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Exploração sustentável é chave para a segurança alimentar

Vencedora do 33º Prêmio Bunge Juventude investiga propriedades funcionais de frutas típicas do Norte do país com o objetivo de fomentar o extrativismo


	 

	“Não basta ter alimento, ele tem de ser sustentável e contemplar aspectos econômicos, sociais, ambientais e culturais das comunidades”, afirmou a pesquisadora
 (Arnaud Clerget/Wikimedia Commons)

  “Não basta ter alimento, ele tem de ser sustentável e contemplar aspectos econômicos, sociais, ambientais e culturais das comunidades”, afirmou a pesquisadora (Arnaud Clerget/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 5 de outubro de 2012 às 09h33.

São Paulo - Conhecer a biodiversidade brasileira e explorá-la de forma sustentável. Para Fernanda Dias Bartolomeu Abadio Finco, professora da Universidade Federal do Tocantins (UFT), esse é o caminho para garantir a segurança alimentar da população.</p>

“Não basta ter alimento, ele tem de ser sustentável e contemplar aspectos econômicos, sociais, ambientais e culturais das comunidades”, afirmou Finco durante o Seminário sobre Segurança Alimentar e Nutricional realizado na Fapesp em 1º de outubro.

O evento reuniu os vencedores do 57º Prêmio Bunge e do 33º Prêmio Bunge Juventude, que em 2012 contemplou os temas “Avaliação Educacional” e “Segurança Alimentar e Nutricional”.

Contemplada na categoria “Juventude”, Finco apresentou resultados de sua pesquisa de doutorado, realizada na Universidade Hohenheim, na Alemanha, cujo objetivo era descobrir e divulgar as propriedades funcionais de frutas típicas da região Norte do Brasil.

“Além de promover o consumo desses alimentos entre a população local, o objetivo é agregar valor aos produtos. Pode ser que alguém se interesse em estudar o processo tecnológico de polpa, por exemplo. Isso pode fomentar o extrativismo”, explicou Finco.

Para identificar frutas interessantes para a pesquisa, o primeiro passo foi conhecer os hábitos alimentares e os aspectos socioeconômicos da população. Foram entrevistados 57 moradores de duas comunidades rurais da Área de Proteção Ambiental Ilha do Bananal/Cantão, região de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica localizada no Tocantins.


O trabalho de campo revelou que 84% dos entrevistados estavam em situação de insegurança alimentar, ou seja, não tinham acesso garantido a alimentos. Paradoxalmente, quase 40% estavam com sobrepeso e 14% eram obesos.

Apesar de os dados indicarem baixo consumo de frutas e hortaliças por essa população, Finco viu na bacaba – fruta extraída de uma palmeira amazônica – uma boa candidata para a pesquisa. “Chegamos a estudar também o jenipapo, mas nos concentramos na bacaba, pois ela mostrou mais potencial”, disse.

A segunda etapa do trabalho foi investigar em laboratório a presença de substâncias antioxidantes na bacaba. “A literatura científica mostra que o consumo de alimentos ricos em antioxidantes está associado a menor risco de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, câncer e doença cardiovascular”, disse Finco.

As análises bioquímicas revelaram a presença de 1.759 compostos fenólicos com potencial ação antioxidante na bacaba. Por meio de ensaios laboratoriais, a pesquisadora comparou a atividade antioxidante dessa fruta com a de outros alimentos funcionais.

“Embora a bacaba perca para o açaí no teor de antioxidantes, está bem à frente do mirtilo ou da cereja, que são alimentos reconhecidos como funcionais, mas de acesso mais difícil no Brasil”, contou.

Por último, a pesquisadora investigou o efeito do extrato de bacaba em linhagens de células de câncer de mama e verificou que os antioxidantes da fruta induzem a apoptose, ou seja, o suicídio das células malignas.


“Mostramos que, no caso da bacaba, isso ocorre pela ativação de complexos proteicos conhecidos como caspases. Mas cada extrato vegetal age de forma diferente”, ressaltou.

A pesquisa foi concluída em agosto de 2011 e teve como desdobramento um projeto de cooperação internacional entre o Brasil e a Alemanha batizado de Eco-Nutrição, no qual Finco coordena uma equipe interdisciplinar.

“Investigamos agora as propriedades funcionais do babaçu. Temos interação com uma empresa, parceria com o doutorado em Ciência Animal da UFT, com pesquisadores da Embrapa, com economistas. A ideia é montar uma rede e buscar apoio governamental. Também pretendemos voltar às comunidades estudadas para trabalhar com educação nutricional”, disse Finco.

Biodiversidade e segurança

Em um debate realizado no fim do seminário, Adalberto Luis Val, membro da Fundação Bunge e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), também ressaltou a importância da biodiversidade brasileira para a segurança alimentar.

“Entre os países produtores de alimento no mundo, o Brasil é o único capaz de ampliar a produção acima de suas necessidades. Mas não podemos fazer isso à custa da destruição dos ambientes que temos hoje no país. Não podemos avançar sem conhecer essa biodiversidade”, afirmou Val.

Também participaram do debate de encerramento Sérgio Alberto Rupp de Paiva, da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, e Valdemiro Carlos Sgarbieri, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O evento foi aberto pelo presidente da Fapesp, Celso Lafer, e pelo presidente do conselho administrativo da Fundação Bunge, Jacques Marcovitch.

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