Soldado iraquiano: controle de Baiji deverá garantir a proteção da refinaria que é sitiada pelos jihadistas há meses (Mohammed Sawaf/AFP)
Da Redação
Publicado em 14 de novembro de 2014 às 15h06.
Kirkuk - As forças iraquianas retomaram o controle da cidade estratégica de Baiji, após quatro semanas de combates, em uma rara vitória contra os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI).
De acordo com as autoridades iraquianas, as forças de segurança, auxiliadas por milícias xiitas e tribos sunitas apoiadas pelos ataques aéreos da coalizão internacional, conseguiram expulsar os jihadistas do EI desta cidade estratégica, localizada na estrada de acesso à maior refinaria de petróleo do Iraque.
Trata-se da maior cidade recuperada pelas forças armadas desde o início, em 9 de junho, da ofensiva jihadistas que permitiu ao grupo assumir grandes faixas de território ao norte, leste e oeste de Bagdá.
O controle desta cidade localizada 200 km ao norte de Bagdá deverá garantir a proteção da refinaria que é sitiada pelos jihadistas há meses. Também deve ajudar a isolar ainda mais os extremistas em Tikrit, mais ao sul, das demais áreas controladas pelo EI.
Após o ataque lançado em 17 de outubro, "as forças iraquianas conseguiram assumir o controle total de Baiji", onde finalmente entraram em 31 de outubro, declarou Ahmad al-Krayim, presidente da província de Salaheddin.
"Eles estão à caminho da refinaria de Baiji", que fornecia até metade dos produtos de origem petrolífera do país antes da ofensiva jihadista, acrescentou.
O EI tenta há meses controlar a refinaria, sem sucesso. A ofensiva afetou a produção de petróleo no norte do Iraque, mas os principais campos e terminais de exportação do sul do Iraque não foram afetados.
Exemplo
A tomada de Baiji é um dos poucos sucesso das tropas iraquianas, incapazes de resistir aos avanços jihadistas, com muitos soldados e policiais abandonando suas posições.
Mas elas têm tentado recuperar o terreno após a nomeação de um novo primeiro-ministro, Haidar al-Abadi, e a formação de um governo composto por todas as comunidades, depois de anos de divisões entre a maioria xiita e a minoria sunita, marginalizada.
O apoio aéreo dos Estados Unidos foi fundamental na recuperação de certas regiões, bem como a ajuda dos combatentes xiitas e curdos e de tribos sunitas.
Entre as principais reconquistas desde agosto estão a da Represa de Mossul (norte), a maior do país, bem como de diversas cidades ao norte de Bagdá -Amerli, Suleiman Bek-, e uma grande parte de Dhuluiya e Jurf al-Sakhr, uma região ao sul de Bagdá.
Em visita a Jordânia, o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, citou o exemplo de Baiji na guerra contra o EI.
"Enfraquecer e, finalmente, destruir o EI não acontecerá em uma noite (...) Mas não se enganem: sairemos vitoriosos. Particularmente no Iraque, onde temos registrado progressos constantes. Acredito que todos vocês tenham visto isso recentemente em Baiji", declarou.
No mesmo dia, o EI divulgou uma gravação de áudio atribuída a seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, na qual ele alerta que os ataques da coalizão não vão parar a expansão do grupo e diz que os países da coalizão serão forçados a enviar tropas terrestres para combatê-los.
Crimes contra a Humanidade
Esta gravação aparece após rumores de sua morte em um ataque da coalizão contra um grupo de líderes do EI perto de Mossul.
Além dos ataques aéreos, os Estados Unidos dobraram sua presença no Iraque, com 3.000 soldados para treinar, aconselhar e ajudar as forças iraquianas, mas excluíram o envio de tropas terrestres.
O EI, que proclamou no final de junho um califado nos locais em que controla no Iraque e na Síria, também está envolvido no complexo conflito sírio, onde enfrenta ao mesmo tempo os rebeldes e as forças do regime.
Suas forças se concentram atualmente na cidade curda de Kobane (norte), que tenta conquistar há dois meses frente a resistência feroz das forças curdas apoiadas pelos aviões da coalizão.
Neste contexto, a Comissão de Inquérito das Nações Unidas sobre os crimes na Síria, dirigida pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, acusou nesta sexta-feira em um comunicado o grupo extremistas de crimes de guerra e contra a Humanidade.
Em seu primeiro relatório detalhado sobre o grupo publicado nesta sexta-feira em Genebra, a Comissão estabelece uma longa lista de crimes, documentados por cerca de 300 depoimentos de vítimas e testemunhas, com assassinatos em massa contra grupos étnicos e religiosos, decapitações, escravidão sexual e gravidez forçada.