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Exército de Israel bombardeia Beirute; alvo seria chefe de unidade de drones do Hezbollah

Ataque foi lançado em Dahieh, perto de onde um bombardeio israelense matou na sexta-feira Ibrahim Aqil, que era chefe das operações militares do Hezbollah e comandante interino da força de elite Radwan

Agência o Globo
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Publicado em 26 de setembro de 2024 às 11h22.

Última atualização em 26 de setembro de 2024 às 12h02.

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O Exército israelense anunciou que está realizando "bombardeios direcionados" nesta quinta-feira em Beirute, após o governo rejeitar um pedido de cessar-fogo com o movimento xiita libanês Hezbollah formulado por Estados Unidos, França e outros países. À agência AFP, uma fonte próxima ao Hezbollah no
Líbano afirmou que o ataque teve como alvo um comandante do grupo apoiado pelo Irã na periferia sul da capital. Já o canal de notícias Saudi Al-Hadath afirmou que o alvo era o comandante da unidade aérea do Hezbollah, que inclui a área de drones.

De acordo com a informação, o ataque — que deixou um morto e dois feridos, segundo a agência libanesa Mayadeen — foi lançado em Dahieh, perto de onde um bombardeio israelense matou na sexta-feira Ibrahim Aqil, que era chefe das operações militares do Hezbollah e comandante interino da força de elite Radwan, e cerca de 50 pessoas, incluindo outros 15 membros do grupo.

O novo ataque em Beirute ocorreu um dia depois de o Exército de Israel ter convocado para a área de fronteira com o Líbano duas brigadas de reservistas, e o chefe do Estado-Maior do Exército israelense, o tenente-general Herzi Halevi, ter dito a soldados posicionados na região que os ataques aéreos israelenses lançados desde segunda-feira têm a intenção de "preparar o terreno" para um possível invasão terrestre. A declaração foi feita após o Hezbollah ter disparado pela primeira vez um míssil contra Tel Aviv. O projétil Qader 1, interceptado pela Funda de Davi — um dos vários sistemas de defesa antiaérea israelense —, representou o ataque mais profundo contra o território de Israel desde a intensificação do conflito na semana passada.

"O objetivo é muito claro: trazer de volta os residentes do norte"m disse Halevi nesta quarta-feira aos soldados, referindo-se aos estimados 60 mil israelenses forçados a deixar a região desde outubro do ano passado. "Para fazer isso, estamos preparando o processo de manobras, e a importância disso são suas botas militares, botas entrando no território do inimigo, nas vilas que o Hezbollah preparou como um grande destacamento militar, com infraestrutura subterrânea, com pontos de lançamento para ataques dentro do território israelense contra civis do país".

Em meio à continuidade de ataques dos dois lados, com o Líbano registrando centenas de mortos e milhares de feridos, os Estados Unidos tentavam na quarta-feira um novo esforço diplomático para evitar que os dois lados entrem em uma guerra total — algo que poderia abarcar toda a região. O risco de que as hostilidades se espalhem ficou visível com o lançamento nesta quarta de drones contra a cidade israelense de Eilat pela Resistência Islâmica no Iraque, um grupo também pró-Irã. Um deles chegou à cidade, ferindo de forma leve duas pessoas.

Esforço pelos dois conflitos

Na noite desta quarta-feira, os EUA, ao lado da França, lideraram um grupo de países em um pedido conjunto por um cessar-fogo de 21 dias para, segundo o comunicado da Casa Branca, " fornecer espaço para a diplomacia em direção à conclusão de um acordo diplomático" e permitir "que civis de ambos os lados da fronteira retornem para suas casas em segurança".

"Apelamos a todas as partes, incluindo os governos de Israel e Líbano, para endossarem o cessar-fogo temporário imediatamente consistente com a Resolução do Conselho de Segurança da ONU 1701 durante este período, e para darem uma chance real a um acordo diplomático", diz o texto, assinado por Estados Unidos, Austrália, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Catar, além da União Europeia. "Estamos então preparados para apoiar totalmente todos os esforços diplomáticos para concluir um acordo entre o Líbano e Israel dentro deste período, com base nos esforços dos últimos meses, que acabe com esta crise completamente."

