O ex-ministro do Petróleo da Venezuela e ex-presidente da estatal PDVSA, Pedro Tellechea, chega para uma entrevista coletiva em um posto de gasolina em Caracas em 14 de junho de 2024 ( JUAN BARRETO/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 22 de outubro de 2024 às 07h46.
O ex-ministro venezuelano do Petróleo Pedro Tellechea foi detido acusado de ligações com uma "empresa controlada pelos serviços de inteligência" dos Estados Unidos, informou nesta segunda-feira o Ministério Público. Tellechea foi preso na madrugada de domingo, três dias após ser demitido do seu cargo de ministro da Indústria e Produção Nacional, assumido pelo empresário Alex Saab.
Segundo comunicado do Ministério Público, Tellechea foi detido junto com "seus colaboradores mais imediatos" por, entre outros motivos, "a entrega" do controle de sistema de transferência automatizada da Petróleos de Venezuela (PDVSA), "conhecido como o cérebro" da estatal, "para uma empresa controlada pelos serviços de inteligência dos EUA". O documento não menciona outros nomes.
— Há inúmeras conspirações simultâneas que estamos investigando, muitas delas ligadas a Tellechea: por petróleo e, a mais grave, por vazamento de informações para a CIA. Há pelo menos meia dúzia de detidos — afirmaram fontes oficiais citadas pelo jornal El País.
A prisão de Tellechea, uma figura pública e considerada discreta e leal ao chavismo, representa o maior golpe interno para Nicolás Maduro desde as eleições presidenciais de 28 de julho, nas quais o presidente foi proclamado vencedor, resultado contestado pela oposição e a comunidade internacional.
O procurador-geral da República, Tarek William Saab, disse em comunicado que a suposta entrega "violou todos os mecanismos legais e a nossa soberania nacional". Afirma ainda que a operação foi realizada com a total cooperação de Maduro.
Tellechea, um coronel de 48 anos, foi ministro do Petróleo e presidente da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) até agosto deste ano após ser nomeado em janeiro de 2023 — um cargo de imenso poder, uma vez que o petróleo bruto é uma fonte importante de financiamento no país. Assumiu a pasta do Petróleo dois meses depois.
Fez parte da onda de soldados que, com a chegada de Maduro ao poder, colonizaram a estatal. Entre 2020 e janeiro de 2023 atuou na indústria petroquímica, até ser nomeado presidente da PDVSA.
O oficial militar veio com a promessa de "limpar" o setor após um escândalo de corrupção ter culminado com o seu antecessor, Tareck El Aissami, encarcerado. Segundo estimativas, El Aissami custou ao país caribenho cerca de US$ 17 bilhões (R$ 96,3 reais). Maduro referiu-se diversas vezes à "traição" de Tareck, que esteve entre os líderes chavistas mais relevantes do seu tempo.
— Abri as portas da minha casa para ele e foi assim que ele pagou — repetiu o mandatário em reuniões privadas em referência a El Aissami, segundo El País.
Aliás, El Aissami não foi um caso isolado. Rafael Ramírez, ministro do Petróleo entre 2002 e 2014 e ex-presidente da PDVSA de 2004 a 2014, está foragido em Itália, enquanto Eulogio del Pino e Nelson Martínez, que também ocupavam estes dois cargos, foram presos. Martínez morreu na prisão. De acordo com o El País, o próprio Tellechea foi acusado de desvio.
O presidente venezuelano empreendeu uma profunda remodelação do seu governo e dos principais poderes do Estado. "Ao seu lado, só os mais leais", resumem vários líderes chavistas.
O militar sobreviveu ao expurgo após o caso PDVSA Cripto, em que mais de 70 funcionários foram presos, incluindo o próprio El Aissami e vários de seus colaboradores, e, segundo o governo, mais de US$ 23 bilhões foram desperdiçados com a comercialização de petróleo bruto venezuelano no opaco mercado negro ao qual a Venezuela recorreu em meio a sanções.
Durante o curto período em que esteve à frente da estatal, Tellechea ajudou no alívio das sanções petrolíferas, assinou acordos com empresas estrangeiras, aumentou a produção em cerca de 200 mil barris por dia para atingir os atuais 900 mil, muito longe da meta de 1,7 milhões que tinha prometido para o final deste ano.
— Ele já fortaleceu a PDVSA e temos de recuperar o parque industrial — disse Maduro, parabenizando-o ao nomeá-lo ministro da Indústria após sua saída do Ministério do Petróleo, em agosto.
Naquele mês, em meio às mudanças que Maduro fez após as eleições, Tellechea foi afastado da estatal e substituído por Héctor Obregón, do círculo próximo dos irmãos Rodríguez (a vice-presidente Delcy e o presidente da Assembleia Nacional, Jorge) e que já fazia parte do conselho de administração da empresa. Ele foi designado para o Ministério das Indústrias e Produção Nacional, do qual foi afastado na sexta.
Em seu lugar, Maduro nomeou Saab — acusado de ser um "testa de ferro" do presidente de esquerda e libertado pelos EUA, em dezembro passado, em uma troca de prisioneiros — como ministro da Indústria. A demissão de Tellechea causou estranhamento, já que ele estava no cargo há apenas dois meses. Nas redes à época, o militar disse que renunciou devido a "problemas de saúde" que exigem sua "atenção imediata".