Coronavírus: a COVID-19 já infectou mais de 1,2 milhão de pessoas e matou mais de 70.000, sendo mais de 50.000 na Europa (Fabrizio Villa/Getty Images)
AFP
Publicado em 6 de abril de 2020 às 11h54.
Última atualização em 6 de abril de 2020 às 15h46.
A Espanha voltou a dar sinais de progresso nesta segunda-feira (6) em sua batalha contra o coronavírus, que, no entanto, ameaça uma propagação ainda mais devastadora esta semana nos Estados Unidos e em outros países como o Japão, e que levou ao hospital o primeiro-ministro britânico Boris Johnson.
Com quase metade da Humanidade confinada em suas casas, a COVID-19 já infectou mais de 1,2 milhão de pessoas em 190 países e matou mais de 70.000, sendo mais de 50.000 na Europa, segundo um balanço da AFP.
Apesar dos números chocantes, há boas notícias na Europa: Itália, Espanha e França registram uma redução do número diário de mortos.
A Espanha, segundo país do mundo mais afetado pela pandemia depois da Itália, anunciou nesta segunda-feira 637 mortos, o quarto dia consecutivo de queda e o menor número em 13 dias, o que deixa o total de vítimas fatais em 13.055, entre as 135.032 pessoas contaminadas.
"A pressão está diminuindo", disse a médica María José Sierra, do Centro Espanhol de Emergências Sanitárias, ao destacar que que "há uma certa queda" no número de casos hospitalizados e de pessoas internadas nas UTIs.
A Itália, com 15.877 mortes e quase 129.000 contágios, também registra um certo alívio. O número de óbitos no domingo foi de 525, o menor balanço diário desde 19 de março.
"A curva começou sua queda e o número de mortes começou a cair", disse Silvio Brusaferro, alto funcionário do ministério da Saúde, para quem a próxima fase pode ser uma flexibilização "gradual" do rígido confinamento aplicado no país há um mês.
Na França, o balanço diário foi de 357 mortes no domingo, o menor número em uma semana no país que supera 8.000 vítimas fatais.
Estimuladas pelas notícias, as Bolsas europeias iniciaram a semana com altas de entre 2,5% e 4%. Tóquio fechou a segunda-feira com um avanço de 4,2%.
Em outros países, porém, a epidemia segue em propagação. No Japão, que registra 3.650 casos e 73 mortes, o primeiro-ministro Shinzo Abe propôs nesta segunda-feira declarar estado de emergência após a aceleração do vírus, principalmente em Tóquio.
"Esperamos declarar o estado de emergência a partir de amanhã (terça-feira, 7) depois de ouvir a opinião do painel de especialistas", disse Abe à imprensa, antes de informar que o governo deve apresentar um pacote de 108 trilhões de ienes para auxiliar a terceira maior economia do planeta.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, de 55 anos, foi internado em um hospital no domingo à noite para fazer exames. Ele foi diagnosticado há 10 dias com o coronavírus, mas continua no comando do governo, afirmou à BBC Robert Jenrick, ministro da Habitação e Comunidades.
No domingo, em sua quarta mensagem à nação em 68 anos de reinado, a rainha Elizabeth II pediu aos britânicos que resistam unidos à pandemia, que já matou quase 5.000 pessoas no país.
Enquanto a curva começa a ser achatada na Europa, os Estados Unidos registram uma expansão vertiginosa da pandemia, com quase 10.000 mortos e o recorde de 377.000 contagiados.
"Esta vai ser a semana mais dura e triste na vida da maioria dos americanos, sinceramente (...) Este vai ser o nosso momento Pearl Harbor, nosso momento 11 de setembro", afirmou o administrador da Saúde Pública nos Estados Unidos, Jerome Adams, ao canal Fox News.
Centenas de milhares de máscaras foram enviadas pelas autoridades americanas a Nova York, o estado mais afetado (4.159 mortos e quase 123.000 casos).
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adotou um tom mais sombrio a respeito da crise. No sábado, ele afirmou que o país estava entrando em uma semana "horrorosa", na qual acontecerão "muitas mortes".
Apesar dos números catastróficos da doença no país, Trump insiste que a maior economia do mundo não pode parar e deixa para que os estados anunciem as próprias medidas e ordens de confinamento, o que tem sido muito criticado.
Nas América Latina, com 32.000 casos confirmados e mais de 1.100 mortes, os próximos dias também deverão ser difíceis.
O Brasil é o pais mais afetado da região, com mais de 11.000 enfermos e 489 mortes.
"A incerteza será a marca de nossas vidas a partir de agora, serão duas semanas muito duras, muito difíceis. Estamos aumentando progressivamente os casos", afirmou Víctor Zamora, ministro da Saúde do Peru, país com 2.281 casos e 83 mortes.
A emergência de saúde, que provocou cenas terríveis no Equador, com dezenas de mortos em casas e nas calçadas em consequência do colapso dos serviços de saúde, e a crise econômica desatada pela pandemia também estão motivando o retorno à Venezuela de centenas de pessoas que migraram para a Colômbia.
Enquanto ao redor do mundo os países e centros de pesquisa lutam contra o tempo na busca de uma vacina ou um tratamento certeiro contra o novo coronavírus, o debate continua sobre o uso de máscaras para uma suspensão progressiva do confinamento, o que é cogitado por Estados como Itália ou Áustria.
Na América Latina ou na África, nos campos de refugiados ou em países em guerra o confinamento é quase impossível. "É melhor morrer desta doença ou de um tiro do que de fome ", disse Garcia Landu, motorista de mototáxi em Angola.
Como sinal da tristeza atual no mundo, o papa
Francisco, sozinho, deu início à Semana Santa, normalmente sinônimo de igrejas lotadas e procissões, mas que este ano acontece com metade da população mundial confinada.
Com boa parte do planeta em confinamento aumentou a violência doméstica, o que levou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, a classificar a situação como "horrorosa" e a pedir às autoridades que façam da proteção às mulheres "uma parte crucial dos planos" de resposta à COVID-19.
Apesar da crise, iniciativas de solidariedade foram registradas em vários países, sobretudo para ajudar aqueles que estão na linha de frente da luta contra a pandemia, os profissionais da área da saúde.
Restaurantes na França e Espanha, por exemplo, preparam refeições para médicos e enfermeiros.
O efeito devastador na economia mundial provocará, segundo os analistas, a disparada dos níveis de pobreza, a perda de milhões de empregos e a falência de milhares de empresas, apesar dos planos de estímulo anunciados por bancos centrais e organismos multilaterais.