Publicado em 28 de setembro de 2024 às 08h38.
Última atualização em 28 de setembro de 2024 às 08h59.
*Reportagem atualizada às 08h52 para incluir a confirmação oficial do Hezbollah
O Exército de Israel anunciou neste sábado, 28, que "eliminou" o líder do movimento islamista libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah, em um bombardeio na sexta-feira contra um reduto do grupo em Beirute.
"Hassan Nasrallah está morto", afirmou um porta-voz do Exército, Nadav Shoshani, na rede social X. Outro porta-voz, David Avraham, confirmou à AFP que o chefe do Hezbollah foi "eliminado".
O Hezbollah, arqui-inimigo de Israel, confirmou oficialmente a morte de seu líder em comunicado divulgado nas últimas horas, após os bombardeios das forças israelenses contra seu reduto na periferia sul da capital libanesa, que teve como alvo o "quartel-general central do Hezbollah".
Em declaração, o grupo afirmou que continuará sua batalha contra Israel "em apoio a Gaza e à Palestina, e em defesa do Líbano e de seu povo firme e honrado", segundo reportagem da agência Reuters.
Um comunicado militar informa que Ali Karake, identificado como comandante da frente sul do Hezbollah, também morreu nos bombardeios, junto a um número não determinado de outros comandantes do grupo.
"Durante os 32 anos de mandato de Hassan Nasrallah como secretário-geral do Hezbollah, ele foi responsável pela morte de muitos civis e soldados israelenses, assim como pelo planejamento e execução de milhares de atividades terroristas", afirma a nota.
O comunicado ainda ressalta: "Ele foi responsável por dirigir e executar ataques terroristas em todo o mundo, nos quais morreram civis de diversas nacionalidades. Nasrallah tomava as decisões como líder estratégico da organização."
Nasrallah esteve à frente do Hezbollah por mais de três décadas, consolidando o grupo como uma força militar e política relevante na região. O impacto de sua liderança reverbera não só no Líbano, mas em todo o Oriente Médio.
Israel intensificou os ataques no Líbano desde a semana passada, primeiro com uma ação que explodiu pagers e rádios de comunicação do Hezbollah. Depois, passou a fazer uma série de bombardeios e fiz mirar líderes e instalações do grupo. Mais de 500 pessoas foram mortas por esses ataques nos últimos dias.
Na sexta-feira, 27, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu discursou na Assembleia Geral da ONU. Recorrendo à narrativa bíblica de Moisés, Netanyahu afirmou que a região poderia ter como desfecho "uma bênção" ou "uma maldição", mesmo termo que usou para se referir ao atentado de 7 de outubro do ano passado, lançado pelo Hamas contra Israel.
Momentos depois, o premiê sacou um mapa e apresentou o que disse ser a "bênção" para a região, uma integração incluindo Israel, Arábia Saudita, Egito e outros países da região, que se aproximavam antes da crise regional, e o que seria a "maldição", com o aumento da influência e das atividades do chamado Eixo da Resistência chegando cada vez mais perto da Europa.
"Se você pensa que este mapa negro é uma maldição apenas para Israel, se você pensa isso, você deveria pensar de novo. Porque a ameaça do Irã, se não observada, vai colocar em risco cada um dos países do Oriente Médio e vários países ao redor do mundo", afirmou, referindo-se às atividades do Irã pelo mundo e o programa de mísseis do país.
Autoridades ocidentais, incluindo o presidente americano, Joe Biden, fizeram apelos nos últimos dias para que Israel busque a via diplomática para solucionar suas questões de segurança na fronteira com o Líbano. Embora Washington tenha defendido o direito israelense de se defender, a Casa Branca tenta atuar para uma desescalada, tanto em Gaza quanto no norte, patrocinando a ideia de um cessar-fogo.
No entanto, as pressões internas no governo israelense complicam a aceitação do acordo. Membros da ala ultranacionalista, incluindo o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, se opõem veementemente a qualquer tipo de cessar-fogo, afirmando que a única solução seria a rendição total do Hezbollah. Esses líderes políticos argumentam que dar tempo ao Hezbollah permitiria ao grupo rearmar-se e continuar a guerra.
