Montevidéu - O novo secretário-geral da Junta Nacional de Drogas (JND) do Uruguai, Milton Romani, afirmou nesta quinta-feira à Agência Efe que a maconha legal, produzida sob o controle do Estado, estará disponível nas farmácias do país antes do fim deste ano.
"Os consumidores que querem adquiri-la nas farmácias terão que esperar um pouco mais, talvez dois meses, talvez menos, mas vai chegar", garantiu o responsável pelo organismo vinculado à presidência uruguaia.
Romani fez face às recentes informações que assinalavam que o novo governo, liderado por Tabaré Vázquez, tinha recuado sobre quais seriam as farmácias encarregados de comercializar o cannabis legal, como determina a lei aprovada em 2013 pelo anterior Executivo, liderado por José Mujica.
Antes de assumir a presidência no último dia 1º, Vázquez tinha manifestado preocupação quanto ao fato de estabelecimentos habilitados para vender remédios se ocuparem da venda do cannabis.
O secretário-geral da JND garantiu que as preocupações do novo presidente foram analisadas e que os representantes das farmácias expressaram interesse em fornecer o serviço.
Conforme destacou, as 11 empresas que se apresentaram para plantar e fornecer a maconha ainda carecem de alguns documentos para finalizar o processo. No entanto, ele é otimista sobre a rapidez desta etapa, e informou que as sementes já estão prontas para a plantação depois da aprovação das empresas pela JND.
As companhias autorizadas deverão se instalar no prédio de propriedade do Estado, no departamento de San José, para plantar o cannabis, que posteriormente será vendido em farmácias que tenham obtido a licença.
Por outro lado, o secretário afirmou que está na fase final o desenvolvimento do software que permitirá a confidencialidade dos dados dos consumidores devidamente registrados e habilitados para comprar a droga.
Romani viajará este sábado a Viena (Áustria) para participar da 58ª Sessão da Comissão de Entorpecentes das Nações Unidas.
Sobre às críticas ao Uruguai feitas pela Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife) em seu relatório anual, divulgado esta semana, ele disse acreditar não caber tais julgamentos a esse órgão vinculado à ONU.
Entre outros aspectos, a Jife reiterou sua "profunda preocupação" pelos "efeitos negativos que a legislação de fiscalização do cannabis do Uruguai poderia ter no funcionamento do sistema internacional de fiscalização de drogas".
"Nós estamos cumprindo as convenções internacionais no contexto dos direitos humanos em que somos referência e que vão contra as políticas repressivas. O que as convenções dizem é que o direito interno habilita os países a tomar determinadas decisões soberanas", observou Romani.
Ele lembrou que as sementes que serão utilizadas na plantação controlada pelo Estado "estão geneticamente marcadas para ser rastreadas", o que possibilitará identificar se uma planta sair do país.
A Jife tem uma visita prevista ao Uruguai quando a venda da droga já estiver em plena vigência.
-
1. Polêmica acesa
zoom_out_map
1/31 (Andres Stapff/Reuters)
São Paulo - A maconha é a droga ilícita mais cultivada, traficada e consumida do mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde. Por essa e diversas outras razões, a erva tem despertado a curiosidade de muita gente na ciência. E não faltam estudos sobre o tema. Reunimos a seguir alguns deles.
-
2. Consumo
zoom_out_map
2/31 (Christopher Furlong/Getty Images)
Cerca de 8 milhões de brasileiros já experimentaram maconha. O dado é do 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, realizado pelo Governo Federal em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Dos 8 milhões que já fumaram a erva, aproximadamente 1,5 milhão faz isso diariamente.
-
3. Entrada?
zoom_out_map
3/31 (John Churchman / Getty Images)
A tese de que a maconha é uma porta de entrada para outras drogas pode não fazer sentido. Pelo menos, foi o que apontou um estudo da universidade de Pittsburgh. Nele, 214 meninos com algum tipo de envolvimento com drogas legais ou ilegais foram acompanhados dos 10 aos 22 anos. No fim do experimento, não foi constatada nenhuma relação direta entre o consumo de maconha e o posterior uso de outras substâncias. Segundo cientistas, fatores como pouca ligação com os pais se mostraram mais influentes no envolvimento com drogas.
