Mundo

EUA se tornam refúgio para ex-presidentes latinos foragidos

Já são quatro os ex-presidentes latino-americanos que estão nos EUA, viraram alvo de processos judiciais e tiveram suas extradições pedidas

EUA: ninguém pode acusar o governo dos EUA de ter negado os pedidos de extradição porque eles simplesmente não foram respondidos (f8grapher/Thinkstock)

EUA: ninguém pode acusar o governo dos EUA de ter negado os pedidos de extradição porque eles simplesmente não foram respondidos (f8grapher/Thinkstock)

E

EFE

Publicado em 29 de maio de 2017 às 16h35.

Bogotá - Os Estados Unidos têm se consolidado como o refúgio mais seguro para os ex-presidentes latino-americanos foragidos da Justiça de seus países, o que exibe a falta de reciprocidade neste aspecto entre os norte-americanos e os vizinhos.

Já são quatro os ex-presidentes latino-americanos que estão nos EUA, viraram alvo de processos judiciais e tiveram suas extradições pedidas: Gonzálo Sánchez de Lozada (Bolívia), Jamil Mahuad (Equador), Ricardo Martinelli (Panamá) e Alejandro Telo (Peru).

Os casos de Sánchez de Lozada e Mahuad, que estão refugiados nos EUA há 14 e 17 anos, respectivamente, sugerem um futuro promissor para Martinelli e Toledo, recentes beneficiários da hospitalidade de Washington, diferentemente dos milhões de latinos que tentam migrar para o país em busca do sonho americano.

Ninguém pode acusar o governo dos EUA de ter negado os pedidos de extradição porque eles simplesmente não foram respondidos, em suposto respeito à independência do Judiciário, que tem o poder de atender ou não as solicitações de países aliados.

No entanto, é longa a lista de notáveis personagens extraditados de países latino-americanos aos EUA. Outro fato inusitado é a diferença de velocidade para atender essas solicitações.

Sánchez de Lozada foi julgado à revelia e condenado na Bolívia por genocídio por causa da morte de mais de 100 pessoas durante a repressão militar contra a série de protestos contra seu governo entre 2002 e 2003.

Um dos homens mais ricos do país, o ex-presidente também é investigado por ter firmado contratos ilegais com multinacionais petrolíferas durante seu mandato.

O ex-presidente, que tinha governado a Bolívia entre 1993 e 1997, renunciou antes de completar um ano de seu segundo mandato, em meio a turbulência social que levou Evo Morales ao poder.

Mahuad, presidente do Equador de 1998 a 2000, foi derrubado por um golpe dentro de uma crise econômica sem precedentes no país.

Poucos meses depois, quando já estava nos EUA, a Corte Suprema de Justiça decretou sua ordem de prisão. Ele acabou acusado e condenado a 12 anos de prisão por ter prejudicado o Estado devido à ordem de confiscar de todos os depósitos bancários do país.

A Justiça dos EUA, porém, ainda não viu motivo para mandá-lo de volta ao Equador. Mahuad deixou como herança uma convulsão econômica, política e social que só foi resolvida após a eleição de Rafael Correa ao poder.

Já Martinelli presidiu o Panamá entre 2009 e 2014, um período que marcou a história do país pelo auge econômico, de um lado, e por um dos maiores escândalos de corrupção já registrados, de outro.

O próprio ex-presidente, seus familiares, colaboradores e parceiros mais próximos são os principais acusados no caso.

A Justiça do Panamá já acusou Martinelli em um caso de escutas telefônicas ilegais. O governo do país pediu a prisão do ex-presidente à Interpol e sua extradição aos EUA, onde ele vive e comanda negócios multimilionários desde 2015.

Martinelli também foi citado nas investigações sobre as milionárias propinas pagas pela construtora brasileira Odebrecht em vários países da América Latina, entre eles o Panamá.

Foi exatamente o caso Odebrecht que levou Toledo a fugir para os EUA. O ex-presidente do Peru teve ordem de prisão expedida pela Justiça, que o acusa de ter recebido US$ 20 milhões da construtora durante seu mandato entre 2001 e 2006.

Toledo disse estar sendo alvo de uma "perseguição política" e afirmou que está nos EUA para cumprir suas obrigações acadêmicas com a Universidade de Stanford, que, na verdade, contratou o ex-presidente como "pesquisador visitante" para que ele escreva um livro.

Os casos de Martinelli e Toledo são mais chamativos porque os próprios EUA se envolveram na investigação do caso Odebrecht.

O Departamento de Justiça firmou em dezembro um acordo para que a construtora brasileira esclarecesse o esquema de propina e pagasse uma multa para continuar operando em território americano.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaEstados Unidos (EUA)Políticos

Mais de Mundo

Agenda do G20 no Brasil entra na reta final; veja o que será debatido entre os líderes globais

Trump nomeia Chris Wright, executivo de petróleo, como secretário do Departamento de Energia

Milei se reunirá com Xi Jinping durante cúpula do G20

Lula encontra Guterres e defende continuidade do G20 Social