Mundo

EUA precisam voltar a construir mais rapidamente, de casas a trens, diz livro Abundance

Obra de Ezra Klein e Derek Thompson avalia que governos deviam facilitar construção de casas em vez de dar dinheiro às pessoas, por exemplo

Casas em Miramar, Flórida, em região onde pode haver apenas uma moradia por terreno (Joe Raedle/AFP)

Casas em Miramar, Flórida, em região onde pode haver apenas uma moradia por terreno (Joe Raedle/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 25 de março de 2025 às 06h01.

Neste começo de século XXI, é fácil nos Estados Unidos comprar um celular de última geração, mas cada vez mais difícil adquirir uma casa. Essa situação mostra uma falha grave dos governos, que precisa ser revertida, aponta o livro "Abundance", dos jornalistas Ezra Klein e Derek Thompson. Para eles, se o Estado agir de outra forma, poderemos ir para uma era futura de abundância. 

"Para ter o futuro que queremos, precisamos construir e inventar mais daquilo que precisamos", escrevem os autores do livro, lançado na semana passada nos EUA. 

A saída, aponta o livro, é os governos pararem de tentar estimular a oferta, ao dar subsídios e crédito para quem comprar uma casa, em vez de facilitar a construção, especialmente retirando regulações que encarecem as coisas.

A obra começa otimista: lembra que mudanças radicais podem ser feitas em poucas décadas. Em 1870, por exemplo, a energia elétrica nas casas era algo raro, mas já estava disseminada pelas grandes cidades do mundo 30 anos depois. 

Para as próximas décadas, a energia solar e eólica, se seguir o ritmo atual de barateamento, gerará uma abundância de energia barata e limpa, capaz de revolucionar a vida humana em inúmeras frentes.

No entanto, o avanço dessa tecnologia nos Estados Unidos é refreada por uma falha estrutural do governo americano: mesmo com dinheiro e poder, construir nos Estados Unidos ficou cada vez mais difícil.

Moradia, um dos maiores debates dos EUA

O exemplo das casas é citado em detalhes. O livro aponta que, até os anos 1970, comprar uma moradia era algo relativamente acessível nos Estados Unidos.

O país havia construído centenas de milhares de casas após a Segunda Guerra e expandido seus subúrbios.

No entanto, a inflação daquela década gerou uma situação imprevista: como as casas eram financiadas a juros baixos e o valor delas estava subindo, se tornaram um investimento atrativo para não perder dinheiro. 

Ao mesmo tempo, a partir daquela década, foi ficando mais difícil construir casas, e a escassez delas aumentou ainda mais o valor do patrimônio de quem já tinha uma. Ganharam força grupos de moradores que lutam para barrar a construção de novos imóveis, um movimento apelidado de "Nimby" (não no meu quintal, em tradução livre). 

Para isso, eles defendem regras de zoneamento rígidas, como vetar a construção de mais de uma moradia por terreno, bem como a implantação de regras ambientais cada vez mais complexas, o que dificulta a construção e torna as novas casas ainda mais caras. 

Parte dessas regras partiu de boas intenções, como preservar áreas verdes e aumentar a inclusão.

Como exemplo, os autores citam uma lei da Califórnia que determina a contratação de pequenas empresas para construir habitação popular. Assim, companhias que conseguem ser mais eficientes e crescer são barradas de novos projetos se mudarem de categoria.

O excesso de regras trava também grandes projetos de infraestrutura, como a construção de ferrovias, redes elétricas e torres de captação de energia eólica.

Aqui, outro exemplo de peso: desde os anos 1980 a Califórnia debate a criação de um trem de alta velocidade entre Los Angeles e San Francisco. Mesmo com dinheiro liberado e tecnologia, a ideia não avança, pela dificuldade em desapropriar terras e cumprir com regulações. 

Nos últimos anos, os governos dos presidentes Joe Biden, democrata, e Donald Trump, republicano, buscaram formas diferentes de resolver a questão. Biden lançou pacotes bilionários de obras de infraestrutura, além de subsídios para a compra de casas.

Desde seu primeiro mandato, Trump defende encolher o governo e cortar regulações para estimular o crescimento do país. Outra tática de Trump, mais dura, é aplicar tarifas para forçar indústrias a voltarem a produzir nos Estados Unidos.

A demora das iniciativas dos dois em conseguir resultados de vulto mostra que um futuro de abundância depende, de fato, de mudanças de maior peso na forma de agir dos governos. 

Acompanhe tudo sobre:Estados Unidos (EUA)CasasLivros

Mais de Mundo

Palestino vencedor do Oscar é linchado por colonos e preso por militares de Israel, diz jornalista

Trump contempla exceções à imposição de tarifas recíprocas em abril

Governo dos EUA envia por engano planos de ataque ao Iêmen a jornalista; Trump diz 'desconhecer'

Lula se encontra com imperador do Japão — e será o único chefe de Estado a ser recebido neste ano