-
4. Trabalhadores
zoom_out_map
4/31 (Reprodução)
O consumo de maconha pode ser maior entre os jovens que trabalham do que entre aqueles que não o fazem. A tendência foi apontada num estudo da psiquiatra Delma de Souza, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). No trabalho, ela constatou que 8,6% dos jovens trabalhadores de Cuiabá já consumiram a droga - contra 4,4% entre aqueles que não trabalham. Participaram da pesquisa cerca de 3 mil estudantes com idades entre 10 e 20 anos.
-
5. Crimes
zoom_out_map
5/31 (George Frey/Getty Images)
As taxas de crimes como assalto, assassinato e estupro não aumentaram nos 11 estados americanos que legalizaram o uso da maconha para fins medicinais entre 1990 e 2006. O dado é de um estudo realizado por médicos da universidade de Dallas. Com base em dados do FBI, o levantamento aponta que crimes como homicídio e assalto até diminuíram em alguns estados após a adoção da medida.
-
6. Cérebro
zoom_out_map
6/31 (Photopin)
O consumo regular de maconha pode alterar a estrutura do cérebro. A constatação é de médicos da universidade de Northwestern. Num estudo realizado por meio de ressonâncias magnéticas com 20 pessoas que usavam a droga pelo menos uma vez por semana e 20 que não usavam, eles constataram diferenças de tamanho e forma no órgão daqueles que eram consumidores de maconha. Segundo os cientistas, essas diferenças indicavam que o cérebro tenta se adaptar à exposição à droga.
-
7. Memória
zoom_out_map
7/31 (Stock.XCHNG)
A ideia de que fumar maconha afeta memória pode estar correta. Um estudo da universidade de Northwestern com 97 participantes que já tinham consumido a erva diariamente por cerca de três anos indicou alterações cerebrais nas áreas do órgão responsável pela memória e mau desempenho em testes realizados pelos cientistas. Na época do estudo, todos os voluntários tinham parado de usar a droga havia aproximadamente dois anos.
-
8. QI
zoom_out_map
8/31 (GettyImages)
Cerca de mil neozelandeses participaram de um estudo realizado pela universidade Duke entre 1972 e 2012. De acordo com os pesquisadores, testes realizados aos 13 e aos 38 anos com voluntários que começaram a usar maconha na adolescência e prosseguiram durante a vida apontaram um declínio médio de 8 pontos no quociente de inteligência dessas pessoas.
-
9. Adolescentes
zoom_out_map
9/31 (Getty Images)
A legalização da maconha para fins medicinais vigente hoje em 21 estados americanos e no distrito de Colúmbia não causou aumento do número de usuários adolescentes. O dado é de um estudo realizado pelo hospital de Rhode Island. De acordo com o trabalho que envolveu informações fornecidas por estudantes ao longo de 20 anos em diversos levantamentos, a quantidade de jovens que afirmavam ter consumido maconha no último mês ficou sempre por volta de 20% - antes e depois da legalização.
-
10. Grávidas
zoom_out_map
10/31 (Stock.Xchange)
Um levantamento realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) num hospital da zona norte de São Paulo com 1000 adolescentes grávidas mostrou que 1,7% delas admitia ter usado drogas como maconha e cocaína durante a gravidez. Estudos apontam que o consumo da droga durante a gravidez afeta a formação do bebê.
-
11. Psicoses
zoom_out_map
11/31 (Reprodução)
Distúrbios psicóticos (como alucinações, insônia severa e sensação de angústia intensa) são mais comuns entre pessoas que usam a maconha. A constatação é fruto de um estudo do
Instituto de Psiquiatria de Londres. Nele, 1.900 pessoas entre 14 e 24 anos foram acompanhadas por cientistas por oito anos. No fim, verificou-se que a ocorrência de psicoses era mais comum entre quem usava ou já havia usado a droga do que entre quem nunca havia usado.
-
12. Insetos
zoom_out_map
12/31 (Stock.xchng)
Marcos Patrício Macedo é biólogo e agente da Polícia Civil no Distrito Federal. Por dois anos, ele analisou amostras de maconha à procura de restos de insetos. A partir deles, Macedo conseguiu determinar a origem da erva - que havia sido produzida no Mato Grosso e no Paraguai. O trabalho foi tema de sua tese de mestrado, defendida na Universidade de Brasília.
