(Luisa Gonzalez/Reuters)
AFP
Publicado em 17 de janeiro de 2019 às 17h06.
Última atualização em 17 de janeiro de 2019 às 20h24.
Um homem explodiu um carro-bomba nesta quinta-feira em uma academia de polícia no sul de Bogotá. Dez pessoas morreram, inclusive uma cadete equatoriana, e 65 ficaram feridas no "ato terrorista insano", segundo o governo.
O suposto autor foi identificado pelo Ministério Público como José Aldemar Rojas Rodríguez, que entrou às 9h30 local (12h30 de Brasília) em uma caminhonete cinza Nissan Patrol de 1993 na Escola de Oficiais General Francisco de Paula Santander, no sul da capital colombiana.
Embora tudo indique que o homem morreu no ataque, autoridades não confirmaram sua morte ou ligação a algum dos grupos armados que ainda operam na Colômbia, financiados pelo narcotráfico, após o pacto de paz com a antiga guerrilha Farc, em 2016.
Este "ato terrorista insano não ficará impune, os colombianos jamais se submetem ao terrorismo, sempre o derrotamos, esta não será a exceção", disse o presidente Iván Duque em declaração à imprensa ao lado do procurador-geral, Néstor Humberto Martínez.
Duas equatorianas estão entre as vítimas, a cadete Erika Chicó, que morreu, e Carolina Sanango, que sofreu ferimentos leves. As autoridades não deram o número exato de militares mortos.
O veículo, que, segundo o MP, tinha passado por uma revisão em julho de 2018 em Arauca (fronteira com a Venezuela), explodiu durante uma cerimônia de promoção de oficiais e cadetes.
"Ouvi como se o céu tivesse caído na minha cabeça. Foi uma explosão muito grande e, quando saí, havia muita fumaça", disse Rocío Vargas, vizinha do local.
Segundo relatos da polícia, um cão farejador detectou os explosivos. Quando foi descoberto, Rojas acelerou o carro e atropelou um policial. Três militares foram atrás do veículo que, segundos depois, explodiu.
Esse é o pior ato de terror na capital colombiana desde fevereiro de 2003, quando os rebeldes do atual partido Farc detonaram um carro-bomba no clube El Nogal. Trinta e seis pessoas morreram e dezenas ficaram feridas.
Diante do ataque, o presidente Duque precisou voltar às pressas para Bogotá, após cancelar um evento de segurança em Quibdó (noroeste).
"Eu dei a ordem às forças militares e à polícia nacional para mobilizar todas as suas capacidades de inteligência e determinar, em coordenação com o Ministério Público, quem é responsável por este ataque covarde e impedir qualquer ação criminosa", disse.
Ele também alertou: "Nunca vamos ceder a atos de terror, a Colômbia é firme e não se intimida".
Duque, que assumiu o cargo em agosto de 2018, tem endurecido a política de combate às drogas no país, maior produtor de cocaína do mundo, e estabeleceu condições para reavivar as negociações de paz com o Exército de Libertação Nacional (ELN), última guerrilha ativa no país.
Nenhum grupo reclamou a autoria do ataque, e as autoridades não revelaram suas hipóteses sobre a autoria intelectual do ato.
Além do ELN - que, no passado, admitiu ataques com explosivos contra a polícia -, também operam no país gangues de narcotráfico de origem paramilitar e dissidências das Farc, que lutam pelo controle territorial em meio a uma espiral de violência seletiva contra líderes sociais, que já deixou 438 mortos desde janeiro de 2016.
Há um ano, a polícia também foi alvo de um ataque a bomba dentro de uma delegacia em Barranquilla. Seis militares morreram e 40 ficaram feridos. Dias depois, o ELN, cuja delegação de paz está em Havana, assumiu a ação.
Na véspera do ataque desta quinta-feira, um novo grupo de aspirantes a oficiais entrou na escola. Outros, como Jonathan Oviedo, retomaram suas aulas.
"Meu irmão Jonathan, que é cadete, conseguiu falar conosco e nos disse que estava ferido, depois um tenente foi até o telefone e a comunicação foi interrompida. Nos dois anos que ele está na polícia jamais enfrentou uma situação assim", contou Carol Oviedo.
Uma funcionária da saúde das Forças Armadas disse à imprensa que o veículo invadiu "abruptamente" a academia da polícia.
"Ele entrou abruptamente, quase atropelando os policiais e depois explodiu", relatou Fanny Contreras.
Enquanto isso, Duque solicitou a colaboração dos colombianos para "desmantelar a estrutura criminosa" que executou o ataque, embora não tenha mencionado nenhuma organização específica.
Do escritório da ONU na Colômbia até os Estados Unidos, passando pelo governo da Venezuela - com o qual Bogotá congelou as relações - e pelas Farc, autoridades do mundo todo condenaram o ato e expressaram solidariedade.
Com cerca de 8 milhões de habitantes, Bogotá foi abalada por atos esporádicos de terror em 2017. Em fevereiro daquele ano, o ELN assumiu a responsabilidade por um ataque a uma patrulha policial que matou um soldado e feriu gravemente vários outros no bairro de Macarena, em Bogotá.
Nesse mesmo ano, um ataque em um centro comercial de Bogotá deixou três mortos e vários feridos. As autoridades acusaram o Movimento Revolucionário do Povo (MRP), um grupo de esquerda.