Muçulmanos durante ritual de flagelação em ocasião da Ashura, que recorda a morte do imã Hussein, neto de Maomé (Omar Sobhani/Reuters)
Da Redação
Publicado em 4 de novembro de 2014 às 13h48.
Teerã - Os gritos de "Morte aos Estados Unidos" e "Morte a Israel" de milhares de iranianos nesta terça-feira em frente à antiga embaixada americana em Teerã, antes da Revolução Islâmica (1979), se juntaram aos lamentos e gritos de "Hussein", ao coincidir o Dia do Estudante com a comemoração xiita da Ashura.
O 35º aniversário da tomada da embaixada americana - com o sequestro de 54 americanos por estudantes islâmicos durante 444 dias e que provocou a ruptura de relações entre Washington e Teerã - foi marcado por um público menor que nos anos anteriores e pelo luto e honra ao terceiro imame do Islã.
"Hoje é o aniversário da tomada do "Ninho de Espionagem dos EUA", um dia de luta contra a arrogância e também é o dia da Ashura. Viemos aqui para gritar "Morte aos EUA". Esta concentração é simbólica e é realizada contra o que foi o centro de corrupção do governo dos EUA no Irã", explicou à Agência Efe Moytaba Abaslu, um dos milhares de presentes no evento.
Abaslu afirmou que "a República Islâmica nunca poderá aceitar os EUA e o dia que o aceitar será como sua morte", apesar de ser a favor que seu país e as potências ocidentais, entre elas os Estados Unidos, firmem um acordo nuclear neste mês.
Vestidas de preto, centenas de pessoas caminharam pelo centro de Teerã com cartazes de homenagens a Hussein e com mensagens antiamericanas, muitos com os termos "Morte aos EUA" escrita em persa.
Centenas de crianças participaram da manifestação acompanhados pelos pais ou pelos professores e colegas de colégio. Muitos levavam o pescoço coberto com uma kufiya (lenço árabe), símbolo da resistência palestina.
Dezenas de cartazes mostram os Estados Unidos e o presidente Barack Obama como assassinos sangrentos, mentirosos e culpados pelos ataques de Israel à Faixa de Gaza.
Também participaram da manifestação três caminhões militares carregados com os restos mortais de 45 "mártires" da guerra do Irã-Iraque (1980-88), que foram enterrados em um cemitério próximo no término da cerimônia.
"Como muçulmano, vim anunciar meu ódio aos EUA. Da mesma forma que o imame Hussein se levantou contra o governo de opressão de sua época, o imame Khomeini (Ruhollah, líder da Revolução Islâmica), também enfrentou o opressor de seu tempo, o governo da arrogância, que é o grande satã de nossa época: os Estados Unidos", declarou à Efe outro manifestante que preferiu não dizer se identificar.
"Se os EUA não reconhecem os nossos direitos, devem saber que somos filhos de Hussein e que estamos prontos e firmes e resistiremos para proteger os valores da Revolução Islâmica", acrescentou.
Outra participante, uma mulher com cerca de 50 anos, que se identificou como Mahbube Hoseini, disse que foi à aglomeração para passar "uma mensagem ao mundo": que "todo o povo iraniano está parado perante EUA e Israel e perante sua avareza, e que todos com uma voz unida apoiam o líder supremo, o querido imame Khamenei".
"Todo o povo do Irã grita "morte aos EUA, morte a Israel". Esse é o nosso slogan e até a ultima gota de nosso sangue defenderemos nosso líder, o Islã e o Corão", acrescentou.
A concentração para lembrar a tomada da embaixada americana, que muitos iranianos consideram um triunfo sobre a maior potência do momento, também é realizada em centenas de povoados e cidades com "milhões de pessoas", segundo as autoridades iranianas.