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Familiares recebem aos prantos notícia da explosão de submarino

A Armada anunciou nesta quinta-feira o registro de um ruído repentino compatível com uma explosão, horas depois do último contato do submarino com a base

Submarino desaparecido: "Todos morreram, foi a primeira coisa que pensei", disse uma das esposas (Marcos Brindicci/Reuters)

Submarino desaparecido: "Todos morreram, foi a primeira coisa que pensei", disse uma das esposas (Marcos Brindicci/Reuters)

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AFP

Publicado em 23 de novembro de 2017 às 21h25.

"É a primeira vez que venho à base (naval) e acabo de saber que sou viúva", declarou, aos prantos, Jessica Gopar, esposa de um dos 44 tripulantes do submarino desaparecido em 15 de novembro, após ser informada nesta quinta-feira (23) de uma explosão naquele dia no Atlântico Sul.

Fernando Santilli, eletricista do "ARA San Juan", "foi meu grande amor, tínhamos sete anos de namoro, seis de casamento e temos um filho, Stefano, que custou muito até que Deus nos enviasse", declarou em frente à base naval de Mar del Plata, 400 quilômetros ao sul de Buenos Aires, onde os familiares receberam a notícia.

O filho do casal tem apenas um ano e acabou de aprender a dizer 'papai' durante sua ausência, de acordo com uma carta postada no Facebook de Jessica.

A previsão do tempo em Mar del Plata, como de costume, mudou de repente ao anoitecer. O vento começou a soprar forte e frio do sudeste. O céu azul e límpido da manhã ficou cinza. A base começou a esvaziar. Poucos moradores locais chegavam para rezar. Ninguém colocava mais cartazes de alento. A tristeza dominou tudo.

"Morreram todos"

"Todos morreram, foi a primeira coisa que pensei", disse uma das esposas sobre o momento em que soube da explosão. Tinha em suas mãos um cartão manuscrito com a fotografia de seu filho trazido para deixá-lo na entrada do prédio naval, preenchido com mensagens para a tripulação.

Jessica afirmou que antes da terrível notícia, "deram-me um copo de água e um comprimido para a pressão".

"Não irá me servir de nada uma placa que diz 'os heróis de San Juan'", declarou antes de se afogar novamente em lágrimas.

A Armada anunciou nesta quinta-feira o registro de um ruído violento e repentino compatível com uma explosão no Atlântico, horas depois do último contato do "ARA San Juan" com a base em 15 de novembro.

"Eu me sinto enganada! É impossível que tenham descobrido só agora! São perversos e nos manipularam", declarou enfurecida Itatí Leguizamón, advogada e esposa de German Suarez, operador de sonar do San Juan, ao sair da base naval de Mar del Plata.

"Não nos disseram que estão mortos, mas afirmaram que o submarino está a 3.000 metros (de profundidade). O que se pode entender?!", afirmou em meio a uma crise nervosa.

Quase 100 parentes aguardavam esperançosos dentro da base naval de Mar del Plata, cujo perímetro nos últimos dias foi preenchido com mensagens de encorajamento, imagens religiosas e bandeiras argentinas.

Em instalações da base naval, alguns familiares se abraçavam, outros gritavam inconsoláveis sentados no chão.

A Marinha transmitiu a notícia aos parentes na cidade portuária de Mar del Plata minutos antes de divulgá-la em coletiva na capital argentina.

Inconsolável

A parente de um tripulante, abatida, aproximou-se dos jornalistas, caiu em lágrimas e saiu. Não conseguiu pronunciar uma palavra.

"Ao ouvir a notícia de que todos explodiram lá dentro, os familiares pularam em cima deles e não deixaram que continuassem a ler o comunicado, as pessoas ficaram muito agressivas", contou Itatí sobre a experiência dentro da base.

Leguizamón estava casada há dois anos com Germán Suárez.

"Lançaram buscas para saírem bem na fita, porque enviaram uma merda para navegar. Em 2014 o submarino já havia tido problemas porque não conseguiu emergir. Agora não me importa se sabem de tudo porque ele já não está mais", exclamou a mulher.

"Ele estava preparado para a morte. Sempre se confessava e estava em paz. Ele estava pronto", concluiu Itatí.

A pior tragédia

"Força para as famílias do 44", escreveu com um fio que tinha entre seus pertences Julián Colihuinca, de 19 anos, sobre uma bandeira de plástico que havia acabado de comprar.

"Sou filho de um mergulhador tático, a tragédia pega de perto. Conheço de rosto muitos dos tripulantes", disse à AFP enquanto colocava a bandeira na cerca da base naval.

Da entrada pode-se ver o mar e a cerca de 100 metros de distância fica o espaço dos oficiais, onde a espera angustiante das famílias se transformou em um grito desesperado.

"Dani, volte, traga seus companheiros", escreveram em uma bandeira assinada por várias pessoas, entre elas "mamãe, papai, Isabella, Naty, gêmeos".

Outro cartaz tinha a assinatura dos trabalhadores de Tandanor, o estaleiro argentino que fez a manutenção do submarino que esteve parado entre 2007 e 2014.

"Nós damos tudo de cada um para que voltem a navegar. Agora é a sua vez de trazê-los de volta", disseram a San Juan.

A notícia da explosão deixa pouca margem para a possível existência de sobreviventes.

"É uma tragédia que vai ficar na história", sentenciou Hugo Daniel, de 43 anos, que passava pelo local de bicicleta.

"As máquinas falham, as pessoas que estavam no submarino sabiam a que estavam se expondo", disse este homem, evocando que "nesta base, durante a ditadura militar, faziam torturas. Era um 'centro clandestino de detenção'", recorda uma placa.

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