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Da Redação
Publicado em 24 de outubro de 2012 às 14h05.
Bani Walid - O exército da Líbia reforçou nesta quarta-feira sua presença na cidade de Bani Walid, que parece ter se transformado em uma cidade fantasma após quase três semanas de combates entre as forças regulares e milícias leais ao ex-ditador Muamar Kadafi.
Desde o início da manhã, centenas de soldados e milicianos pró-governo patrulham a cidade e seus arredores, enquanto aviões militares sobrevoam a região para se assegurar que não existem mais combatentes insurgentes no local.
Os chefes militares fecharam a entrada da cidade, de onde milhares de famílias fugiram dos enfrentamentos das últimas semanas, e só autorizaram o ingresso de jornalistas após uma longa espera.
Segundo um oficial da brigada pró-governamental "Deraa Líbia", os rebeldes fugiram para locais desconhecidos. O oficial, que falou sob condição de anonimato, acrescentou que desde ontem, quando as forças regulares retomaram o controle de Bani Walid, situada a cerca de cem quilômetros de Trípoli, não foi registrado nenhum enfrentamento na cidade.
No entanto, reconheceu que ainda permaneciam "alguns focos de resistência" nas proximidades do aeroporto da cidade e na região próxima de Dahra.
O miliciano acrescentou que as operações de rastreamento de suspeitos, que começaram na tarde de ontem, ainda continuam por todas as ruas da cidade.
A atenção está voltada para os telhados das casas e edifícios, que ainda podem abrigar franco-atiradores. No centro da cidade, da mesma forma que em outros bairros, dezenas de militares e milicianos leais ao atual regime festejam com tiros para o ar a tomada da zona, uma das últimas fortificações do regime de Muammar Kadafi a cair em mãos dos rebeldes durante o levante popular de 2011.
Pelas ruas que levam ao centro da Bani Walid não se percebe a presença de combates, mas não há sinal de celular e pelo menos uma central elétrica está totalmente queimada.
Enquanto os militares e as forças governamentais retomam a cidade, uma missão composta por médicos e enfermeiros iniciou os trabalhos para recuperar os hospitais locais.
Ontem à noite, o presidente do Parlamento, Mohammed al Magrif, máxima autoridade do país, voltou a negar que as operações contra Bani Walid foram dirigidas contra a população e garantiu que o ataque foi realizado contra grupos fora da lei.
Segundo Magrif, os criminosos mantinham a população sob seu domínio e transformaram o local em "refúgio para todos os procurados pela justiça" e "os inimigos da revolução".
Além disso, Magrif acusou os insurgentes de Bani Walid de sequestrar e torturar moradores de várias regiões do país.
Bani Walid, berço da tribo Warfala, uma das maiores do país, mantém uma relação tensa com as autoridades, assim como com a cidade de Misrata, de onde é originária a milícia "Deraa Líbia", desde os últimos momentos do conflito armado que acabou com o regime de Kadafi.
Bani Walid permaneceu fiel ao regime Kadafista inclusive depois da queda de Trípoli, em 20 de agosto, e manteve sob domínio as forças rebeldes até 17 de Outubro, quando as forças do regime foram derrotados pelos insurgentes, que vieram em sua maioria de Misrata.
A cidade sempre foi acusada pelos antigos insurgentes e agora governo de apoiar Kadafi e abrigar criminosos. No entanto, em Bani Walid as forças regulares e principalmente as milícias de Misrata são acusadas de revanchismo e de assassinatos de moradores.