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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
São Paulo - O Brasil será o local onde a indústria de petróleo global vai desenvolver seu próximo patamar tecnológico, que depois será aplicado em outras regiões do mundo.
Praticamente todas as grandes empresas do setor, tanto ligadas diretamente à exploração e produção como as fornecedoras de equipamentos e serviços, estarão em pouco tempo estabelecidas no país, participando da criação do novo padrão técnico para explorações em águas ultraprofundas, disse Pedro Cardoso, sócio da consultoria Bain & Company, em entrevista durante o Reuters Latin American Investment Summit, nesta quinta-feira.
"O Brasil hoje é o foco do mundo do petróleo. Se uma empresa quiser estar em um lugar para desenvolver tecnologia para extrair petróleo em águas ultraprofundas, tem que vir para o Brasil. Seria miopia não considerar isso", afirmou Cardoso.
A Bain & Company fornece consultoria para alta direção de grandes corporações em áreas como gestão de investimentos, entrada em novos mercados, formação de cadeia de fornecedores locais, fusões e aquisições.
Cardoso, especialista no setor de energia, diz que a empresa tem trabalhado para diversas companhias estrangeiras do setor que avaliam formas de atuar na área de petróleo e gás no Brasil.
O consultor afirmou não poder citar quem são seus clientes, mas garantiu que a participação na nova etapa da exploração de petróleo no Brasil será bastante abrangente.
"Pense nas grandes empresas da área. Todas estão vendo como podem participar".
A Petrobras encontrou nos últimos anos grandes reservas de petróleo ao longo da costa brasileira, na camada pré-sal. Estimativas de analistas apontam para dezenas de bilhões de barris de petróleo e há a percepção que outras regiões do globo com características parecidas, como a costa da África, também possam conter grandes acumulações de petróleo no pré-sal.
Como a produção a partir de reservatórios tão profundos como o de Tupi, onde o petróleo está sete quilômetros abaixo do nível do mar, é pioneira, as tecnologias que serão desenvolvidas no Brasil nos próximos anos servirão de base para futuras explorações em outros lugares.
"O que se desenvolver aqui será aplicado no Golfo, na África", disse.
Exemplo norueguês
Cardoso traçou similaridades entre o caso brasileiro e o da Noruega, quando iniciou a exploração das reservas do Mar do Norte, evento que mudou o setor por completo.
"Países com petróleo existem muitos no mundo, mas as condições que existem no Brasil são, de certa forma, as mesmas que existiam na Noruega há 30 anos, quando se descobriu o Mar do Norte em um lugar que era desenvolvido, mas que era um país que exportava produtos básicos, pesqueiros, florestal", afirmou.
"Hoje a Noruega exporta mais serviços de petróleo do que petróleo. Poucos países conseguiram isso. As condições estão aqui, é importante que o governo articule as coisas de forma a permitir que isso aconteça", acrescentou.
As condições que Cardoso cita são o desafio tecnológico, a necessidade de ampliar a capacidade global de produção de equipamentos e a ampla demanda projetada no Brasil, que permitirá que empresas tenham escala para avançar com desenvolvimento de produtos e tecnologias.
Para ele, as exigências do governo com relação a conteúdo nacional mínimo nos equipamentos serão benéficas para desenvolver o setor, mas há a necessidade de monitorar para que elas não se tornem um gargalo para a exploração das reservas.
Problemas
Mas nem tudo é positivo no cenário futuro da área de petróleo no Brasil. "Existe claramente risco de inflação e de doença holandesa", afirmou Cardoso, referindo-se ao termo que trata dos efeitos maléficos da exploração em demasia de recursos naturais por um país, em detrimento de outros setores da economia.
"O Brasil será uma economia altamente petroleira. Se hoje o petróleo responde por cerca de 8 por cento do PIB brasileiro, daqui a 10 anos poderá representar 25 por cento", disse o especialista da Bain & Company.
O investimento dos recursos do petróleo em outros setores, segundo ele, é uma maneira de tentar evitar esse problema, inclusive utilizando fundo soberano para aplicar no exterior o excesso de dólares que pode vir com a exploração do petróleo.
Além do petróleo, Cardoso ressaltou o papel do etanol no futuro da área de energia e química no Brasil. Segundo ele, casos como das uniões Shell-Cosan e Petrobras-Tereos deverão se repetir.
"O preço do álcool é muito menor hoje do que há cinco anos, e é cada vez mais barato transformar açúcar em etanol. O que ocorre hoje é o que se chama de curva de experiência. Se o petróleo continuar subindo, talvez o álcool se torne uma matéria-prima viável para químicos", afirmou.