Imigrantes: o navio teve a entrada negada nos portos de Malta e Itália e ficou 14 dias em águas internacionais entre Malta e a Sicília (Mark Zammit Cordina/Reuters)
AFP
Publicado em 24 de agosto de 2019 às 11h34.
UE — Depois de mais de dez dias à deriva, um acordo entre países da União Europeia permitiu o desembarque das 356 pessoas resgatadas pelo navio humanitário "Ocean Viking", um alívio para as ONGs SOS Mediterranée e Médicos Sem Fronteiras, que estavam ficando sem mantimentos para os migrantes.
A evacuação terminou às 17H30 GMT (14h30 em Brasília), que durou uma hora e meia. Os migrantes foram transportados à ilha de Malta através de lanchas do exército maltês.
Após esta operação, o Ocean Viking se dirigiu a Marselha, onde fica seu porto de origem.
Como o primeiro-ministro maltês, Joseph Muscat, tinha anunciado, a evacuação foi realizada em alto-mar, fora das águas territoriais maltesas.
Os migrantes resgatados desembarcaram em Malta por volta das 21H00 GMT (18H00 de Brasília), mas eles não podem ficar lá.
Muscat anunciou nesta sexta no Twitter o acordo de distribuição dos migrantes, com a participação de França, Alemanha, Irlanda, Luxemburgo, Portugal e Romênia.
"Ninguém ficará em Malta", acrescentou.
A França detalhou que vai receber 150 migrantes dos 356, depois de ter confirmado há três dias que acolherá outros 40 migrantes de outro navio humanitário, o Open Arms, bloqueado na Itália.
O ministro francês do Interior, Christophe Castaner, ressaltou que a França "demonstrou sua solidariedade" e agradeceu as autoridades maltesas, em especial seu homólogo, bem como o comissário europeu para as Migrações por sua mediação.
"Juntos, conseguimos forjar uma solução europeia", escreveu no Twitter.
"É uma boa notícia!, comemorou o coordenador das operações de resgate do Ocean Viking, Nicholas Romaniuk, em declarações à AFP.
"Bom trabalho! Bravo! Obrigado Malta! Obrigado SOS! Obrigado a todos!" foram algumas das reações das pessoas a bordo, que receberam a notícia do acordo europeu com aplausos e gritos de alegria.
Os socorristas tinham alertado nesta sexta-feira que o Ocean Viking estava ficando sem suprimentos. "Temos alimentos para quatro dias", disse um porta-voz da MSF a bordo.
O navio, de 69 metros (220 pés), teve a entrada negada nos portos de Malta e Itália e ficou 14 dias em águas internacionais entre Malta e a Sicília.
Este é um dos últimos casos de confronto entre as autoridades dos países europeus e as organizações humanitárias que resgatam migrantes no Mediterrâneo.
A maioria dos migrantes no Ocean Viking são homens adultos e cerca de dois terços vêm do Sudão, outros da Costa do Marfim, do Mali e do Senegal.
A bordo também há quatro mulheres e cinco crianças com entre um e seis anos. Quase 100 são menores de 18 anos.
Muitos foram resgatados em águas líbias e tinham sintomas de desidratação severa e, em alguns casos, estavam quase desnutridos, disse a equipe médica do navio.
Os migrantes relataram sua passagem pela Líbia, devastada pelo conflito, os abusos e maus-tratos, detenção arbitrária e até mesmo tortura.
Outra embarcação humanitária, o MareJonio, operado pelo grupo italiano de esquerda Mediterraneo, partiu na quinta-feira em direção à costa da Líbia.
A embarcação havia sido embargada pelo ministro do Interior de extrema-direita Matteo Salvini, líder da Liga, conhecido por sua política dura contra a migração e cujo governo caiu esta semana.
Em razão da crise, a política antimigração na Itália está atualmente em discussão e não se descarta que o fechamento dos portos para navios humanitários seja suspenso.