cuba em Washington e, em particular, seu escritório consular que, como resultado do bloqueio, está prestes a cumprir um ano sem serviços bancários", destacou a chancelaria cubana.

Outros temas pendentes, que aparentemente não foram abordados, são a base americana de Guantánamo (no leste de Cuba) e as propriedades americanas nacionalizadas nos anos 1960 por Fidel Castro, hoje com 88 anos, o grande ausente nesta histórica aproximação.

Na semana passada, Washington quadruplicou o montante que os cubano-americanos podem mandar para suas famílias na ilha e flexibilizou as viagens a Cuba, o que favorece a combalida economia cubana.

Havana, por sua vez, libertou neste mês 53 presos políticos em um aceno a Washington, embora em 30 de dezembro tenha recorrido à repressão para impedir uma manifestação na capital cubana.

Jacobson se reunirá na sexta-feira com dissidentes cubanos que não escondem a insatisfação com a mudança de política dos Estados Unidos, que por décadas foi seu principal aliado e bem-feitor.

A discussão migratória de quarta-feira, conduzida por Josefina Vidal e o adjunto de Jacobson, Alex Lee, foi qualificada como "produtiva" e "construtiva" pelas duas partes, embora tenham ficado evidentes suas diferenças.

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