Gustavo Petro: ele disputa o primeiro lugar com dois candidatos defensores dos negócios (Nicolo Filippo Rosso/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 12 de setembro de 2017 às 17h28.
Bogotá - Na Colômbia, as eleições presidenciais costumavam girar em torno de defender o país de esquerdistas, não de levá-los às portas do poder.
A votação do ano que vem, a primeira desde o final de cinco décadas de guerra civil, pode ser diferente. As pesquisas de opinião recentes são encabeçadas por Gustavo Petro, ex-prefeito da capital, Bogotá, e ex-guerrilheiro que promete cobrar impostos aos proprietários e investidores em ações ricos. Ele disputa o primeiro lugar com dois candidatos defensores dos negócios, e outros esquerdistas também estão entre os favoritos iniciais.
A Colômbia é o único grande país da América do Sul que nunca teve um governo de esquerda. E, como está se tornando habitual que imigrantes de seu vizinho socialista, a Venezuela, peçam esmola nos ônibus de Bogotá, este pareceria um momento estranho para pensar em abandonar esse título.
O problema para os políticos do establishment é que, com o fim da longa guerra da Colômbia, as prioridades dos eleitores mudaram. A segurança era uma das principais preocupações quando as guerrilhas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) fechavam estradas nos arredores de cidades importantes e sequestravam milhares de pessoas por ano.
Agora que os rebeldes foram desarmados com sucesso, os colombianos se concentram mais em questões como o desemprego e a saúde. A economia exportadora de petróleo está em dificuldades desde 2014, quando os preços do petróleo despencaram, e o governo recorreu à austeridade para fortalecer as finanças. O banco central projeta um crescimento de 1,6 por cento neste ano, a taxa mais baixa desde a crise financeira global.
Petro passou para a política convencional há muito tempo. Ele abandonou o M19, uma organização de guerrilha urbana, há cerca de três décadas. Em entrevista em seu escritório, em Bogotá, ele se esforça para se distanciar dos modos esbanjadores que contribuíram para o desastre que aflige a vizinha Venezuela.
Mais do que a maioria dos países da região, a Colômbia tem separado a política e a elaboração da estratégia econômica. Petro diz que apoia os pilares desse sistema: a independência do banco central, as metas para a inflação e uma “norma fiscal” que impõe um limite à quantidade de dinheiro que o governo pode tomar emprestado.
As pesquisas de opinião da Colômbia não são uma orientação fiável, especialmente nesta etapa da campanha, em que o campo dos candidatos ainda não está claro. Petro tem desvantagens que dificultarão que ele chegue ao palácio presidencial, disse Jorge Restrepo, diretor do centro de pesquisa política CERAC. Ele não conta com o apoio de um partido consolidado nem com a máquina eleitoral necessária para levar seus simpatizantes às urnas, disse Restrepo.
Contudo, se Petro continuar na disputa perto da primeira rodada de votação, que acontecerá em maio, os planos dele poderiam começar a preocupar os investidores.