A ex-presidenta Cristina Kirchner foi citada a depor no dia 13 de agosto (Agustin Marcarian/Reuters)
AFP
Publicado em 2 de agosto de 2018 às 09h36.
A Argentina foi sacudida por um novo escândalo de corrupção, com a justiça decretando a prisão de uma dúzia de ex-funcionários do governo de Cristina Kirchner e de empresários, entre eles um ligado ao presidente Maurício Macri.
Entre os detidos estão Roberto Baratta, ex-secretário de coordenação do ex-ministro do Planejamento Federal, Julio De Vido, preso por suposta corrupção, os empresários Gerardo Ferreyra, da Electroingeniería, Javier Sánchez Caballero, da construtora Iecsa, e Rafael Llorens, ex-secretário legal do Planejamento Federal.
A Iecsa pertence a Ángelo Calcaterra, primo do presidente Mauricio Macri.
Segundo a promotoria, o esquema de corrupção movimentou "cerca de 160 milhões de dólares em dinheiro" provenientes de subornos pagos por empresários em troca de obras públicas.
A ex-presidenta argentina Cristina Kirchner foi citada a depor - no dia 13 de agosto - como parte do mesmo processo.
A atual senadora deverá ser ouvida pelo juiz federal Claudio Bonadio, segundo fontes judiciais.
"A hipótese que está sendo investigada é a da associação ilícita", declarou o promotor do caso, Carlos Stornelli, à Radio La Red.
Não foi esclarecido se Kirchner foi convocada no caráter de testemunha ou de indiciada. O promotor Stornelli indicou que o caso está sob sigilo.
As prisões ocorreram após depoimento da ex-esposa do motorista de Baratta, também preso, relatando supostas transferências de sacolas com dinheiro para o ministério.
O juiz citou a ex-presidente porque sua casa na capital é apontada como o destino de uma das supostas entregas, conforme as anotações fornecidas ao juiz detalhando os movimentos do dinheiro.
Presume-se que essas anotações pertençam a Oscar Centeno, motorista de Baratta.
A investigação começou há oito meses, quando um informante entregou uma caixa com seis cadernos e dois blocos, todos manuscritos, ao jornalista Diego Cabot do jornal La Nación.
"Encontrei um relato detalhado e absolutamente fidedigno (...) de dez anos de movimentos" de propina envolvendo "o ministério do Planejamento", contou Cabot ao canal La Nación+.
Os cadernos revelavam todas as entregas de dinheiro feitas por Baratta de automóvel entre 2005 e 2015, onde aparece o endereço da ex-presidente.
Kirchner, cujo mandato de senadora não permite que seja detida, foi nesta quarta-feira ao Senado, mas não fez declarações à imprensa.
O juiz Bonadio, que Kirchner tentou destituir durante seu governo por mau desempenho, já abriu um processo contra a ex-presidente em dezembro passado, por suposto encobrimento dos iranianos acusados do atentado contra a associação judaica AMIA, que deixou 85 mortos em 1994.
Também foram chamados para depor o ex-chefe de gabinete Juan Manuel Abal Medina, o ex-secretário-geral da Presidência e ex-diretor da Agência Federal de Inteligência (AFI) Oscar Parrilli, e outros ex-funcionários que aparecem nas anotações.