Protestos no Cairo: eleições no Egito só devem acontecer em setembro (Chris Hondros/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 11 de fevereiro de 2011 às 16h16.
São Paulo - Com a renúncia do presidente do Egito, Hosni Mubarak, a via mais provável de transição do regime político para uma democracia inclui um período de governo de uma junta militar. Para o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas, para que a estabilidade no mundo árabe seja garantida, as forças armadas terão que garantir que política e religião continuem separadas no país.
"O Exército é um dos poucos grupos que têm credibilidade no Egito. Eles são o contraponto a qualquer discurso extremo no país. Então, é papel dele garantir que o caráter secular (não ligado à religião) do regime seja mantido", diz o professor.
Esta manutenção é importante pelo papel central que o Egito tem nas relações internacionais da região. O país é o mais influente do mundo árabe, principalmente no que diz respeito às tensões políticas na Faixa de Gaza, região cobiçada tanto por árabes, quanto por israelenses.
Couto diz que, chegadas as eleições, que estão previstas para setembro de 2011, ainda existe a possibilidade de que grupos com um discurso religioso mais radical liderem o país. Por isso, a junta militar que assumir a transição deve garantir mudanças até mesmo constitucionais para manter apenas grupos laicos na disputa presidencial.
Israel
Segundo o cientista político, o caráter secular do regime egípcio foi um dos principais responsáveis pelas boas relações do país com o mundo árabe e com Israel. Além da Jordânia, o Egito é o único país árabe a reconhecer a legitimidade do estado judeu.
"Por isso enfatizo a importância de se manter um estado laico no Egito. O grupo que chegar ao poder depois das eleições precisa continuar reconhecendo Israel como nação, e mantendo boas relações com o país. Disso depende a estabilidade na região".