Maconha: as quantidades a serem produzidas serão estabelecidas em função de estudos de demanda potencial, tanto do mercado interno como do mercado internacional (Desiree Martin/AFP)
Da Redação
Publicado em 14 de janeiro de 2014 às 14h24.
Havana - A guerrilha comunista das Farc propôs nesta terça-feira, em Havana, a regulação da produção e do mercado de cultivos ilícitos na Colômbia por meio de um programa que proteja econômica e legalmente os camponeses dedicados ao cultivo de folha de coca, papoula e maconha.
A proposta, apresentada pelas Farc nos diálogos de paz com o governo colombiano realizados em Havana, enfatiza a "substituição dos usos ilícitos dos cultivos de folha de coca, papoula e maconha", e não a substituição desses cultivos por outros, como pretendem as autoridades colombianas.
A posição da guerrilha permite prever que um consenso em torno deste tema será muito difícil de ser alcançado entre as duas partes, que há 14 meses negociam um acordo de paz que acabe com um conflito armado de meio século.
O plano da guerrilha contempla "regular a produção e o mercado da folha de coca, da papoula e maconha, com base no reconhecimento das qualidades alimentícias, medicinais, terapêuticas e culturais, assim como definir em cada caso suas possibilidades artesanais e industriais", disse à imprensa Pablo Catatumbo, um dos delegados das Farc nos diálogos.
As quantidades a serem produzidas serão estabelecidas em função de estudos de demanda potencial, tanto do mercado interno como do mercado internacional.
Isso leva à formação de um mercado legal de folha de coca, papoula e maconha, controlado pelo Estado através de um sistema de preços de sustentação e de compras estatais", acrescentou.
Catatumbo explicou que este "programa nacional de substituição dos usos ilícitos dos cultivos de folha de coca, papoula ou maconha" está fundamentado em um "plano piloto" proposto em junho de 2000 para Cartagena del Chairá (município do sul da Colômbia) pelo fundador das Farc, Manuel Marulanda (falecido em 2008), durante um processo de paz anterior que não prosperou.
O governo acusa as Farc de envolvimento no narcotráfico, algo que a guerrilha nega.
As partes abordam neste décimo nono ciclo de negociações a questão das drogas, terceiro dos seis pontos da agenda, depois que foram alcançados consensos nos dois primeiros: questão agrária e participação política.
Devem ser abordados ainda os temas do abandono das armas, da reparação das vítimas e a forma de colocar em prática um eventual acordo.
Desde que começaram as negociações de paz, as Farc vêm insistindo que o governo e a comunidade internacional não devem criminalizar os camponeses colombianos que tiram o seu sustento desses cultivos, e sim os grupos de narcotraficantes e as redes de distribuição que existem nos grandes países consumidores.
Este é o quarto processo de paz entre o governo colombiano e as Farc, a maior guerrilha desse país (que tem entre 7.000 e 8.000 combatentes). O processo anterior, conduzido por Marulanda, fracassou há uma década.