"A razão pela qual temos mais casos é porque fazemos mais testes", disse Trump (Stephanie Keith/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de junho de 2020 às 07h45.
Última atualização em 23 de junho de 2020 às 08h12.
Os Estados Unidos já são responsáveis por 20% de todos os novos casos de coronavírus no mundo, de acordo com levantamento do New York Times. As infecções continuam a crescer em Estados do Sul e da Costa Oeste americana. No domingo, Oklahoma e Missouri relataram recorde de contaminações. Ontem, a Flórida atingiu a marca de 100 mil casos de covid-19.
Alguns epidemiologistas, como Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, que comanda a força-tarefa da Casa Branca, garantem que a pandemia está longe do fim. "Não dá para falar em segunda onda, porque ainda estamos na primeira", disse Fauci.
Outros especialistas, como Michael Osterholm, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), já não falam mais na possibilidade de segunda onda de infecções e acreditam que a população terá de conviver com o vírus por um longo período. "Não acho que o vírus vai desacelerar. Não teremos uma, duas ou três ondas. O que veremos é um longo e complicado incêndio florestal de casos", disse Osterholm no domingo, ao programa Meet the Press, da NBC.
Mas a preocupação das autoridades sanitárias não parece ser a mesma do governo americano. Na semana passada, o presidente Donald Trump afirmou que a pandemia estava "desaparecendo". No sábado, em discurso em Tulsa, no Estado de Oklahoma, ele voltou a minimizar a gravidade da crise e fez piadas sobre o coronavírus, chamando-o de "kung-flu" (flu significa gripe, em inglês) - uma referência à China, onde teve início o surto de covid-19.
O presidente disse ainda que havia pedido que a testagem para o coronavírus fosse reduzida nos EUA. "Se você faz muitos testes, vai encontrar mais pessoas e mais casos. Então, eu disse ao meu pessoal: Diminuam os testes, por favor", afirmou Trump. Mais tarde, Kayleigh McEnany, porta-voz da Casa Branca, disse que o comentário foi uma "brincadeira".
Nesta segunda, 22, Trump voltou a tocar no assunto - e não parecia estar brincando. "Estamos fazendo um trabalho muito bom. A razão pela qual temos mais casos é porque fazemos mais testes" disse em entrevista ao repórter Joe St. George, da rede Scripps.
O argumento é o mesmo usado por Ron DeSantis, governador republicano da Flórida, um dos maiores aliados de Trump. Diante do aumento de casos no Estado, DeSantis culpou a quantidade de testes. Um dos últimos a decretar quarentena e um dos primeiros a retomar as atividades econômicas, DeSantis já responsabilizou também os trabalhadores rurais, a maioria imigrantes, por espalharem o vírus.
Ontem, porém, Michael Ryan, diretor executivo do programa de emergências da Organização Mundial de Saúde (OMS), disse que o aumento dos testes não está impulsionando o aumento de casos. "As hospitalizações também estão aumentando, as mortes estão crescendo e elas não têm relação com os testes."
Nova York libera salões e refeições ao ar livre
Duas semanas após dar início a uma diminuição das restrições de mobilidade por causa da pandemia do novo coronavírus, a cidade de Nova York reabriu ontem serviços não essenciais, como restaurantes, que poderão oferecer refeições do lado de fora, cabeleireiros, salões de beleza e imobiliárias.
Na cidade onde 22 mil pessoas morreram de covid-19, pelo menos 300 mil trabalhadores deverão voltar a circular por Manhattan, de acordo com as autoridades locais. O prefeito Bill de Blasio afirmou ontem que se trata de "um passo gigante". "É aqui que está a maior parte da nossa economia", disse.
Ainda assim, com os estabelecimentos limitando sua capacidade máxima para garantir o distanciamento social, a quantidade de pessoas que retornavam ao trabalho parecia ser uma fração daquela que em outro momento se acotovelava em metrôs lotados e em elevadores.
"É bom voltar ao normal, mesmo que não seja 100% normal", disse Kiki Boyzuick, de 45 anos, que trabalha em um escritório de recursos humanos no centro de Manhattan, o mais famoso distrito da cidade.
Ontem pela manhã, em um horário em que Midtown, onde fica o maior conglomerado de arranha-céus do município, ficava lotado de trabalhadores, as calçadas permaneciam vazias e os vagões do metrô ainda pareciam relativamente ociosos.
O prefeito disse que, embora algumas empresas relutem em reabrir seus escritórios no verão, ele as incentivará a trazer trabalhadores de volta ao serviço presencial no outono. "Quanto mais as pessoas veem que está funcionando, mais elas querem voltar", disse.
Hoje, Nova York registra menos de 100 novos casos de covid-19 por dia - no começo de abril, o número de infectados aumentava em mais de 6 mil notificações diárias.
Apesar da autorização de reabertura, a retomada da economia está em fase embrionária e são visíveis os sinais deixados pela pandemia nas ruas da cidade, com muitos imóveis trazendo faixas de locação. "Muitos dos nossos clientes que compram flores semanalmente foram embora", contou Sam Karalis, dona de uma floricultura no bairro elegante Upper East Side. "Eles têm casa nos Hamptons ou ao norte. Por que voltariam?", questionou. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)