A situação no Japão levou nos últimos dias os opositores da energia nuclear na Europa a exigir uma reavaliação da política energética do continente (Kirill Fedchenko/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 15 de março de 2011 às 19h54.
Bruxelas - Os Estados europeus decidiram nesta terça-feira testar a segurança de suas centrais nucleares, para tentar acalmar a opinião pública, preocupada com o que um comissário classificou de "apocalipse" no Japão, e que já levou alguns países, como a Alemanha, a fechar reatores.
Durante uma reunião de crise nesta terça-feira em Bruxelas, autoridades governamentais, especialistas nucleares e empresários do setor chegaram a um acordo para submeter as centrais europeias a "testes de resistência", anunciou o comissário europeu de Energia, Günther Oettinger.
"Trata-se de reavaliar os riscos de inundações, de tsunamis, de ataques terroristas, de tremores de terra, de cortes de energia", explicou, indicando que a Comissão fará "nas próximas semanas" propostas sobre as modalidades desses testes.
A França, que possui o maior parque nuclear civil na Europa, com 58 dos 153 reatores da UE, prometeu testar "todas as (suas) centrais, uma a uma".
No Japão, "fala-se de apocalipse e acho que a palavra é particularmente bem apropriada", declarou Oettinger. "Praticamente tudo está fora de controle" e "não descarto o pior nas próximas horas e nos próximos dias".
Depois do forte terremoto e do tsunami de sexta-feira, acidentes graves são registrados nos diferentes reatores da central japonesa de Fukushima 1, suscitando temores de uma contaminação radioativa no arquipélago nipônico.
O presidente da Autoridade Francesa de Segurança Nuclear (ASN), André-Claude Lacoste, já avaliou o acidente no nível de gravidade 6 em uma escala internacional de eventos nucleares e radiológicos, que chega apenas a 7.
A situação no Japão levou nos últimos dias os opositores da energia nuclear na Europa a exigir uma reavaliação da política energética do continente.
Os Verdes europeus pediram nesta terça-feira que seja efetuado "imediatamente (...) o desmantelamento coordenado e progressivo das centrais nucleares europeias".
Em países como a França e Espanha, organizações locais pediram o fechamento de todas as centrais mais antigas e manifestações foram organizadas ou anunciadas em diversas cidades.
Frente à preocupação da opinião pública alemã, a chanceler Angela Merkel anunciou a suspensão por três meses do funcionamento dos sete reatores mais antigos do país. Ela também suspendeu, pela mesma duração, a extensão do tempo de vida de todos os reatores.
A Suíça suspendeu seus projetos de reforma de centrais nucleares.
Mas a maior parte dos países europeus tenta acalmar a situação.
A Polônia, que se prepara para construir sua primeira central, indicou nesta terça-feira que não pretende colocar em questão seu programa após os eventos no Japão.
A Bulgária não deve antecipar o fechamento de seus dois reatores, previsto respectivamente para 2017 e 2019, e mantém seu plano de construir uma nova central, reconhecendo que exigirá "garantias suplementares de segurança".
Roma, que havia abandonado a energia nuclear após o acidente Chernobyl em 1986, mantém seu objetivo de retomá-la, mesmo que o referendo previsto para 12 de junho para aprovar essa decisão esteja longe de ser ganho.
"Teremos que tirar lições, e faremos isso", mas "com base em fatos reais", ressaltou Bruxelas o ministro sueco do Meio Ambiente, Andreas Carlgran.
Para ele, é preciso conhecer as consequências exatas do Japão, pois "temos que analisar o que tem verdadeiramente pertinência para a Europa".