-
13. Dependência
zoom_out_map
13/31 (PABLO PORCIUNCULA/AFP/Getty Images)
O Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas dos EUA (NIH, em inglês) considera que a maconha pode causar dependência. De acordo com o órgão, 9% dos usuários da droga se tornam dependentes. Segundo o NIH, insônia, ansiedade e diminuição do apetite são alguns dos sintomas que pessoas que sofrem com dependência da maconha costumam sentir em períodos de abstinência.
-
14. Câncer
zoom_out_map
14/31 (Getty Images)
Um levantamento realizado pela faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP) apontou uma relação entre a maconha e a ocorrência de câncer nos testículos. De acordo com a pesquisa, 25% dos pacientes que chegam ao Instituto do Câncer com a doença assumem que consomem maconha regularmente.
-
15. Gordura
zoom_out_map
15/31 (Beto Roma)
Quando você põe uma comida gordurosa na boca, sua língua envia ao cérebro um sinal que estimula a produção de endocanabinóides no intestino. A descoberta é de pesquisadores da universidade da Califórnia. A liberação de endocanabinóides ativa em nosso corpo os canabinóides, que são os mesmo receptores responsáveis pela sensação de "barato" gerada pela maconha.
-
16. Triisteza
zoom_out_map
16/31 (Stock.Xchange)
A tristeza pode ser um fator que leva as pessoas a fumar maconha. Num estudo realizado por médicos do Hospital da Criança de Boston, 40 usuários da droga foram acompanhados via computador por duas semanas. Ao longo do dia e sempre que consumiam maconha, eles deviam responder questionários sobre como estavam. No fim, foi constatado que a maioria da pessoas informava ter sentido sensações negativas nas 24 horas que antecediam o consumo da droga.
-
17. Intoxicação
zoom_out_map
17/31 (Wikimedia/Domínio Público)
O número de crianças que foram vítimas de intoxicação em estados americanos onde a maconha foi parcialmente legalizada cresceu 30% entre 2005 e 2011. Porém, esse número se manteve estável nos outros estados no mesmo período. A publicação científica Annals of Emergency Medicine publicou um estudo sobre o tema. A suspeita é de que a venda de produtos comestíveis contendo princípios ativos da erva justifique o fenômeno.
-
18. Insônia
zoom_out_map
18/31 (Getty Images)
Iniciar o consumo de maconha antes dos 15 anos de idade aumenta em duas vezes as chances de desenvolver insônia e outros problemas relacionados ao sono. A informação foi divulgada num estudo realizado por cientistas da universidade da Pensilvânia com 1.811 pessoas que tiveram contato com a substância.
-
19. Cânhamo
zoom_out_map
19/31 (Wikimedia Commons)
Cientistas da universidade de Minnesota descobriram traços no DNA que diferenciam o cânhamo da maconha. As duas plantas pertencem à espécie Cannabis sativa. Porém, o cânhamo possui uma concentração muito menor do princípio ativo THC (que gera os efeitos alucinógenos da droga) e, por isso, pode ser considerado um primo sóbrio da maconha - sendo usado na indústria têxtil em função de suas fibras.
-
20. Hormônio
zoom_out_map
20/31 (Getty Images)
A pregnenolona é um hormônio que reduz a atividade cerebral do receptor responsável pela sensação de "barato" gerada pela maconha. A descoberta dessa característica foi tema de um artigo publicado na revista Science. Em função desse aspecto, os cientistas estudam a possibilidade de usar o hormônio em métodos de tratamento para pessoas que sejam dependentes da droga.
-
21. Acidentes
zoom_out_map
21/31 (MorgueFile)
Acidentes de trânsito envolvendo pessoas que consumiram maconha se tornaram mais frequentes no estado americano do Colorado após a legalização da erva para fins medicinais em 2009. A universidade do Colorado fez um estudo sobre o tema. No primeiro semestre de 1994, 4,5% dos acidentes na região entravam nessa categoria. No último semestre de 2011, eles eram 10% do total.
