Crianças imigrantes ao lado de tendas em Tornillo, no Texas: política de imigração dos EUA é alvo de críticas de defensores dos direitos humanos (Mike Blake/Reuters)
AFP
Publicado em 26 de dezembro de 2018 às 15h07.
O serviço de vigilância das fronteiras dos Estados Unidos (CBP) anunciou que fará exames médicos em todas as crianças sob sua custódia, após a morte na véspera de Natal de um guatemalteco de oito anos, a segunda de uma criança em circunstâncias semelhantes.
A Guatemala confirmou, nesta quarta-feira, a identidade da vítima, Felipe Gómez, que viajou com seu pai Agustín, de 47 anos, do município indígena de Nentón, no departamento de Huehuetenango.
Felipe morreu na madrugada de terça-feira no Centro Médico regional de Gerald Champion em Alamogordo.
Ao dar entrada no hospital na segunda-feira, a equipe médica o diagnosticou com um resfriado comum. Ele recebeu alta na parte da tarde, com receitas de ibuprofeno e amoxicilina.
O quadro evoluiu, e Alonzo, que estava detido com seu pai, começou a sentir náuseas e a vomitar. O menino foi, então, levado de volta para o hospital, onde acabou falecendo.
O CBP informou na terça-feira que não havia estabelecido a causa da morte, mas que vai garantir "uma revisão independente e completa das circunstâncias".
Mais tarde, Kevin K. McAleenan, funcionário da agência, anunciou que o organismo "vai realizar exames médicos em todas as crianças sob os cuidados e custódia" e "revisará suas políticas, com especial atenção para o cuidado e custódia de crianças menores de 10 anos".
Ele acrescentou que o CBP considera a possibilidade de buscar apoio médico de outras agências e que está coordenando os esforços com os Centros para Controle de Doenças.
Segundo informações do Ministério das Relações Exteriores da Guatemala, o menino e seu pai foram detidos em 18 de dezembro após atravessarem a fronteira pela cidade de El Paso, no Texas.
No dia 23, foram transferidos para Alamogordo, no estado vizinho.
O governo guatemalteco pediu "uma investigação clara e respeitando o devido processo".
Em 8 de dezembro, a menina guatemalteca Jakelin Caal morreu no hospital de El Paso por causas ainda não reveladas. Ela havia sido detida com o pai, depois de atravessar ilegalmente a fronteira na noite de 6 de dezembro.
Segundo o jornal "The Washington Post", que citou o CBP, a menina faleceu de "desidratação e choque".
O caso de Jakelin gerou indignação nos Estados Unidos, e uma delegação do Congresso que visitou o local onde a menina foi detida denunciou "falhas sistêmicas" no processo e condições de higiene deploráveis.
Após a morte, o Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) anunciou uma investigação, cujos resultados serão apresentados ao Congresso e serão públicos.
"Estou arrasada ao saber da morte de um segundo menino em detenção", escreveu no Twitter a representante Nydia Velazquez.
"Devemos atribuir responsabilidades, encontrar respostas e acabar com a odiosa e perigosa política contra os migrantes deste governo", acrescentou.
"Outra criança morre sob a supervisão deste governo", tuitou o congressista democrata Marc Veasey, do Texas.
A American Civil Liberties Union (ACLU) descreveu os eventos como uma "tragédia assustadora".
"O CBP deve prestar contas e parar de prender crianças. O novo Congresso deve ter como uma de suas primeiras prioridades conduzir uma investigação sobre o Departamento de Segurança Interna (DHS)", apontou a ONG.
O presidente Donald Trump promove uma política de tolerância zero contra a imigração, no marco da qual 2.300 migrantes menores de idade foram separados de seus pais entre 5 de maio e 9 de junho. A medida gerou indignação dentro e fora do país.
Para conter a imigração, Trump quer construir um muro ao longo da fronteira com o México com um orçamento de 5 bilhões de dólares, esbarrando na oposição democrata.
A queda de braço resultou em uma paralisação parcial do governo federal há quatro dias. O presidente prometeu que não cederá até obter fundos para o muro.
Os migrantes que fogem da pobreza e da violência de gangues em Honduras, Guatemala e El Salvador arriscam suas vidas para chegar aos Estados Unidos através das passagens do Novo México, do Texas e do Arizona.