Separatistas armados pró-Rússia em local da queda de avião da Malaysia Airlines na Ucrânia (Maxim Zmeyev/Reuters)
Guilherme Dearo
Publicado em 18 de julho de 2014 às 11h23.
São Paulo - A queda do voo MH17 da Malaysia Airlines na Ucrânia, abatido por um míssil lançado por separatistas ucranianos pró-Rússia, foi um choque para o mundo todo.
Mas será que ninguém sabia que era perigoso voar sobre a Ucrânia, em regiões sem controle oficial do governo, nas mãos de milícias armadas com mísseis? Todos foram realmente surpreendidos?
Para os Estados Unidos, ao menos, não foi uma surpresa.
É o que mostra um documento de 23 de abril de 2014 da Federal Aviation Administration (FAA), a agência que controla a aviação nos EUA.
Na seção "Special Rules", a agência tinha incluído uma Notam ("Notice to Airmen" - Aviso aos aviadores) proibindo todos os pilotos, companhias aéreas e transportadoras sob seu controle de voarem em certas regiões da Ucrânia.
Após listar as pessoas que devem atentar à diretriz, o texto diz: "Todas as pessoas descritas no parágrafo A não devem operar voos na porção de Simferopol, Ucrânia, nos seguintes limites: 454500N 0345800E-460900N 0360000E-460000N 0370000E-452700N 0364100E-452242N 0364100E-451824N 0363524E-451442N 0363542E-451218N".
Tal coordenada se refere à latitude e longitude, definindo o espaço proibido. O texto avisava também que havia turbulências nas fronteiras ucranianas com a Rússia.
O acerto dos EUA: dizer que certas regiões da Ucrânia eram muito perigosas para voos. Síria, Iraque, Coreia do Norte e Iêmen já estavam nessa lista proibida. A inclusão da Ucrânia se mostrou uma análise sagaz.
O acerto "não tão acerto": a região proibida a partir de abril não incluiu justamente a área onde o Boeing 777 foi abatido ontem (17).
A área descrita cobre a Crimeia e áreas imediatamente ao norte. Essas regiões ficam mais ao sul do local onde o avião caiu.
A precisão só veio depois, em junho, em uma nota que avisava:
"Situação de potencial perigo no espaço aéreo ucraniano, particularmente na região da Crimeia, Mar Negro e Mar de Azov".
Alertava que poderia haver problemas de comunicação por conta do conflito entre ucranianos e russos:
"Potencial conflito no controle de espaço aéreo entre instruções ucranianas e russas. Pode gerar identificação incorreta de aeronaves".
O texto, então descrevia as coordenadas da nova área e dizia ser proibido voar ali. Dessa vez, incluía o local onde Boeing 777 foi abatido.