"A notícia sobre um cessar-fogo é incorreta. Esta é uma proposta franco-americana, para a qual o primeiro-ministro sequer respondeu", informou o Gabinete de Netanyahu em um comunicado nesta quinta, antes do discurso do líder israelense na Assembleia Geral da ONU na sexta-feira. "A notícia sobre uma suposta diretiva para moderar a luta no norte é também o oposto da verdade. O premier instruiu que [as Forças Armadas de Israel] continuem a lutar com força total, e em acordo com os planos apresentados a ele".

EUA e França ainda buscam maneiras de unificar as negociações envolvendo o conflito no Líbano e a guerra em Gaza, que não foi incluída no pedido desta quarta-feira. A ideia é ganhar tempo para permitir negociações para a libertação dos reféns mantidos pelo grupo terrorista Hamas há mais de 11 meses, um fim para a guerra no enclave palestino e um acordo diplomático que inclua a retirada do grupo xiita libanês da área de fronteira. Às margens da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França, Emmanuel Macron, se encontraram nesta quarta-feira para discutir os caminhos para um cessar-fogo "e evitar uma guerra maior", disse um comunicado.

Segundo o jornal israelense Haaretz, o esforço de EUA e França inclui vários países árabes, como o Egito e o Catar, que já negociavam a libertação dos reféns em troca de prisioneiros palestinos. Apesar de avaliarem que a concentração de forças israelenses na fronteira seja apenas uma estratégia para pressionar o Hezbollah por concessões, os EUA estão diretamente instando Israel a evitar uma invasão terrestre do Líbano ao mesmo tempo em que pressionam Beirute a convencer o Hezbollah a parar os disparos e concordar com uma retirada tática.

A França mantém diálogo com o governo libanês e tem um contato direto com o Hezbollah e o Irã. Em seu discurso perante a Assembleia Geral da ONU nesta quarta-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que seu chanceler, Jean-Noël Barrot, visitará Beirute para tentar alcançar um cessar-fogo. Um diplomata ocidental alertou que qualquer acordo que não inclua Gaza alcançaria somente um cessar-fogo temporário com o Hezbollah — o grupo xiita já advertiu diversas vezes que não vai parar os disparos enquanto não houver uma trégua no enclave.

A pedido da França, o Conselho de Segurança da ONU fez uma reunião de emergência nesta quarta-feira em Nova York, onde a preocupação com a escalada entre o Exército israelense e o Hezbollah vem dominando os debates da Assembleia Geral.

Pânico e desespero

Segundo o principal porta-voz militar de Israel, Daniel Hagari, desde segunda-feira, o dia mais letal no conflito de décadas entre os dois lados, Israel atacou mais de 2 mil alvos no Líbano. Os ataques espalharam pânico e desespero no país e, desde segunda-feira, forçaram o deslocamento de mais de 90 mil pessoas, de acordo com informações da ONU nesta quarta-feira — desde que as hostilidades começaram entre as partes, em outubro do ano passado, 113 mil libaneses já haviam deixado a área de fronteira.

Carros civis congestionam as principais estradas que levam a Beirute, enquanto muitos na capital buscaram segurança em montanhas ou mais ao norte do país. Segundo fontes da segurança síria, 22 mil pessoas fugiram do Líbano para a Síria em dias recentes, em uma reversão do fluxo de refugiados em mais de uma década para a direção contrária.

A tensão disparou entre os dois países desde a semana passada, quando foram detonados milhares de pagers e centenas de walkie-talkies que os membros do Hezbollah usavam para se comunicar, deixando dezenas de mortos e milhares de feridos, explosões seguidas na sexta pela morte de Aqil.

Nesta quarta-feira, o primeiro-ministro de Israel reiterou que o esforço militar será mantido até que os israelenses forçados a sair do norte do país possam voltar a suas casas — o retorno das dezenas de milhares de pessoas para a região de fronteira foi incluído como objetivo de Israel no conflito em 16 de setembro.

