John Bolton e Donald Trump: ex-conselheiro da Casa Branca se tornou peça chave nas investigações sobre o presidente norte-americano (Leah Millis/File Photo/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de outubro de 2019 às 20h34.
Última atualização em 15 de outubro de 2019 às 20h51.
Washington — O inquérito que pode levar ao impeachment do presidente Donald Trump aberto pela Câmara voltou suas atenções para o ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton. O ex-conselheiro da Casa Branca converteu-se em uma peça determinante nas investigações depois que uma ex-assessora sua afirmou, em depoimento, que ele estava enfurecido com a atuação nas sombras do advogado de Trump Rudolph Giuliani para obter na Ucrânia informações danosas a adversários políticos do presidente.
A ex-conselheira sobre Rússia e Europa do Conselho de Segurança Nacional Fiona Hill afirmou aos investigadores da Câmara na segunda-feira, 14, que Bolton considerava Giuliani uma força motriz por trás dos esforços para se obter as informações na Ucrânia e o comparou a uma "granada de mão" pronta para explodir.
Segundo ela, Bolton fazia questão de deixar claro que não estava envolvido e se opunha fortemente ao que ele descrevia como um "tráfico de drogas" entre o chefe de gabinete interino, Mick Mulvaney, e o embaixador americano para a União Europeia, Gordon Sondland, envolvidos na trama de Giuliani ligada à Ucrânia.
Hill afirmou que Bolton estava tão preocupado com a estratégia dos três que a enviou para relatar suas impressões aos advogados da Casa Branca. Segundo o jornal Washington Post, alguns deputados e assessores estão cogitando a possibilidade de pedir o testemunho de Bolton.
Trump demitiu Bolton no mês passado após uma tensa relação entre eles na qual os dois homens viviam em divergência sobre a abordagem política para a Coreia do Norte, Irã e Afeganistão, entre outras questões. Segundo o Post, Bolton não quis comentar o depoimento, e informou que se pronunciará "no tempo devido".
O testemunho de Hill revelou como a estratégia de Giuliani para extrair informações danosas sobre democratas na Ucrânia causava divisões dentro da Casa Branca. Segundo a ex-conselheira, Giuliani e seus aliados contornavam o processo habitual de segurança Nacional e diplomático para executar seus próprios esforços de política externa, deixando os assessores oficiais do presidente conscientes sobre eles, mas impotentes para impedi-los.
Hill foi a primeira ex-funcionária da Casa Branca a testemunhar no inquérito da Câmara dos Deputados e, segundo testemunhas, seu relato forneceu uma importante percepção das manobras conduzidas às sombras dentro da presidência Trump.
Ela deixou seu posto um pouco antes do telefonema que o presidente deu para o líder da Ucrânia, Volodmir Zelenski, em 25 de julho, para pressioná-lo a investigar democratas. Segundo o New York Times, suas declarações ajudaram os investigadores a entenderem os meses da campanha de pressão anteriores ao telefonema.
Segundo análise do site Politico, o testemunho da ex-conselheira demonstra que a tentativa de Trump de criar um bloqueio ao impeachment está falhando. Nesta terça-feira, 15, um funcionário sênior do Departamento de Estado George Kent compareceu ao Capitólio para testemunhar, também a portas fechadas, sobre o que sabe da campanha em Kiev apesar dos advogados da administração Trump terem tentado impedi-lo de colaborar com os democratas. Intimado pela Comissão de Inteligência da Câmara, o subsecretário assistente de Estado para Assuntos de Europa e Ásia compareceu ao Capitólio.
Giuliani, por outro lado, desafiou hoje aos pedidos de colaboração dos democratas. Ele notificou aos deputados que não atenderá à intimação para entregar documentos pertinentes à investigação. Em uma carta por meio de seu advogado Jon Sale, ele afirma que a investigação é "indevidamente onerosa e busca documentos além do escopo de uma investigação legítima". Não está claro como os democratas responderão à recusa de Giuliani.