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Ex-ministro francês é indiciado e afeta governo Hollande

Cahuzac se declarou "devastado pelo remorso", em um comunicado divulgado na internet, e pediu perdão ao presidente François Hollande

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 2 de abril de 2013 às 20h48.

O ex-ministro francês do Orçamento Jérôme Cahuzac foi indiciado nesta terça-feira por lavagem de dinheiro procedente de fraude fiscal e reconheceu que teve uma conta no exterior, o que provocou uma crise política que afeta o presidente François Hollande, que havia prometido um governo exemplar.

Jérôme Cahuzac, acusado de possuir uma conta no exterior, alegava inocência. Ele pediu demissão em 19 de março, depois que o Ministério Público anunciou a abertura de um procedimento judicial sobre o assunto, ainda mais explosivo porque o ex-ministro havia transformado a luta contra a fraude fiscal em uma prioridade.

Cahuzac se declarou "devastado pelo remorso", em um comunicado divulgado na internet, e pediu perdão ao presidente François Hollande, que no momento da demissão saudou a decisão de renunciar ao governo "para defender sua honra".

"Fui vítima de uma espiral de mentira", "estou devastado pelo remorso", escreveu Cahuzac.

Sua confissão abala a imagem da "República exemplar" reivindicada pelo socialista François Hollande ao ser eleito, há 10 meses.

O presidente reagiu imediatamente e disse que tomou nota "com grande severidade da confissão de Jérôme Cahuzac", além de ter condenado "uma falta moral imperdoável".

Funcionários ligados a Hollande explicaram que Cahuzac negou categoricamente, em várias ocasiões e inclusive "olhando nos olhos" do presidente, que tivesse uma conta bancária no exterior.

A presidência nega ter recebido informações do ministério do Interior ou das autoridades suíças sobre Cahuzac, tal como afirma a imprensa.


Da esquerda no poder à oposição de direita, as críticas foram intensas ao ex-ministro, que havia alegado inocência em declarações públicas e inclusive na Assembleia Nacional.

"Estou desconcertado, não tenho palavras", comentou o ministro da Recuperação Produtiva, Arnaud Montebourg.

"Me custa imaginar que Hollande e (o primeiro-ministro Jean-Marc) Ayrault não estivessem a par", declarou Christian Jacob, líder da bancada da União por um Movimento Popular (UMP, oposição de direita) na Assembleia Nacional.

"Cahuzac mentiu, mas desde quando o presidente sabe?", questionou a deputada da UMP Valérie Debord.

As críticas também vieram da esquerda radical, cujo líder Jean-Luc Mélenchon questionou: "¡Onde para a rede de mentira? Quem sabia e não disse nada?".

O Partido Comunista citou um "escândalo de Estado" e uma "bomba política".

"Esta mentira marca definitivamente o fim da esquerda moral e que dá lições", afirmou o presidente da UMP, Jean-François Copé.

"Hollande deve assumir suas responsabilidades ante esta mentira de Estado e dar explicações ele mesmo aos franceses", completou.

O centrista François Bayrou considerou que o escândalo não afeta apenas a esquerda no poder e disse temer "danos devastadores para o mundo político francês" em seu conjunto.

Em seu comunicado, Jérôme Cahuzac explicou que tinha "há quase 20 anos" uma conta bancária no exterior, dotada de 600.000 euros. O valor procede essencialmente "de sua atividade de cirurgião e de modo periférico de sua atividade de consultor", afirmou o advogado de defesa, Jean Veil, que destacou que a conta não era alimentada desde 2001.

A conta aberta na Suíça "foi transferida para Cingapura em 2009", segundo o advogado, que calculou o valor da lavagem em 30.000 euros.

Cahuzac, de 60 anos, é médico especializado em cirurgia estética.

A existência da conta no exterior foi revelada em dezembro pelo site Mediapart, que divulgou uma gravação de uma conversa telefônica na qual uma voz atribuída a Cahuzac citava a posse de uma conta no banco suíço UBS.

Na gravação, do fim de 2000 segundo o Mediapart, o homem declara: "Me f... ter uma conta aberta ali, o UBS não é necessariamente o mais oculto dos bancos".

A gravação ficou 12 anos com o advogado Michel Gonelle, que foi rival político de Jérôme Cahuzac no sudoeste da França.

Passível de cinco anos de prisão, a lavagem é o crime consistente em depositar, dissimular ou converter o produto de um crime.

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