A ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia (Franco Origlia/Getty Images)
EFE
Publicado em 13 de fevereiro de 2017 às 14h09.
Lima - Uma testemunha da Procuradoria acusou a ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia de ter intervindo para favorecer a empresa brasileira Odebrecht a ganhar a licitação para a construção do Gasoduto Sul Peruano (GSP) em 2014, de acordo com publicações da imprensa do país nesta segunda-feira.
A testemunha declarou à Procuradoria que Heredia se coordenava diretamente com o ex-diretor da Odebrecht no Peru, Jorge Barata, desde 2013 para modificar as bases da licitação a fim de que a companhia ganhasse o processo, segundo informou a publicação "Peru21".
Barata já prestou depoimento à Procuradoria em sua qualidade de colaborador, dizendo que pagou uma propina de US$ 20 milhões ao ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006) pela construção da estrada Interoceânica, e a empresa reconheceu que pagou subornos por US$ 29 milhões entre 2005 e 2014 no Peru.
O informante afirmou que "durante 2013, começaram a realizar os estudos do projeto e perfilar as bases da licitação, que desde um começo estavam dirigidas a favor da empresa Odebrecht, sendo Jorge Barata quem coordenava o assunto diretamente com Nadine Heredia".
Em 2014, Heredia interveio para nomear como presidente do Comitê do Projeto Gasoduto Sul Peruano um ex-assessor da Odebrecht, Edgar Ramírez, e também propôs como ministro da Energia e Minas Eleodoro Mayorga, outro ex-assessor da companhia brasileira.
A ex-primeira-dama também participou desde 2012 no redesenho do projeto, que buscava ampliar a capacidade do duto para aumentar o custo do projeto, apesar de ser conhecido que "não havia gás suficiente na zona, ou seja, o projeto não resultaria viável", indicou a testemunha.
O depoimento deste informante foi fundamental na abertura, na semana passada, da investigação do procurador anticorrupção Reynaldo Abia contra Heredia e 11 ex-funcionários por supostamente favorecer a Odebrecht na licitação do Gasoduto Sul Peruano (GSP).
As investigações se dirigem também a esclarecer se a Odebrecht ou outra empresa particular forneceu dinheiro para a campanha eleitoral do ex-presidente Ollanta Humala no 2011, quando foi eleito para a presidência do Peru para o período 2011-2016.
Abia afirmou que, segundo suas pesquisas, todos os investigados tramaram para favorecer a empresa brasileira, por isso que se trataria de uma organização criminosa e os acusou de crime de colusão e negociação incompatível, de acordo ao jornal Correio.
O titular da Segunda Procuradoria Anticorrupção também citou em qualidade de testemunha o presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, e quer ampliar os depoimentos dos ex-mandatários Alan García (2006-2011) e Humala.
Barata reconheceu perante a Procuradoria peruana que se reuniu com todos os candidatos presidenciais peruanos durante suas campanhas eleitorais e o procurador Abia pretende conhecer se algum interveio a favor da Odebrecht para que vencesse a construção do Gasoduto em consórcio com a espanhola Enagás em 2014.
O consórcio formado por Enagás e Odebrecht venceu 30 de junho de 2014 a concessão do Gasoduto Sul Peruano (GSP) ao oferecer US$ 7,32 bilhões pelo custo total do serviço.
No entanto, no ano passado, a Odebrecht vendeu à peruana Graña y Montero um pacote de 20% das ações, das 75% que tinha no projeto, e encarregou à Enagás a gestão da concessão, após o escândalo de corrupção que levou à prisão vários de seus diretores no Brasil.
Tanto Heredia como Humala estão sendo investigados pela Procuradoria Anticorrupção por lavagem de dinheiro devido às supostas irregularidades no manejo de fundos do partido Nacionalista, que ambos aprofundaram.