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Farc mostram mudança de atitude em 50 anos de conflito

Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia libertaram na terça-feira dois soldados em seu poder após combates no dia 9 em Arauca

Ministro da Defesa colombiano, Juan Carlos Pinzón (c), e comandante Juan Pablo Rodríguez (esq) com soldado Paulo César Rivera, libertado pelas Farc (AFP)

Ministro da Defesa colombiano, Juan Carlos Pinzón (c), e comandante Juan Pablo Rodríguez (esq) com soldado Paulo César Rivera, libertado pelas Farc (AFP)

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Da Redação

Publicado em 26 de novembro de 2014 às 16h17.

Bogotá - Com a libertação na Colômbia de dois soldados e a prometida entrega no sábado de outros três reféns, entre eles um general do Exército, a guerrilha comunista das Farc mostra uma mudança de atitude em 50 anos de conflito armado, segundo especialistas consultados pela AFP.

"A variável política dentro das Farc pela primeira vez em sua história é mais pesada que a militar", explicou Jairo Libreros, especialista em segurança e política latino-americana.

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) libertaram na terça-feira dois soldados em seu poder após combates no dia 9 em Arauca (leste) e, segundo um anúncio nesta quarta-feira do presidente Juan Manuel Santos, entregarão no próximo sábado o general Rubén Alzate, o oficial de mais alta patente capturado pelos rebeldes, assim como outros dois detidos, no dia 16 em Chocó (oeste).

"Este é um passo importante que demonstra a maturidade do processo de paz", disse na terça-feira o presidente Santos, que após as capturas suspendeu os diálogos que realiza há dois anos com as Farc, principal grupo insurgente do país com 8.000 membros, segundo dados oficiais.

Para os especialistas, a disposição em libertar reféns, no âmbito das negociações que transcorrem em Cuba sem um cessar-fogo bilateral na Colômbia, é reflexo de uma transformação nas Farc.

"A variável militar perdeu peso, não apenas porque os principais cabeças da ala militar morreram, mas porque talvez esta seja sua última oportunidade de encontrar uma saída suficientemente digna para seus interesses", disse Libreros.

Segundo Alberto Pinzón, amigo próximo ao falecido chefe máximo das Farc, conhecido como Alfonso Cano e abatido em 2011, na guerrilha "está sendo superada a visão de branco ou preto que se tinha antes".

"Há dez anos as Farc teriam dito que soltariam o general Alzate se libertassem primeiro Simón Trinidad ou alguns presos. Agora, quando o povo exige paz, demonstra estar interessada em buscar soluções", afirmou Pinzón a partir de seu exílio na Europa em uma entrevista no domingo ao jornal colombiano El Espectador.

O guerrilheiro Simón Trinidad foi extraditado aos Estados Unidos em 2004 e condenado em 2008 a 60 anos de prisão pelo sequestro de três americanos.

- 'Marquetalianos' -

Os sequestros frustraram diversas vezes processos de paz com as guerrilhas de esquerda na Colômbia.

Os diálogos de San Vicente del Caguán, que se desenvolveram entre 1998 e 2002 em uma ampla zona desmilitarizada no centro do país, terminaram com o sequestro do senador liberal Jorge Géchem, depois que as Farc desviaram um avião comercial no qual ele viajava.

As negociações de Tlaxcala (México), de 1990 a 1991, que além das Farc envolveram o Exército de Libertação Nacional (ELN, guevarista) e o desaparecido Exército Popular de Libertação (EPL, maoísta), terminaram depois que este último grupo sequestrou o ex-ministro Argelino Durán, que morreu em cativeiro.

No passado, "as Farc tinham apenas uma visão militar, pensavam estrategicamente em se manter no confronto para ter um Estado fraco no momento de se sentar para negociar", disse Libreros.

A situação atual é outra, disse Carlos Medina, analista do Centro de Pensamento e Acompanhamento do Processo de Paz da Universidade Nacional.

"Há uma condução diferente nas Farc: uma geração de comunistas que estudaram na Europa, mais acadêmica. A época dos 'marquetalianos' já passou", afirmou, em referência ao município de Marquetalia (centro-oeste), berço desta guerrilha em 1964.

A trajetória de Timoleón Jiménez ou Timochenko, comandante máximo após a morte de Cano, é diferente da de seu mentor, conhecido como Manuel Marulanda, fundador das Farc, a guerrilha mais antiga do continente.

Enquanto Timochenko estudou medicina na União Soviética e foi treinado na Iugoslávia antes de se unir às Farc em 1979, Marulanda "nunca deixou de ser um camponês", lembrou sua viúva em setembro de 2012.

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