Al Qariatain: centenas de habitantes foram até a praça central para recebê-los (Omar Sanadiki/Reuters)
AFP
Publicado em 30 de outubro de 2017 às 17h23.
Há pouco mais de uma semana Manaf acreditava que sua vida estava por um fio. Neste fim de semana foi recebido como um herói, junto com outros 24 ex-reféns do grupo extremista Estado Islâmico (EI) em uma cidade do centro da Síria.
"Estava morto e voltei à vida", disse à AFP em Al Qariatain, cidade capturada no início de outubro pelo EI antes do grupo ultrarradical ser expulso, 20 dias depois, pelo Exército sírio.
Mas antes de retomarem a localidade, os extremistas cometeram um massacre e executaram pelo menos 116 civis que acusavam de colaborar com as tropas do governo, segundo a ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Os extremistas também sequestraram 38 homens jovens, de acordo com o governo.
Alguns deles, como Manaf e seu irmão Mohamad, conseguiram fugir. Foram levados no domingo (29) para Al Qariatain em um ônibus do Exército sírio, que organizou uma visita da imprensa para a ocasião.
Em sua chegada, centenas de habitantes foram até a praça central para recebê-los. Emocionadas, as mães davam empurrões para abrir caminho e finalmente ver seus filhos.
Treze homens jovens continuam sequestrados, enquanto suas famílias, angustiadas, não sabem sobre seu destino.
Os jovens que voltaram sãos e salvos foram carregados nos ombros e aclamados pelos habitantes, que os receberam com gritos de alegria e jogando arroz.
De repente, Manaf vê seus pais e sua irmã pequena entre a multidão. Corre e abraça sua mãe, chorando.
"Minha alegria é indescritível (...). Não quero mais nada da vida, estou de novo com meus pais", exclama o jovem de 20 anos.
Sua mãe, Um Manaf, apenas consegue conter sua alegria ao abraçar seus dois filhos, Manaf e Mohamad.
"Os dois voltaram, graças a Deus Todo-Poderoso", vocifera a mulher de 50 anos.
Abraçando Manaf com força, não para de repetir: "meu amor, minha vida", antes de beijar e agarrar seu rosto entre suas mãos.
A irmã pequena se joga sobre Manaf, que a levanta, rindo. O pai, Haitham, com os olhos marejados, não para de repetir com orgulho: "são heróis".
"Havia perdido toda a esperança de voltar a vê-los, pensava que eles (os extremistas) iam matá-los, pois não têm humanidade", acrescenta.
Na entrada da cidade, as vitrines das lojas ainda têm os escritos feitos pelo EI: "o Estado (Islâmico) perdurará" e "o califa Abu Bakr al-Baghdadi", chefe da organização extremista.
Em contrapartida, nas paredes em frente surgiram outras frases depois da expulsão dos extremistas: "ou Assad ou ninguém", em alusão ao presidente sírio, Bashar al-Assad.
Quando os extremistas chegaram Al Qariatain "ouvimos intensos disparos. Nos entrincheiramos em casa", conta Manaf. Do alto dos minaretes, o EI pedia a todos os habitantes que ficassem em casa.
Mas depois os extremistas começaram a invadir as casas e forçar os jovens a sair.
"Acreditávamos que a morte nos esperava", lembra Manaf. Na segunda-feira passada (23), após ter sido conduzido pelo EI a um local desconhecido, conseguiu fugir com outros jovens e alcançar a barreira do Exército mais próxima.
Mas enquanto as famílias confraternizavam a volta de seus filhos, outros choravam por seus parentes assassinados pelo EI.
"Os extremistas entraram no abrigo onde eu estava com outros moradores do meu bairro", recorda Mohamad Jeir, de 45 anos.
Dois dias antes de o Exército entrar na cidade, "pegaram meu irmão e outros três jovens", afirma este homem, suspirando.
Esperou ter notícias de seu irmão durante horas e relembra, espantado, ter visto pela janela os extremistas matando a 11 pessoas a tiros. "Disparavam contra os pedestres na praça".
Quando o EI foi expulso, correu até um local onde sabia que os extremistas haviam transformado em prisão.
"Perto da entrada vi meu irmão, jazendo em um mar de sangue, com uma bala na cabeça", conta Mohamad, que afirma ter visto outros corpos. "Quero me armar para vingar o meu irmão".