“Estamos desferindo golpes no Hezbollah que ele nunca imaginou. Estamos fazendo isso com força e astúcia. Posso prometer uma coisa: não descansaremos até que [as pessoas deslocadas no norte] retornem para suas casas”, disse o premier em comunicado.

Apesar do disparo do míssil na direção de Tel Aviv nesta quarta, a resposta do Hezbollah até agora vem sendo restrita, com lançamento de projéteis em frações mínimas do que é capaz de disparar. Especialistas especulam que a resposta limitada poderia ter a ver com a desorganização sofrida pelo movimento após o ataque contra os dispositivos de comunicação da semana passada ou mesmo a uma pressão do Irã por contenção.

Vídeos gravados em solo israelense mostram diversos projéteis sendo interceptados durante o voo e sirenes de alerta ecoando pela região. Segundo o Hezbollah, o principal projétil disparado contra o Estado judeu era um míssil Qader 1, de fabricação iraniana, com alcance operacional estimado em 300 km (Tel Aviv está a cerca de 100 km da fronteira com o Líbano). O alvo, disseram fontes libanesas, seria a sede do Mossad, o serviço secreto israelense, apontado como o responsável pela detonação dos pagers e walkie-talkies. Apesar de o míssil não ter deixado danos ou feridos em Tel Aviv, a parte central do núcleo urbano densamente povoado de Israel, seu lançamento representa um marco inquietante na escalada rápida do conflito.

À rede americana CNN, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, disse que a Casa Branca considerou o ataque do Hezbollah em Tel Aviv “muito preocupante”, embora ainda pense que uma solução diplomática seja possível. Em declarações separadas ao “Today Show”, da NBC, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, também apelou a uma solução diplomática para o conflito, afirmando que “o que todos querem é ter um ambiente seguro onde as pessoas possam ir para casa”.

"A melhor maneira de conseguir isso não é por meio da guerra, não é por meio de uma escalada, seria por meio de um acordo diplomático", disse Blinken, também citando as negociações de cessar-fogo entre o Hamas e Israel.

O diretor da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, temer “uma guerra total” que faça o Líbano virar uma nova Faixa de Gaza, e o papa Francisco denunciou a “terrível escalada” no Líbano, que chamou de “inaceitável”. O pontífice ainda pediu à comunidade internacional que faça todo o possível para acabar com a crise.

Por que Israel está fazendo ataques?

Israel faz uma onda de ataques ao grupo Hezbollah, do Líbano, desde a semana passada. Primeiro, houve uma série de explosões de pagers e rádios de comunicação usados pelo grupo, que matou dezenas de pessoas e deixou cerca de 3.000 feridos. Em represália, o Hezbollah lançou mísseis contra o norte de Israel.

Em seguida, vieram fotes bombardeios do Israel ao Líbano, em alvos ligados ao Hezbollah, que já dura alguns dias.

O Hezbollah é considerado uma entidade terrorista pelos Estados Unidos, por Israel e outros países. O grupo paramilitar foi formado nos anos 1980, para lutar contra Israel, que ocupava partes do Líbano na época. Mesmo com o fim da guerra entre os países, nos anos 2000, os dois lados seguiram trocando ataques esporádicos.

A partir de outubro de 2023, o Hezbollah fez uma série ataques a Israel como represália pela invasão israelense da Faixa de Gaza, o que fez com que centenas de moradores da região tivessem de deixar suas casas. O governo israelense diz que a operação atual contra o Hezbollah tem como objetivo permitir que os moradores israelenses desalojados voltem para casa.

"Estamos intensificando nossos ataques no Líbano, as ações continuarão até que alcancemos nosso objetivo de retornar os moradores do norte com segurança para suas casas", disse o Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, em um vídeo nesta segunda.

O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, disse que há um plano de destruição lançado por Israel contra o seu país e apelou à ONU e aos países influentes para "dissuadirem" o governo israelense.

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