O ministro das Relações Exteriores libanês, Abdallah Bou Habib, apelou à ONU para que intervenha antes que a situação se torne incontrolável, agravando ainda mais a crise humanitária no país. O Líbano abriga cerca de 1,5 milhão de refugiados sírios, muitos dos quais também foram atingidos pelos recentes bombardeios israelenses.
A situação no Líbano, agravada pela crise econômica e política, ameaça desestabilizar ainda mais a região. Enquanto as negociações diplomáticas prosseguem, a possibilidade de uma nova guerra envolvendo Israel e o Hezbollah continua a ser uma preocupação global.
Dois brasileiros foram mortos em bombardeios no Líbano. Kamal Abdallah, de 15 anos, nascido em Foz do Iguaçu, e seu pai, Kamal Hussein Abdallah, de 64 anos, de nacionalidade paraguaia, morreram após um foguete atingir a cidade de Kelya, no Vale do Bekaa. A família havia morado no Brasil por mais de uma década antes de retornar ao Líbano, onde abriram uma empresa em Sohmor, cidade próxima ao local do ataque.
Outra vítima brasileira foi Mirna Raef Nasser, de 16 anos, nascida em Balneário Camboriú, Santa Catarina. Mirna havia se mudado para o Líbano ainda criança e vivia na mesma cidade da família Abdallah, em Kelya. Ela era vizinha de Ali Kamal e morreu em um ataque aéreo que atingiu a região. A notícia da morte de Mirna abalou familiares e amigos, que relataram a convivência próxima entre as duas famílias.
A Força Aérea Brasileira (FAB) já se prepara para uma possível operação de resgate de brasileiros no Líbano, caso o governo decida evacuar seus cidadãos da região de conflito. A aeronave que será utilizada na operação, o KC-30, é a mesma que foi enviada anteriormente para resgatar brasileiros que estavam na Faixa de Gaza. Com capacidade para mais de 230 passageiros, o avião tem autonomia de voo de até 12 horas, permitindo uma viagem direta do Brasil ao Líbano, sem escalas consideráveis.
Fontes da Aeronáutica afirmaram estar "de prontidão" para o caso de o governo brasileiro dar o aval para a missão. Além disso, a Embaixada do Brasil em Beirute já começou a consultar os cidadãos brasileiros que vivem no Líbano sobre o interesse em receber apoio para deixar o país. A ordem para iniciar essas consultas foi dada pelo chanceler Mauro Vieira, que acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral da ONU em Nova York.
Israel faz uma onda de ataques ao grupo Hezbollah, do Líbano, desde a semana passada. Primeiro, houve uma série de explosões de pagers e rádios de comunicação usados pelo grupo, que matou dezenas de pessoas e deixou cerca de 3.000 feridos. Em represália, o Hezbollah lançou mísseis contra o norte de Israel.
Em seguida, vieram fortes bombardeios do Israel ao Líbano, em alvos ligados ao Hezbollah, que já dura alguns dias.
O Hezbollah é considerado uma entidade terrorista pelos Estados Unidos, por Israel e outros países. O grupo paramilitar foi formado nos anos 1980, para lutar contra Israel, que ocupava partes do Líbano na época. Mesmo com o fim da guerra entre os países, nos anos 2000, os dois lados seguiram trocando ataques esporádicos.
A partir de outubro de 2023, o Hezbollah fez uma série ataques a Israel como represália pela invasão israelense da Faixa de Gaza, o que fez com que centenas de moradores da região tivessem de deixar suas casas. O governo israelense diz que a operação atual contra o Hezbollah tem como objetivo permitir que os moradores israelenses desalojados voltem para casa.
"Estamos intensificando nossos ataques no Líbano, as ações continuarão até que alcancemos nosso objetivo de retornar os moradores do norte com segurança para suas casas", disse o Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, em um vídeo na segunda-feura, 23.