Mubarak foi levado de ambulância até a porta do tribunal, onde confirmou sua presença com voz fraca (AFP)
Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2012 às 19h35.
Cairo - O ex-presidente egípcio Hosni Mubarak assistiu nesta segunda-feira em um tribunal do Cairo à retomada do seu julgamento, que foi adiado e prosseguirá no dia 5 de setembro a portas fechadas.
Apesar de um grande esquema de policiamento, manifestantes pró e contra Mubarak se enfrentaram com pedradas fora do tribunal, instalado na academia de polícia que já levou o nome do ex-presidente, deposto no dia 11 de fevereiro por uma rebelião popular sem precedentes.
O ex-presidente egípcio é o primeiro líder do Oriente Médio a comparecer diante da Justiça desde o início da "Primavera Árabe". Mubarak, de 83 anos, foi levado de helicóptero até a academia de polícia e conduzido depois em uma ambulância até a porta do tribunal.
O ex-presidente compareceu deitado sobre uma maca e permaneceu com frequência com os olhos fechados. Trocou poucas palavras com seus dois filhos, que se mantiveram ao seu lado e pareciam querer protegê-lo das câmeras, como ocorreu durante a primeira audiência, no dia 3 de agosto.
Mubarak confirmou sua presença com voz fraca.
O juiz adiou o processo para o dia 5 de setembro e disse que daqui para frente as audiências serão realizadas a portas fechadas, decidindo, assim, pôr fim à "transmissão televisionada das audiências para preservar o interesse geral".
Até este momento as duas audiências do julgamento foram divulgadas ao vivo pela televisão pública, despertando grande interesse do público.
O ex-presidente é acusado de ter ordenado disparos contra os manifestantes, que, a partir de 25 de janeiro, tomaram as ruas para pedir que deixasse o poder.
Também enfrenta acusações de corrupção por supostas vendas de gás egípcio a Israel a preços inferiores aos do mercado.
Cerca de 850 pessoas foram mortas durante a rebelião popular.
O juiz também decidiu que Mubarak e seu ex-ministro do Interior, Habib el Adli, serão julgados em um único processo judicial, como pediam os advogados dos familiares das vítimas.
Durante o início do julgamento, no dia 3 de agosto, Farid al-Dib, advogado de Mubarak, havia solicitado ao juiz a convocação de 1.600 testemunhas, incluindo o marechal Tantawi, ministro da Defesa de Mubarak durante 20 anos e atualmente líder do país.
Uma autoridade de alto escalão da segurança assegurou que Tantawi está disposto a se apresentar diante do tribunal se os advogados de defesa solicitarem.
Os filhos do ex-presidente, Gamal e Alaa, comparecem junto com Mubarak. Também são acusados por corrupção, assim como o empresário Hussein Salem, próximo a Mubarak e julgado à revelia.
A presença de Mubarak no banco dos réus, rodeado por grades, surpreendeu a opinião egípcia e o resto do mundo no início do mês quando o julgamento começou, em sua primeira aparição pública desde sua saída do poder.
Para a segunda audiência a academia de polícia, situada no subúrbio do Cairo, foi protegida por um importante aparato de segurança.
A polícia antimotins foi mobilizada massivamente ao redor do edifício, protegido também por veículos blindados do Exército. Segundo a televisão, mais de 5 mil policiais participaram da operação.
Mesmo assim, manifestantes pró e contra Mubarak se enfrentaram com pedras nas imediações do tribunal. Um jornalista da AFP observou ao menos cinco pessoas com ferimentos leves.
Dezenas de partidários do ex-presidente chegaram cedo pela manhã com cartazes com retratos de Mubarak. "Te amamos, presidente!", "Não à humilhação", gritavam.
Enquanto isso, uma multidão de opositores se reuniu aos gritos de "Justiça, justiça!", exibindo cordas, símbolo da forca, pena que pedem para o ex-presidente.
Mubarak está hospitalizado desde que foi internado por problemas cardíacos em abril.