-
22. Esclerose
zoom_out_map
22/31 (Rick Wilking/Reuters)
Os espasmos gerados pela esclerose múltipla podem ser aliviados com auxílio da maconha. Pelo menos, é o que indica um estudo realizado por cientistas da universidade da Califórnia. Num experimento com 30 pacientes com idade média de 50 anos, eles constataram o efeito benéfico entre aqueles que fumaram a erva durante o tratamento. Entretanto, mais estudos são necessários para confirmar a descoberta.
-
23. Esquizofrenia
zoom_out_map
23/31 (Desiree Martin/AFP)
A maconha contém uma substância que pode atenuar alguns sintomas da esquizofrenia. Essa substância é o canabidiol e sua relação com a esquizofrenia é estudada por Antonio Zuardi, psiquiatra ligado à Universidade de São Paulo (USP). Ele lembra que o uso isolado de canabidiol não gera efeitos alucinógenos. Essa característica está associada a outras substâncias presentes na erva, como o Tetrahidrocanabinol ou THC (que gera alucinações e não é recomendado para esquizofrênicos).
-
24. Epilepsia
zoom_out_map
24/31 (Reprodução/ Filme Ilegal)
Em abril, a justiça brasileira autorizou que uma mulher importasse legalmente um remédio à base de canabidiol (CDB). Um dos 80 princípios ativos da maconha, o CDB é usado nos EUA em medicamentos para convulsões causadas pela epilepsia. Embora não cure a doença, ele alivia as crises. Entretanto, há dúvidas sobre possíveis efeitos nocivos causados pela substância em tratamentos prolongados.
-
25. Estrogênio
zoom_out_map
25/31 (Paulo Vitale)
Um estudo da universidade de Washington com fêmeas de camundongo mostrou que elas eram 30% mais sensíveis ao efeitos do THC (principal componente alucinógeno da maconha) do que os machos. Segundo os cientistas, a razão disso seria a maior concentração nelas do estrogênio (hormônio ligado ao processo de ovulação e outras características femininas). Esse hormônio as tornaria mais sensíveis ao THC.
-
26. Pulmões
zoom_out_map
26/31 (Manan Vatsyayana/AFP)
Fumar maconha de duas a três vezes por mês não faz mal aos pulmões. A constatação é de um estudo assinado por oito médicos e divulgado na publicação científica Journal of the American Medical Association. Para o artigo, cinco mil americanos entre 18 e 30 anos de cinco cidades diferentes foram submetidos a questionários sobre o uso da erva e sobre suas capacidades físicas.
-
27. Twitter
zoom_out_map
27/31 (Fred Tanneau/AFP)
Mais de 2.320 tuítes com referências à maconha publicados entre maio e dezembro do ano passado foram alvo de uma análise por parte de cientistas da universidade de Washington. Nela, eles constataram que 82% das mensagens sobre a erva eram positivas, 18% eram neutras e apenas 0,3% exibiam opinião expressamente negativa em relação à droga.
-
28. Filhos
zoom_out_map
28/31 (Stock.Xchange)
Filhos de pais que fumaram maconha têm duas vezes mais chances de serem usuários da droga do que a média. A constatação é de um levantamento realizado por pesquisadores da universidade de Houston. O estudo reuniu dados de 655 pais e 1.277 filhos coletados entre 1977 e 2004.
-
29. Diploma
zoom_out_map
29/31 (Stock.Xchng)
Um estudo realizado na Austrália com 3.765 pessoas de até 30 anos constatou que quem começa a fumar maconha diariamente antes dos 17 anos tem 60 por cento de chances de não concluir o ensino médio ou uma faculdade. Realizado por pesquisadores da universidade de New South Wales, o trabalho foi publicado na revista Lancet Psychiatry.
-
30. Genoma
zoom_out_map
30/31 (Svilen Milev / SXC)
Em 2011, a empresa holandesa Medical Genomics sequenciou e publicou na internet o genoma da maconha. Ao todo, os pesquisadores reuniram 131 bilhões de bases de DNA. A partir dos dados obtidos com o trabalho, os cientistas pretendiam descobrir novas propriedades terapêuticas da erva.
-
31. Quer saber mais sobre outro tema polêmico?
zoom_out_map
31/31 (Lynda Sanchez/Flickr)