Militar recebe flor no Egito durante protesto: exército disse que nunca vai "utilizar a força contra a população" (Chris Hondros/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 4 de fevereiro de 2011 às 18h23.
Cairo- O compasso de espera do exército egípcio, que não utiliza a força contra os manifestantes, mas também não se opõem aos ataques, suscita interrogações e uma certeza: seu papel será decisivo, qualquer que seja o resultado da crise, sangrento ou político.
Cumplicidade com a repressão policial, prudência ante uma situação instável, hierarquia dividida, vontade de ganhar tempo para negociar uma saída ao presidente Hosni Mubarak: os especialistas se perguntam sobre as razões para tal atitude.
Essas questões "mostram que muitas coisas acontecem dentro do sistema e do exército", garantiu um diplomata ocidental, que preferiu não ter o nome divulgado.
O primeiro oficial a ir, em pessoa, à Praça Tahrir (Libertação), no Cairo, ocupada por insurgentes anti-Mubarak, foi o ministro da Defesa, Mohamed Hussein Tantaoui, nesta sexta-feira, para "inspecionar a situação".
E o americano de maior patente, o almirante Mike Mullen, afirmou ter recebido a garantia da hierarquia militar egípcia de que as tropas não abririam fogo contra os manifestantes, esperados em massa através do país para reivindicar a saída do presidente Mubarak.
"O exército, ou seja, o Estado Maior e não os serviços de inteligência, não quer dar a impressão de interferir porque quer assumir o poder. Está esperando até que peçam sua ajuda, para aparecer como salvador", julgou Imad Gab do centro de estudos Al-Ahram do Cairo.
O exército forneceu ao país todos seus presidentes - Mohamed Naguib, Gamal Abdel Nasser, Anuar al-Sadate e Hosni Mubarak - desde a queda da monarquia em 1952.
Leal ao regime do qual constitui a espinha dorsal, o exército também é respeitado pela população, uma herança que veio da tradição de não agressão durante manifestações populares e das lembranças das guerras entre árabes e israelenses.
Para Tewfik Aclimandos, especialista em Egito, em particular no exército do país, no Collège de France, várias explicações podem ser dadas:
- "Pode se tratar de uma divisão de papéis, no modelo do 'policial bom e policial mal'" entre a polícia e os capangas do regime para atacar os manifestantes e o exército para dar uma falsa impressão de neutralidade.
- "O exército não saberia manter a ordem". Não tem tradição, nem a formação e muito menos vontade, além de ser difícil pedir aos alistados que abram fogo contra civis.
- A indecisão dos militares no território reflete a hesitação da alta hierarquia e do regime. "Eles não recebem instruções da cúpula, porque a própria cúpula não sabe o que fazer". O alto escalão "não quer confrontar a população e tampouco quer expulsar o presidente" como a multidão reclama, considerou Tewfik Aclimandos.
- "Ganhar tempo", para negociar uma saída honrosa do presidente e as condições de uma transição.
Apesar de sua cultura baseada no segredo, o dispositivo militar deixa filtrar algumas tensões internas.
O vice-presidente, o general Omar Suleiman, é bem visto pelos americanos e pelos israelenses, mas o ex-chefe dos serviços secretos personifica também a herança do período Mubarak.
Jovens oficiais, por exemplo, poderiam querer desempenhar um papel maior ante uma velha guarda militar muito ligada ao presidente no poder há três décadas.
O chefe do Estado Maior Sami Anan, interlocutor regular dos americanos nesses últimos tempos, pode sair do jogo. A menos que saia o primeiro-ministro, o general Ahmad Shafic, ex-ministro da Aviação. Shafic poderia tranquilizar tanto os militares quanto a economia.
A chave para a atitude final do exército ainda estaria, no entanto, nos Estados Unidos. Pesa na balança os 1,3 bilhão de dólares da ajuda americana enviada anualmente às forças egipcianas.